“Desleal”, “sorrateira”, “suicida”: bolsonaristas atacam defesa de general que implicou Bolsonaro em trama golpista

 

Aliados criticam estratégia de Paulo Sérgio Nogueira de transferir responsabilidade por um eventual golpe
Luísa Marzullo e Patrik Camporez
Nos primeiros dias de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), advogados dos réus do chamado “núcleo crucial” produziram um saldo negativo para Jair Bolsonaro, logo na largada do processo, ao tentar reduzir a responsabilidade de seus clientes sem negar a existência de uma trama golpista. O caso mais emblemático foi o da defesa do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, cuja estratégia de transferir a responsabilidade por um eventual golpe de Estado ao ex-presidente provocou reação imediata entre aliados de Bolsonaro.

O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o presidente Jair Bolsonaro Marcos Corrêa/PR/Divulgação

Ex-secretário de Comunicação e articulador do ex-presidente, Fábio Wajngarten foi quem puxou, nas redes sociais, o coro de insatisfação ao compartilhar uma crítica contundente:

“Eu sei muito bem qual era o ‘modus operandi’ dessa turma que vivia no bate e assopra na orelha do presidente. Criavam e distribuíam dentro do Gabinete Presidencial teorias conspiratórias para se manter vivos dentro de suas insignificâncias”, escreveu.

Apesar de reafirmar respeito às Forças Armadas, Wajngarten afirmou que militares do alto escalão “vilanizavam a política” mesmo antes do governo Bolsonaro.

“Fizeram campanhas para avançar sobre pastas que sequer dominavam os temas básicos, motivados pelos benefícios que acompanham os cargos. Se deslumbraram por completo com microfones, garçons e motoristas que faziam parte do ‘entourage’ que nunca tiveram. Não aceitarei mentiras neste momento em que sequer o presidente possa se defender”, atacou.

A publicação foi feita após o advogado de Nogueira, Andrew Farias, confirmar durante o julgamento a existência de um plano golpista ao ser questionado pela ministra Cármen Lúcia sobre a que o defensor se referia quando disse que seu cliente atuava para “demover” o presidente.
— Demover de quê? Porque até agora todo mundo disse que ninguém pensou nada — indagou a ministra.

Na resposta, foi direto:
— Falo claramente para a senhora. Demover de adotar qualquer medida de exceção.

A defesa de Nogueira buscou afastar sua responsabilidade, apresentando a narrativa de que o general teria atuado para impedir medidas de exceção sugeridas por Bolsonaro. Para o deputado Sanderson (PL-RS), aliado de Bolsonaro, a manobra foi “suicida”:

— Jogou toda a responsabilidade no presidente sem apresentar nenhuma prova. Se era ele o ministro da Defesa e presenciou seu chefe sugerindo um golpe de Estado, por que permaneceu no governo até o último dia? Além de não colar, pegou muito mal para um general quatro estrelas.

Outros aliados descreveram a estratégia como “sorrateira” e “desleal”. Há relatos de que a própria família de Bolsonaro teria feito comentários de incômodo enquanto assistia ao julgamento, no condomínio em que o ex-mandatário cumpre prisão domiciliar.

No julgamento, mesmo os mais próximos de Bolsonaro durante o governo buscaram se afastar dele. Em sua sustentação oral, o advogado Matheus Milanez, que representa o general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI, alegou que Heleno e o ex-presidente se distanciaram a partir da metade final do mandato. Para sustentar a versão, apresentou recortes de reportagens da imprensa sobre o esfriamento da relação, atribuindo o afastamento à aproximação de Bolsonaro com o Centrão.

Linha de argumentação
De modo geral, as defesas não negaram a ocorrência de reuniões e conversas de teor golpista, já reconhecidas pelo STF em outros julgamentos, mas insistiram que seus clientes não tiveram participação efetiva nesses episódios. Assim, adotaram uma linha argumentativa voltada a preservar os acusados sem refutar a existência de um plano em andamento, cujo principal beneficiário e articulador seria Bolsonaro. No mérito, buscaram individualizar as condutas, destacando diferenças entre os réus, numa tentativa de reduzir eventuais prejuízos em caso de condenação.

A defesa de Bolsonaro, por sua vez, tem sustentado que o ex-presidente não participou de nenhuma tentativa de golpe e que estava fora do país quando ocorreram os atos antidemocráticos do 8 de Janeiro. O julgamento continua na próxima semana, com sessões marcadas para terça-feira, quarta-feira e sexta-feira.
O GLOBO – Edição: Montedo.com

O post “Desleal”, “sorrateira”, “suicida”: bolsonaristas atacam defesa de general que implicou Bolsonaro em trama golpista apareceu primeiro em Montedo.com.br.