Perto do julgamento de Bolsonaro, Lula reúne cúpula militar, serve picanha e cobra plano de defesa

Presidente chama comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica desde seu primeiro mandato para mostrar que tem apoio das Forças Armadas
Nota DefesaNet – Até a hora da publicação o Palácio doPlanalto não tinha divulgado imagens do almoço

Vera Rosa
Estadão
05 Sertembro 2025

20h00

Às vésperas do julgamento de Jair Bolsonaro e generais estrelados por tentativa de golpe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu nesta sexta-feira, 5, um encontro carregado de simbolismo, no Palácio da Alvorada. Em almoço que durou mais de três horas, Lula reuniu os comandantes militares atuais e de seus outros dois mandatos.

Não foi uma reunião qualquer. Dois dias antes do 7 de Setembro e no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a condenar Bolsonaro, além de vários fardados de alta patente, Lula quis mostrar que a maior parte das Forças Armadas é legalista. Mais do que isso: que tem o apoio dos militares.

Bem-humorado, o presidente se sentou à mesa com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, os comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aeronáutica), o ministro do Superior Tribunal Militar Joseli Parente e o titular do Gabinete de Segurança Institucional, Marcos Amaro.

Militares que serviram Lula em seus outros dois mandatos – como Roberto de Guimarães Carvalho, que hoje está com 86 anos e comandou a Marinha na primeira gestão do petista, de 2003 a 2007 – foram acomodados em outras mesas redondas, perto do presidente.

O anfitrião serviu um de seus pratos favoritos: picanha fatiada e feijão tropeiro. Na lista de sobremesas, salada de frutas e picolé.

O discurso de Lula soou como música ao ouvido de generais, almirantes e brigadeiros: ele pediu a apresentação de um plano de defesa de longo prazo para o Brasil, coisa para os próximos 20 anos. Mas como pôr de pé esse plano com o corte no Orçamento e as Forças Armadas cada vez mais sucateadas, sem dinheiro nem para o cafezinho? Disso ninguém falou.

O julgamento de Bolsonaro e de generais da reserva conhecidos por todos – como Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, além do almirante Almir Garnier – entrou na conversa, como não poderia deixar de ser. Mas, discretos, os convidados preferiram dizer que esse assunto não foi tocado.

Lula contou histórias de voos e disse para o tenente brigadeiro do ar Joseli – que foi piloto do avião presidencial em seus dois mandatos e nos quatro primeiros anos de Dilma Rousseff – ter muita saudade daquela época.

Ao lembrar a viagem na qual o avião que o transportava sofreu uma pane e teve de fazer um pouso de emergência no México, em outubro do ano passado, Lula afirmou que nunca teve tanto medo de morrer.

Sob os olhares atentos dos oficiais, o presidente admitiu que esperou um “milagre de Deus” e, nas quatro horas e meia em que o avião ficou voando em círculos para queimar combustível, pensou em toda a sua vida.

Nas muitas histórias ali contadas, um dos presentes lembrou que Dilma tinha medo de avião e cravava as mãos na poltrona quando era avisada de que havia turbulência no horizonte.

No fim do encontro, Lula tirou foto com todos os comandantes das Forças Armadas, os atuais e os da velha guarda, e os convidou para o desfile de 7 Setembro na Esplanada dos Ministérios.

Desta vez, porém, a foto foi histórica: mais do que um simples retrato, simbolizou a defesa da democracia em uma época em que, pela primeira vez, há militares sentados no banco dos réus.

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