Debate sobre remuneração de cadetes do Exército volta à tona

 

Baixo soldo dos cadetes provoca questionamentos sobre valorização dos futuros líderes militares

Formar um oficial do Exército Brasileiro exige quatro anos de dedicação integral na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em regime de internato e intensa carga de instrução militar. Apesar do esforço, os cadetes vão receber em 2026 um soldo inferior a R$ 1,5 mil — menos que um salário mínimo —, realidade que provoca questionamentos sobre como o país valoriza seus futuros líderes militares.

Formação na AMAN e carga de trabalho
A vida de um cadete da AMAN é marcada por rotina intensa e exigente. O dia começa antes das 6h da manhã e pode se estender até as 19h30, somando jornadas de estudo, treinamentos, atividades físicas e instruções militares. Além disso, cada cadete cumpre regularmente serviços de 24 horas, em escalas que elevam a carga semanal a até 92 horas de atividades.

Essa estrutura busca formar oficiais com elevado nível de preparo físico, acadêmico e de liderança. Contudo, diante da responsabilidade e do desgaste, o valor recebido mensalmente — R$ 1.457 em 2026 — tem gerado críticas por não refletir a dedicação exigida e a complexidade da formação.

Comparação com cadetes das forças estaduais
O contraste se torna mais evidente quando comparado às polícias militares e aos corpos de bombeiros estaduais. Em vários estados brasileiros, cadetes recebem bolsas que variam de R$ 3 mil a R$ 5 mil durante o período de formação. A diferença é significativa e levanta questionamentos: por que a União, responsável por formar oficiais do Exército, oferece remuneração tão inferior em relação às forças estaduais?

Essa disparidade alimenta um debate sobre justiça salarial e valorização profissional. Críticos argumentam que, embora a carreira militar federal ofereça estabilidade e projeção, o baixo soldo inicial pode desestimular jovens talentos ou gerar sensação de descaso em quem dedica anos de sua vida à formação militar. O atual aumento de pedidos de baixa do serviço militar reflete o baixo soldo durante a carreira em contraste ao mercado privado.

O debate sobre valorização militar no Brasil
A discussão ultrapassa a esfera salarial e entra no campo da valorização das Forças Armadas. O Brasil investe menos de 1,2% do PIB em Defesa, valor considerado baixo para um país de dimensões continentais e com responsabilidades estratégicas na Amazônia, no Atlântico Sul e em missões internacionais.

O caso dos cadetes da AMAN é visto como um retrato dessa realidade: uma formação de excelência, que exige sacrifício e disciplina, mas que não recebe a contrapartida financeira adequada. Especialistas em Defesa apontam que a valorização dos militares de base e de formação é essencial para garantir a atração e retenção de quadros qualificados, fortalecendo a prontidão e a liderança futura do Exército.

Enquanto isso, cresce no meio acadêmico e político a cobrança por uma revisão da política de soldos e gratificações, de modo a alinhar as expectativas de quem escolhe servir ao país com o reconhecimento que a missão exige.
DEFESA EM FOCO – Edição: Montedo.com

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