O tamanho da força bélica que Trump deslocou na direção da Venezuela

 

Sozinhos, os três destróieres americanos à porta de Caracas têm mais poder de fogo do que toda a Marinha e Forças Armadas da nação sul-americana
Amanda Péchy
Três destróieres americanos da classe Arleigh Burke, armados até os dentes com mísseis, acompanhados de dois aviões de vigilância e o que acredita-se serem 4 mil fuzileiros navais se aproximaram da costa da Venezuela nesta semana. Segundo o governo Donald Trump, a iniciativa faz parte de um esforço para combater cartéis de drogas na América Latina, alguns dos quais os Estados Unidos taxaram de “organizações terroristas estrangeiras” — classificação usada para grupos como a Al-Qaeda.

As tensões estão elevadíssimas. Enquanto o governo Trump prometeu usar “toda a força” contra o regime venezuelano, a quem acusa de participar diretamente do tráfico de drogas, Nicolás Maduro garantiu que “nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela”.

A perspectiva de um embate entre os países é improvável. Trump quer mostrar que está combatendo o crime organizado que prolifera, com múltiplos braços, na América Latina, e a classificação de cartéis como organizações terroristas foi para poder empregar o uso de seus militares no projeto. Mas não tem a intenção de proporcionar uma mudança de regime, por mais que exista uma torcida a favor disso. Os planos podem mudar, contudo, principalmente se Maduro fizer alguma bobagem, como tentar anexar a região vizinha do Essequibo, pertencente à Guiana.

Se as tensões eventualmente transbordarem para as vias de fato, a Venezuela estaria em franca desvantagem. Washington lidera com folga o ranking mundial de poder bélico, segundo a plataforma Global Firepower, enquanto Caracas está entre as forças medianas do continente americano.

O poderio militar à porta de Caracas
Em uma hipótese de confronto, os navios USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, deslocados para as águas internacionais perto da costa venezuelana, sozinhos têm mais poder de fogo do que toda a Marinha e Forças Armadas da nação sul-americana.

Juntos, eles possuem 288 mísseis de ataque. Para efeito de comparação, a operação de “choque e pavor” que deu início à invasão americana do Iraque em 2003 e fez eclodir a Guerra do Golfo fez enorme estrago com sete vezes menos projéteis.

Acompanhando as embarcações estão pelo menos dois aviões: um Boeing 737, da Marinha Americana, e um E-3 Sentry (equipado de radar e utilizado na localização de possíveis alvos), da Força Aérea, que foram vistas próximo à costa venezuelana na quarta-feira 20. O Boeing, chamado P-8 Poseidon, opera em missões de guerra antissubmarino (ASW), guerra antissuperfície (ASUW) e inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR). É armado com 54 torpedos, quatro mísseis antinavio Harpoon e outras armas, e pode lançar e monitorar sonobuoys (boias de sonar).

Além das aeronaves, um submarino de ataque com propulsão nuclear, vários contratorpedeiros e um cruzador de mísseis guiados também foram alocados para a área de responsabilidade do Comando Sul dos Estados Unidos (Southcom) como parte da missão, segundo a emissora americana CNN.

Inegável inferioridade
Não se sabe exatamente o tamanho do arsenal à disposição de Maduro. Uma das últimas informações a que se teve acesso data de 2017, quando a agência de notícias Reuters analisou documentos militares da nação que falavam sobre um estoque de 5 mil armas terra-ar de fabricação russa. Se tratam de equipamentos MANPADS, também conhecidos como Igla-S — mísseis antiaéreos portáteis que podem ser operados por indivíduos ou pequenas equipas para abater aeronaves a baixa altitude. São frequentemente “lançados por ombro”, têm curto a médio alcance e utilizam sistemas de orientação por infravermelhos.

Também sabe-se que a Venezuela comprou da China e da Rússia, na era de Hugo Chávez, alguns mísseis de cruzeiro antinavio (como o chinês C-802A), e mais recentemente do Irã (o CM-90). Os armamentos iranianos são, além de mais baratos, considerados mais simples.

Segundo a plataforma Global Firepower, o poder naval venezuelano conta com apenas 34 navios, dois dos quais são fragatas grandes suficientes para, em tese, se engajar com as poderosas embarcações americanas. No entanto, o estado das forças de Caracas, bem como o estado de manutenção das armas compradas há mais de uma década, é desconhecido, enquanto os três destróieres dos Estados Unidos possuem um sistema antimísseis de ponta e sensores desenvolvidos que os tornam muito difíceis de atingir. O USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson são equipados com o sistema Aegis, que usa radares para detectar e rastrear ameaças aéreas, de superfície e submarinas, coordenando o lançamento de projéteis para interceptá-las.

No arsenal aéreo venezuelano, das 229 aeronaves apenas 126 estão operacionais, e poucas são avançadas. As mais poderosas são uma esquadrilha de 24 caças Sukhoi Su-30, aviões de guerra de fabricação russa. Mas eles foram comprados no início dos anos 2000 e, mais uma vez, não se sabe sobre seu estado de manutenção. Chávez investiu altas parcelas do PIB do país em poderio bélico na época em que dispunha da riqueza do setor do petróleo, mas com o dinheiro acabando — e aliados enroscados em seus próprios problemas, como a Rússia com a guerra na Ucrânia —, Maduro está em maior desvantagem com as forças atuais.

Em termos de capacidades defensivas, Chávez e seu pupilo montaram ao longo dos anos 2000 o que é considerado como o maior sistema de defesa aérea da América Latina, superior, inclusive, ao brasileiro. O país possui lançadores de mísseis de grande, média e baixa altitude, incluindo os sistemas de mísseis BUK-M2, desenvolvido pela União Soviética, e S-300VM, criado mais recentemente pela Rússia. Mas analistas são unânimes: se a Venezuela atacar ativos militares dos Estados Unidos, não terão capacidade para se defender da inevitável e poderosa retaliação que seguirá.

O Exército americano tem 1,3 milhão de militares na ativa e cerca de 800 mil na reserva. No arsenal aéreo, suas forças contam com mais de 13 mil aeronaves, das quais 9.700 estão prontas para uso; no campo terrestre, há mais de 4.600 tanques e cerca de 390 mil veículos preparados para operações; no mar, o poder se amplia com 440 ativos navais, incluindo 70 submarinos. Além disso, o país tem um dos maiores arsenais nucleares do planeta: 5.177 ogivas, atrás só da Rússia, segundo a Federação de Cientistas Americanos (FAS).

Escalada nas tensões
Washington e Caracas romperam relações diplomáticas em 2019, durante o primeiro mandato de Trump, que apoiou o então líder da oposição, Juan Guaidó, nas eleições presidenciais da nação latino-americana. Os Estados Unidos não reconheceram nenhuma das duas últimas vitórias eleitorais de Maduro, e o governo Trump tem repetidamente chamado seu atual mandato de ilegítimo.

“Eu sei muito bem, e a Venezuela está sendo governada por um ditador”, disse Trump em agosto do ano passado, culpando o país pelo fluxo de criminosos e drogas para o território americano.

Os ex-presidentes democratas Barack Obama e Joe Biden também se opuseram ao governo chavista. Mas foi no primeiro mandato de Trump que a Venezuela se viu alvo das mais rigorosas sanções americanas até então, com rodadas em 2017, 2018 e 2019. Em 2020, Maduro foi indiciado em um tribunal federal de Nova York por narcoterrorismo e conspiração para importar cocaína, entre outras acusações. E as tensões entre Trump e o líder venezuelano só aumentaram desde seu retorno à Casa Branca.

No início deste mês, o governo Trump dobrou para US$ 50 milhões a recompensa pela captura de Maduro. O governo também acusou o ditador de ser “um dos maiores traficantes de drogas do mundo” e chefe do chamado Cartel dos Sóis, alegações que o governo venezuelano rejeitou. A Casa Branca também afirmou que Maduro tem ligações com a gangue Tren de Arágua e o Cartel de Sinaloa, do México — sobre as quais a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, afirmou no início deste mês que seu governo não tinha provas. A procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, afirmou que, recentemente, foram apreendidos US$ 700 milhões em ativos vinculados ao líder chavista, incluindo mansões, artigos de luxo, contas bancárias e jatos particulares.
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