Os governos de esquerda, as Forças Armadas e a indústria de Defesa no Brasil

 

Enquanto crescem os gastos da Nomenklatura, não se dá aos militares o mínimo de condições de trabalho. É vindita. Não se dá a eles o mínimo salarial digno. Nem mesmo o prometido. É revanchismo
Irapuan Costa Junior
O formulador estratégico do governo brasileiro atual, José Dirceu, já afirmou publicamente, há muitos anos e mais de uma vez, que um dos objetivos das esquerdas brasileiras é diminuir as Forças Armadas, torná-las mudas e inexpressivas e bani-las das discussões nacionais, ainda que isso ocasione nossa fragilidade em termos de defesa e soberania.

Reproduzo um artigo escrito há 20 anos, no qual já denunciava essa atitude, cujas consequências vimos sentindo, hoje mais que nunca, em nossa estrutura de defesa, cada vez mais enfraquecida. Nossa indústria bélica, que era expressiva nos anos 1970, está mirrada. Os Estados Unidos, nosso principal parceiro fornecedor de equipamentos e tecnologia, está se afastando, dado o confronto diplomático promovido pelo governo esquerdista e até hostil que temos. O Brasil caminha para ser um gigante inerme.

Cidadãos e súditos do Estado e o preconceito contra a cor verde-oliva)

Hitler, em sua confusa obra “Mein Kampf” (Minha Luta), ao desenhar seu modelo de organização social, deixa claro que na Alemanha vitoriosa na guerra bem como nas nações ocupadas, existiriam os cidadãos (os de raça germânica, principalmente), com os direitos inerentes e os súditos do Estado, com todas as obrigações e quase sem direito algum. A toda tirania agrada poder segregar grupos inteiros que possam representar ameaça ao poder absoluto.

Um dos resultados positivos da Segunda Guerra Mundial (se é que guerra tem algum resultado positivo) foi a consciência de que a segregação de grupos de pessoas por motivos étnicos, religiosos, sociais ou políticos é inaceitável em qualquer regime democrático. Esta verdade, hoje tão evidente, não era, por assim dizer, verdade, sessenta anos atrás. Os Estados Unidos, com toda sua tradição democrática, segregavam brutalmente seus negros. Na Europa, mesmo os países mais liberais não reconheciam a cidadania plena dos judeus, até que a barbárie do Holocausto fosse revelada ao mundo e pesasse na consciência dos preconceituosos. Os naturais das colônias inglesas eram tidos como inferiores, até então, e assim tratados. Stalin eliminou ou exilou etnias inteiras, por não confiar nelas (Os Cossacos, por exemplo). Muitos mártires depois, como Martin Luther King, Mandela, Gandhi, a situação, se não é a ideal, é bem outra. Nos Estados Unidos de hoje, uma ofensa, uma restrição ao trabalho ou qualquer outra manifestação preconceituosa por motivo racial é duramente punida com a lei. A descolonização corrigiu em grande parte as injustiças nos países libertos. Nos países totalitários, nem é preciso dizer, não houve grandes mudanças. Na China os cidadãos que se atrevem a professar uma religião são cidadãos de segunda classe. Em Cuba, ou se é comunista e se tem alguns poucos direitos, ou não se é e não se tem direito algum. Lá, lugar de homossexual é no campo de concentração. Nos países árabes totalitários o tratamento dado às mulheres regride à idade da pedra. Até recentemente os Curdos do Iraque e os não Sérvios da Iugoslávia eram eliminados sob o eufemismo da “limpeza étnica”. E chegamos ao Brasil, onde, desde os governos Fernando Henrique Cardoso, e com ênfase no atual, estamos vendo a criação silenciosa, abjeta porque covarde, acumpliciada pelos meios de comunicação que têm o dever cívico de denunciá-la, mas não o fazem, de uma classe com sua cidadania cerceada, diminuída, minimizada.

Falo dos militares.

Era de se esperar alguma retaliação dos próceres de esquerda aos militares brasileiros. Afinal, foram os militares que derrotaram as pretensões desses líderes de implantar aqui uma ditadura de esquerda. Foram eles que interromperam a baderna de João Goulart. Foram eles que responderam ao fogo da esquerda, “nos anos de chumbo”, como hoje se denominam os anos pós 1968, com muito mais eficácia. Foram os militares os responsáveis pelo exílio de alguns deles (exílio voluntário e dourado, como o de Fernando Henrique em Paris, que nunca correu nenhum perigo, ou forçado, como o de José Dirceu, em Cuba, onde segundo dizem, pertenceu à KGB e ao Serviço Secreto Cubano, que integraria até hoje). José Dirceu, diga-se, que sempre pregou, abertamente a restrição aos militares, no Brasil. Houve excessos? Sim, mas dos dois lados.

Mas o que estamos vendo, não é só retaliação, pois ultrapassou o bom senso, e mais que isso, vai abaixo da mesquinhez. Os políticos no poder vêm culpando os militares por males passados, presentes e futuros, reais e imaginários. O desmantelamento das Forças Armadas pela supressão de suas verbas, achatamento de seus salários, e seu afastamento da vida nacional, não atinge só os militares, precisam entender os “companheiros” Fernando Henrique, Lula e acólitos. Atinge a nação brasileira, no seu físico e na sua alma. No seu físico, porque somos enormes em território e recursos e precisamos deles, pois somos enormes também em população. Precisamos do território e dos recursos para manter nossa soberania. Mas nem chego a esse extremo. Precisamos deles para elevar a qualidade de vida – vergonhosamente baixa para nosso potencial – de nossa população. Para isso, precisamos também de ideias. Está demonstrado, principalmente nestes últimos anos de Fernando Henrique e Lula, que a alma da nação está carente de idéias, pois a cabeça dos políticos está vazia. E os militares têm idéias. Eles, por força da profissão, estudam. Por força da profissão, servem em todas as áreas do País, logo o conhecem mais. Marginalizá-los é jogar fora idéias preciosas em um Brasil que está precisando ser pensado. Nenhuma nação democrática dispensa o concurso de seus militares mais brilhantes. Collin Powell nos EUA é um exemplo.

Enquanto crescem à estratosfera os gastos da Nomenklatura no poder, não se dá aos militares o mínimo de condições de trabalho. É vindita. Não se dá a eles o mínimo salarial digno. Nem mesmo o prometido publicamente. É revanchismo. São submetidos à mais baixa humilhação – a de suas esposas mendigando menos do que têm direito, reprimidas pela polícia, e não ouvidas. Não ouvidas, quando qualquer baderneiro do MST é recebido com honras por Ministros e até pelo Presidente da República. É vingança que só os muito covardes têm coragem de exercer. Inda mais que não são os militares de hoje os que os derrotaram. Aqueles já estão aposentados. Com aposentadorias legais e pequenas, longe daquelas que os governos Fernando Henrique e Lula se atribuíram e atribuem aos seus cúmplices na tentativa frustrada de stalinizar o Brasil. Os militares de hoje pertencem a outra geração. E se pensassem um pouco, Fernando Henrique, Lula, e acumpliciados chegariam à conclusão que as Forças Armadas de hoje não têm mais, de há muito, traços de elitismo. São próximas do proletariado a que pertenceu Lula, antes de chegar à burguesia de hoje, muito distantes da elite à qual pertence agora Fernando Henrique Cardoso. As lideranças militares também têm sua parcela de responsabilidade. Seu silêncio foi transformado pela esquerda raivosa em sinônimo de culpa. É preciso combater isso. Poucos o fazem, como o Comandante da Brigada de Operações Especiais em Goiânia teve coragem de fazer em sua Ordem do Dia, nas comemorações do Dia do Exército.

Hoje, até um bisonho ministro da Justiça dá palpites no Ministério da Defesa e se sobrepõe ao próprio Ministro (que é também Vice-Presidente), apenas por ser de esquerda. O bom-mocismo do ex-presidente e do presidente tem esta horrenda outra face, que nem todos percebem, pois todos se calam sobre ela.

Os militares são dignos trabalhadores brasileiros. Antes todo servidor público se comportasse como eles. O que se está fazendo é retirar deles sua cidadania. É transformá-los em súditos do Estado, com muitas obrigações, mas sem direito algum. Nem o de se defender. Hitler não faria melhor. (Texto de 1º de maio de 2005)

Pós-escrito
Citado no texto, o ministro da Justiça era Márcio Thomaz Bastos (1935-2014). Cometeu certa vez o descuido, quando o governo Lula promulgou o Estatuto do Desarmamento, em 2003, de, alertado para o pouco efeito da medida sobre o armamento dos traficantes, de afirmar que o governo não visava desarmar bandidos, mas controlar o armamento da sociedade.

O ministro da Defesa (e vice-presidente) era José Alencar (1931-2011). O comandante da então Brigada de Operações Especiais (hoje Comando de Operações Especiais) em Goiânia era o então general de brigada Marco Aurélio Costa Vieira.
JORNAL OPÇÃO

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