Crise diplomática com os EUA ecoa nas Forças Armadas

 

Brasil e Estados Unidos cancelam encontros entre integrantes das Forças Armadas de ambos os países por conta da crise política

William Waack
Brasil e Estados Unidos já cancelaram dois encontros de rotina entre integrantes das Forças Armadas de ambos os países. Um terceiro evento também foi adiado para uma próxima ocasião. Tratava-se de um exercício de treinamento conjunto que envolveria cerca de 800 soldados do Exército Brasileiro e aproximadamente 200 do Exército dos Estados Unidos, previsto para ocorrer no interior da região Nordeste.

Como os militares norte-americanos estariam armados, seria necessário um decreto presidencial autorizando a entrada dessas tropas armadas em território nacional. No atual contexto de crise na relação entre os dois países, um decreto com esse teor poderia ser interpretado como um gesto político delicado — algo que o governo brasileiro preferiu evitar. Por isso, optou-se por não correr esse risco.

Até o momento, as Forças Armadas dos dois países têm se esforçado para manter um perfil discreto e afastado de questões políticas. Ressalta-se que, até aqui — e é importante destacar esse “até aqui” —, o alinhamento explícito de lealdade de setores como os departamentos de Comércio, Tesouro e Estado dos Estados Unidos ao presidente Donald Trump não chegou ao Pentágono no que diz respeito ao Brasil.

Vale lembrar que o Brasil acaba de adquirir 12 helicópteros militares do tipo Black Hawk, destinados a missões de ataque e transporte. Três já foram pagos, e um deles está prestes a ser entregue.

O receio de interferência política não se limita ao comportamento do governo norte-americano. No Brasil, episódios recentes demonstram como ingerências políticas podem impactar decisões estratégicas: foi o caso da compra de armamento pesado de Israel, que acabou bloqueada por razões políticas.

A dependência dos sistemas de defesa brasileiros em relação a fornecedores dos Estados Unidos ou de países da Otan reforça a necessidade de cautela. É nesse contexto que se insere o adiamento das operações conjuntas.

Como comenta-se nos bastidores do governo brasileiro: “É melhor adiar a festa para que o convidado possa vir depois” — partindo do pressuposto de que ainda haverá convidados.

CNN BRASIL – Edição: Montedo.com

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