Grupo global de tecnologia bélica diz que, com mina de talentos da engenharia, país será hub
Julio Wiziack.
Editor do Painel S.A.
Com Stéfanie Rigamonti
Folha de São Paulo
6 Setembro 2025
O emiradense Hamad Al Marar, 41, comanda a operação global do Edge Group, gigante de tecnologia bélica e defesa sediado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Com 35 companhias espalhadas pelo mundo, o grupo investiu na compra de participação em duas empresas do ramo no Brasil, a SIATT e a Condor, um investimento de R$ 3 bilhões em 2023.
Desde então, Al Marar afirma ter autorizado seus executivos a investirem cada vez mais na busca de talentos brasileiros em engenharia, mirando construir uma Embraer no ramo aeroespacial voltado à defesa capaz de transformar o Brasil num polo de exportação global. Apesar de o país impor custos elevados às empresas, o executivo afirma que a companhia aposta em resultados no longo prazo.
Um homem com barba e usando um traje tradicional árabe, incluindo uma cabeça coberta com um ghutrah, está sentado em um sofá. Ele sorri e parece relaxado. Ao fundo, há um modelo de drone com a inscrição ‘REACH S’. A iluminação é suave e o ambiente é moderno.
O Brasil é um dos países com menor gasto em defesa do mundo e um dos maiores custos para instalação de empresas. Por que escolheram o país?
O grupo Edge é bastante diverso. Fazemos desde produtos de munição a satélites, sem falar em guerra eletrônica ou radares, desenvolvimento algorítmico ou IA. O Brasil é uma mina de ouro para talentos. Sempre teve e terá grande capacidade de engenharia. Buscamos uma base industrial para produzir e exportar para além das fronteiras do Brasil, que será um hub. A geografia e o fuso horário são outros fatores. E nossas transações miram o longo prazo.
Qual será o papel do Brasil no grupo?
De uma perspectiva tecnológica, vejo um enorme potencial seja desenvolvimento de software, seja de IA. Tendemos a encontrar recursos tremendos no domínio da engenharia aeroespacial no Brasil e mal posso esperar para ver outra história de sucesso e replicar a Embraer novamente em uma escala maior.
Quais são os negócios no Brasil hoje?
Adquirimos a SIATT [51%] para complementar os investimentos em produtos que eles já tinham começado. Somos construtores navais e tínhamos a intenção de desenvolver nosso próprio míssil antinavio. Soubemos que esse míssil estava em desenvolvimento [pela SIATT] e decidimos continuar de onde eles pararam. Por isso, adquirimos o controle da companhia. Anunciamos novas instalações há dois dias, parte dessa expansão. Hoje, eles estão fazendo demonstrações bem-sucedidas dos mísseis. O programa está avançando e já temos dois clientes principais, os Emirados Árabes Unidos e o Brasil. Após a conclusão do desenvolvimento, faremos a implementação em embarcações.
Também adquirimos a Condor [50%] e isso permite que ela use nossas instalações no Oriente Médio para exportar a outros mercados, o que normalmente é um desafio em termos de logística e apólices de seguros.
Qual a participação atual da América Latina em receitas?
Faturamos cerca de US$ 5 bilhões, 53% de nossa carteira provêm de exportações e menos de 5% delas vão para a América Latina.
Um dos argumentos dos EUA para o tarifaço de 50% foi a falta de controle do governo brasileiro sobre o crime organizado. Isso é uma frente de negócios?
Uma das coisas que mais exportamos é nosso conhecimento e segurança. Temos uma prova de conceito [testes soluções de segurança] em São Paulo, Rio de Janeiro, e em outras cidades, e isso não é motivado por interesses políticos. Em muitos casos, também financiamos essas provas para que se tornem contratos.
Há algum contrato ativo de combate ao tráfico ou à criminalidade?
Ainda não.
Pensando nesse tipo de guerra, o que o Brasil pode comprar?
Podemos aplicar alguns dos drones de reconhecimento, saindo do armamento para inspecionar o setor de energia, as instalações de combustíveis fósseis na costa; inspecionar gasodutos; fazer vigilância na Amazônia; coletar informações ambientais. Temos mais interesse no Brasil do que em qualquer outra coisa, seja em elevar capacidades para beneficiar portos, para beneficiar os negócios no setor imobiliário ou sua existência no turismo ou na segurança alimentar.
As tensões globais foram potencializadas por Vladimir Putin, da Rússia, e Donald Trump, dos EUA. Isso gera mais mercado?
Não tenho certeza dos números, porque mesmo que os contratos sejam assinados hoje são contabilizados dois ou três anos depois. Mas posso dizer que o ciclo de decisão se tornou mais rápido na Europa, o que significa que há urgência. Temos contratos na Estônia, Polônia, Suíça, Alemanha, entre outros. Temos joint-ventures com italianos, franceses e espanhóis. Então, estamos realmente tentando encontrar nosso caminho para que nossas soluções sejam reconhecidas pela Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte].
HAMAD AL MARAR
1984, Abu Dhabi— Um dos melhores CEOs do Oriente Médio, segundo a Forbes, ele presidiu a divisão de mísseis e armas antes de assumir o comando do Edge. Antes disso, transformou a Tawazun (TEC), uma joint-venture de armas em fase de conceito, em uma exportadora global a partir de um contrato com a Força Aérea de seu país
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