A irrupção de uma velha senhora em um novo cenário desafiador das relações internacionais no século XXI: a Geopolítica

Xi Jiping ladeado por Vladimir Putin e Kim Jong-un. O enviado especial do Presidente Lula, o Assessor Especial Celso Amorim. Eveno relacionado às festividades dos 80 anos do Fim da Segunda Guerra Mundial em Pequim

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 Setembro 2025

Uma velha senhora, surgida no final do século XIX, em plena atividade na primeira metade do século XX, está de volta, neste início de século XXI, com plenos poderes para tentar restabelecer sua antiga influência num mundo que não é mais o da Carta da ONU, o da igualdade soberana das nações e o do pleno e estrito respeito a princípios elementares do Direito Internacional.

Esta velha senhora é a Geopolítica, voltando a se afirmar com base no uso da força para ignorar princípios como o da não agressão e o da usurpação indevida de territórios estrangeiros. Essa velha senhora, com novas roupagens, tem se manifestado desde a primeira década do presente século, por meio das intervenções russas na Georgia e na Moldova, continuou na segunda década do século por meio de novas intervenções clandestinas russas no Donbass ucraniano e pela invasão aberta e anexação ilegais da península ucraniana da Crimeia, e se estendeu, já na terceira década do século XXI, à conquista tentativa de toda a Ucrânia pela Rússia, não por meio de uma declaração formal de guerra, mas por meio de uma “Operação Militar Especial”, com o pleno apoio e a “aliança sem limites” da China a essas aventuras da Rússia, em total violação da Carta da ONU e dos princípios mais elementares do Direito Internacional.

A comunidade internacional, mais uma vez surpreendida pela volta dessa velha senhora, não conseguiu atuar por meios da aplicação das normas consagradas nos primeiros artigos da Carta da ONU em virtude do uso do abusivo “direito de veto” concedido originalmente às grandes potências, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, convertido assim em nova fonte da insegurança e da guerra nas relações internacionais do século XXI.

Essa velha senhora, isto é, a nova Geopolítica do século XXI, acaba de conquistar foros de legitimidade internacional por meio de uma conferência da Organização de Cooperação de Xangai, em Tianjin, em setembro de 2025, com a participação estendida de duas dúzias de países membros e de convidados, com a intenção de se firmar como bloco de cooperação multilateral, dotado de um novo banco de fomento e propostas de ajuda ao desenvolvimento de países dispostos a se alinhar com os objetivos da Geopolítica do presente século, não exatamente coincidentes com os princípios estabelecidos em 1945 e tidos por consagrados nos últimos 80 anos de multilateralismo político e econômico. 

Por incrível que possa parecer, três dos cinco membros permanentes do CSNU não parecem dispostos a manter a ordem mundial duramente construída ao cabo do maior conflito global ocorrido ao final da primeira metade do século XX, e se empenham, cada um com seus objetivos nacionais peculiares, em construir uma “nova ordem”, dita “global e multipolar”, que já se manifestou pela quebra das regras fundamentais do sistema multilateral de comércio pelo seu membro mais importante, entre eles a cláusula de nação mais favorecida, princípio multissecular da Lex Mercatoria.

O mundo se encontra, assim, entregue a um novo cenário de indefinições persistentes e de grandes dúvidas com respeito à manutenção dos princípios básicos do multilateralismo dos últimos 80 anos, quando até nações que participaram de sua criação ensaiam sua incerta adesão a essa “nova ordem global multipolar”, como parece ser o caso do Brasil. 

Novos tempos, velhos costumes…

O post A irrupção de uma velha senhora em um novo cenário desafiador das relações internacionais no século XXI: a Geopolítica apareceu primeiro em DefesaNet.