Marinha do Brasil oficializa compra do HMS “Bulwark”

Navio de guerra britânico ampliará a capacidade da Força em operações militares e ações humanitárias

Por Capitão-Tenente (T) Vanessa Rosana , Capitão-Tenente (T) Victer e Primeiro-Tenente (RM2-T) Clara

A Marinha do Brasil (MB) assinou, nesta quarta-feira (10), o contrato de aquisição do HMS “Bulwark”, da Marinha Real Britânica, classificado como navio doca-multipropósito da Classe “Albion”. A negociação foi formalizada durante a Defence & Security Equipment International United Kingdom (DSEI UK) 2025, um dos principais fóruns globais de Defesa, que reúne governos, Forças Armadas, líderes da indústria e representantes do setor. O acordo decorre do protocolo de intenções firmado em abril deste ano, durante a LAAD Defence & Security 2025, realizada no Rio de Janeiro.

A assinatura foi oficializada a bordo do HMS “Mersey”, pelo Diretor-Geral do Material da Marinha, Almirante de Esquadra Edgar Luiz Siqueira Barbosa, e pelo Second Sea Lord da Royal Navy, Vice-Almirante Martin Connell, com a presença do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen e demais autoridades civis e militares.

A relevância da cooperação entre os dois países foi ressaltada pela Embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq, que destacou a importância estratégica do HMS “Bulwark” para as necessidades operacionais e humanitárias da Marinha do Brasil: 

A aquisição do HMS ‘Bulwark’ simboliza um novo marco na parceria estratégica entre o Reino Unido e o Brasil. Trata-se de um meio com comprovada capacidade de resposta a situações de crise, que contribuirá significativamente para o fortalecimento das capacidades operacionais da Marinha do Brasil, tanto em missões humanitárias quanto em operações de Defesa. É motivo de grande orgulho para o Reino Unido apoiar um aliado tão próximo, promovendo o intercâmbio de conhecimento e fomentando a cooperação entre nossas Marinhas.

 Resposta rápida a desastres e apoio humanitário

O HMS “Bulwark” possui 176 metros de comprimento, deslocamento de 18.500 toneladas e capacidade para até 710 militares. Mantém velocidade média de 18 nós, equivalente a aproximadamente 34 quilômetros por hora. Com expressiva capacidade de transporte de pessoal, veículos e carga, o navio está preparado para operar em cenários de calamidade pública.

Possui capacidade para transportar ambulâncias e equipamentos de engenharia voltados à reconstrução de infraestrutura crítica, além de oito embarcações auxiliares destinadas a missões de resgate e ao transporte de pessoal e suprimentos em áreas de difícil acesso. Conta também com um convés preparado para operar até dois helicópteros de grande porte, fundamentais para evacuação aeromédica, reconhecimento de áreas impactadas e apoio logístico em situações de emergência.

O navio é apto a realizar o envio célere de estruturas para hospitais de campanha, mantimentos, medicamentos e outros itens essenciais diretamente às áreas atingidas, contribuindo de forma decisiva para a preservação de vidas. Além de sua vocação humanitária, será empregado na proteção da Amazônia Azul, área estratégica das águas jurisdicionais brasileiras, rica em recursos naturais e minerais.

Nesse contexto, o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, destacou:

A aquisição do HMS ‘Bulwark’ constitui um marco no esforço de recomposição do núcleo do Poder Naval, contribuindo sobremodo para o exercício da soberania em águas sob jurisdição do Estado. A Marinha do Brasil reafirma, assim, seu compromisso com a ampliação da capacidade de presença em áreas de interesse e com a condição de eficiência adequada para atuar em diferentes cenários, seja em operações de defesa ou em apoio à população brasileira em situações de emergência, em especial nas respostas a desastres naturais e missões de assistência humanitária.

Treinamento e incorporação à Esquadra

A MB possui um Plano de Configuração de Forças (PCF) que prevê prazos para a aquisição de meios navais por construção ou obtenção. A aquisição do HMS “Bulwark” foi impulsionada pela necessidade de ampliar a capacidade da MB, garantindo meios modernos e robustos para operações de projeção de poder, apoio humanitário e Defesa da soberania, garantindo para a Força a plena operacionalidade de um navio multipropósito em curto espaço de tempo.

A embarcação encontra-se em Plymouth, na Inglaterra, passando por um processo completo de revitalização que inclui a modernização dos sistemas de comando e controle, atualização dos equipamentos de comunicações e a revisão completa de seus sistemas de propulsão e geração de energia.

O término da revitalização está previsto para 2026. Esses trabalhos estendem a vida útil do navio por, pelo menos, duas décadas garantindo segurança operacional e adequação às demandas atuais da MB.    

De acordo com o Diretor-Geral do Material da Marinha, Almirante de Esquadra Edgar, “A relação entre a Marinha do Brasil e a Royal Navy é histórica. O Navio Aeródromo Multipropósito (NAM) Atlântico, principal embarcação da Esquadra Brasileira também foi adquirido da Inglaterra e chegou ao Brasil em 2018. As aquisições do NAM ‘Atlântico’ e do HMS ‘Bulwark’ refletem essa parceria estratégica, que envolve não apenas transferência de meios navais, mas também intercâmbio de conhecimentos, treinamento de tripulações e cooperação em áreas de interesse comum.”

Em setembro, cerca de 48 militares brasileiros seguirão para o Reino Unido para treinamento e reconhecimento do navio. Em novembro, mais 44 militares serão capacitados. Além do treinamento técnico, a tripulação participará de simulações e exercícios conjuntos, com foco na plena operacionalidade do meio. A previsão é que o HMS “Bulwark” seja comissionado e trasladado ao Brasil no próximo ano, quando passará a integrar a Esquadra Brasileira.

Participação do HMS “Bulwark” em cenários de crise

Reconhecido por sua versatilidade, o HMS “Bulwark” possui um histórico consolidado de participação em operações reais conduzidas pela Marinha Real Britânica. Em 2006, atuou na evacuação de cerca de 1.300 cidadãos britânicos durante o conflito no Líbano.

Quatro anos depois, em 2010, foi empregado no transporte de militares e civis retidos na Islândia, em virtude da paralisação do tráfego aéreo causada pela erupção do vulcão Eyjafjallajökull. Em 2011, participou de missões de combate à pirataria na costa da Somália. Já em 2015, operando na costa da Líbia, prestou apoio médico e logístico no resgate de mais de 2.900 imigrantes, oferecendo atendimento inicial e alimentação dentro do navio.

A relevância da aquisição também foi destacada pelo Embaixador do Brasil no Reino Unido, Antonio de Aguiar Patriota, que ressaltou os laços históricos entre as duas nações e o papel da embarcação no fortalecimento da presença internacional da Marinha do Brasil:

A cooperação entre Brasil e Reino Unido em matéria naval tem uma longa trajetória. Consideramos extremamente positivo o caráter multipropósito dessa embarcação, o HMS ‘Bulwark’, que agora passa a integrar a Marinha do Brasil. Este navio, que no passado atuou em evacuações e missões de assistência humanitária, reforça a vocação do Brasil para operações de paz e ações humanitárias. Além disso, a chegada de marinheiros brasileiros ao Reino Unido e o suporte técnico contínuo para manutenção especializada são exemplos concretos do fortalecimento dos laços entre nossas Marinhas”, destacou o Embaixador.

Ao ser incorporado à MB, em 2026, o HMS “Bulwark” passará a se chamar Navio-Doca Multipropósito “Oiapoque”. A nova designação segue a tradição da Força de homenagear marcos geográficos nacionais e destaca a relevância estratégica da região Norte do País.

O nome simboliza a presença do Estado brasileiro em áreas de interesse marítimo, refletindo o compromisso da Marinha com a soberania, a integração nacional e o apoio a comunidades isoladas, especialmente em ações cívico-sociais e de Defesa.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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