Quando a imprensa esquece sua própria história

É no mínimo paradoxal que a Deutsche Welle (DW), veículo de comunicação alemão, publique um artigo que apresenta Alexandre de Moraes como “muralha contra o autoritarismo”, ignorando que a própria imprensa alemã já foi vítima, no passado, de regimes que se travestiram de defensores da ordem para impor censura e ditadura.

Opinião – Ricardo Fan

A Deutsche Welle (DW), tradicional veículo de comunicação alemão, publicou recentemente um artigo em defesa da atuação do ministro Alexandre de Moraes, apresentado como “muralha contra as tendências autoritárias do bolsonarismo”. É no mínimo paradoxal que um jornal de origem alemã, país cuja imprensa sofreu no passado com a cooptação, censura e manipulação por regimes autoritários, aceite e divulgue uma narrativa tão distorcida da realidade brasileira.

Não buscamos silenciar opiniões divergentes. Ao contrário, respeitamos o direito do autor Philipp Lichterbeck de expor sua visão. Entretanto, trata-se de uma triste opinião, pois ao tentar enquadrar Moraes como defensor da democracia, relativiza medidas que configuram práticas autoritárias, como censura, perseguição judicial, prisões arbitrárias e o sufocamento da liberdade de expressão.

A história não deixa dúvidas: o nazismo ascendeu ao poder pela via democrática, apresentando-se como protetor do povo alemão. Em pouco tempo, esse discurso se converteu em ditadura, perseguição e silêncio imposto pela força. Hoje, no Brasil, ao perseguir opositores, criminalizar opiniões e controlar o espaço público sob o pretexto de “proteger a democracia”, Moraes reproduz a mesma lógica perigosa.

O episódio de 8 de janeiro, classificado como “golpe” pela narrativa oficial, foi marcado por protestos legítimos de cidadãos inconformados. A presença de infiltrados violentos serviu apenas para alimentar a versão conveniente de que se tratava de uma insurreição planejada, legitimando medidas de exceção que não se sustentariam em um Estado realmente democrático.

Ao endossar esse enredo, a DW incorre no grave erro de legitimar um autoritarismo que se disfarça de democracia, aproximando-se perigosamente da retórica de regimes como o da Venezuela. Uma imprensa que se diz livre não pode servir de instrumento para normalizar práticas que violam justamente os princípios que deveriam defender.

A democracia verdadeira se sustenta na liberdade irrestrita de pensamento, no pluralismo e no respeito à Constituição — nunca na imposição autoritária de um poder centralizado.

Como bem lembrava Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las.”

Leia o artigo da DW, que consideramos uma análise equivocada, e tirem suas próprias impressões: “Quando a Casa Branca flerta com o golpismo no Brasil”.

https://www.dw.com/pt-br/coluna-quando-a-casa-branca-flerta-com-o-golpismo-no-brasil/a-73620767

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