NDM Oiapoque: navio britânico comprado pela Marinha do Brasil tem “vocação humanitária”

 

Segundo a Marinha, o navio será empregado na proteção da Amazônia Azul
Paulo Assad
A Marinha do Brasil fechou nesta quarta-feira a compra do navio britânico HMS Bulwark, que deve ser rebatizado como Navio-Doca Multipropósito (NDM) Oiapoque. Com capacidade de operar até dois helicópteros e transportar pessoas, veículos e carga, o navio deve ser incorporado à esquadra brasileira já no próximo ano. O valor da compra não foi divulgado.

O Bulwark, que já atuou em operações de resgate no Líbano e de combate à pirataria na Somália, encontra-se na cidade de Plymouth, onde passa por uma reforma que deve fazê-lo durar por pelo menos mais duas décadas. Segundo a Marinha, o navio tem “vocação humanitária” e será empregado na proteção da Amazônia Azul, área marítima de 5,7 milhões de quilômetros quadrados sob jurisdição nacional.

No Líbano, o navio foi empregado em 2006 para resgatar 1.300 civis britânicos que estavam no país quando eclodiu um conflito entre o país árabe e Israel. Em 2010, o HMS Bulwark voltou a ser utilizado para transportar militares e civis em meio a interrupção do tráfego aéreo provocada pela erupção do vulcão Eyjafjallajökull na Islândia. Cinco anos depois, o navio foi usado no resgate de 2.900 pessoas provenientes da costa da Líbia e que estavam à deriva no Mediterrâneo. Em 2011, a embarcação britânica foi utilizada em ações de combate a piratas na Somália.

Os planos de aquisição do navio britânico se tornaram públicos em abril, quando a Marinha brasileira assinou com a força britânica um protocolo de intenções durante a feira militar LAAD, no Rio de Janeiro.

— Até o momento, é uma potencial boa aquisição: é recente, e, em termos de vida útil, passou por uma recente renovação — diz o professor Augusto Teixeira, do departamento de Relações Internacionais da UFPB — A Marinha tem historicamente um problema de obsolescência dos meios. Os equipamentos são muito caros, e a força disputa fatias do orçamento com o Exército e a Aeronáutica

O professor acrescenta que a decisão de enfatizar iniciativas como o submarino de propulsão nuclear gerou uma pressão sobre a esquadra, com cada vez mais navios se tornando obsoletos. Apesar de entender a compra como válida, ele faz ponderações:

— Quais são os problemas? O Brasil é um país grande demais, com uma costa grande demais, em um mundo cada vez mais perigoso, para ficar dependendo essencialmente de compras de oportunidade — diz o professor, que vê uma falta de coordenação entre as três Forças Armadas — Qual a cobertura área que protegerá ele? São os Gripens? Há uma doutrina conjunta para isso? Há quantidade suficiente?

Ainda neste mês, 48 militares brasileiros devem viajar à Inglaterra, onde serão treinados para operar o HMS Bulwark, além de acompanharem o reparo do navio. Em novembro, outros 44 militares serão capacitados para atuar na embarcação. O restante da tripulação deve ir ao Reino Unido apenas em 2026, após o fim da reforma do navio.

Com 176 metros de comprimento, o navio britânico tem capacidade para 290 tripulantes, além de conseguir transportar uma tropa de até 710 militares. O convés de voo consegue operar até duas aeronaves de grande porte.

Polêmica no Reino Unido
A existência de negociações vislumbrando a compra dos navios já havia sido confirmada pela Marinha brasileira. Em fevereiro, o caso repercutiu na imprensa inglesa e virou alvo de controvérsia no parlamento britânico. As embarcações militares estariam sendo vendidas pelo equivalente a R$ 145 milhões, uma fração do valor gasto pelo Ministério da Defesa do Reino Unido com os Albion e o Bulwark nos últimos 14 anos.

“Há alguns anos, o Comitê de Defesa da Câmara dos Comuns descreveu a ideia de eliminar estes dois navios anfíbios importantes como analfabetismo militar”, disse o parlamentar Mark Francois, do Partido Conservador, ao jornal The Daily Mail na ocasião. Francois ocupa a função de Ministro da Defesa das Sombras, cargo sem poderes executivos, mas que tem como dever fiscalizar as ações do titular da pasta.

“Dado o quanto o Ministério da Defesa gastou para reequipá-los nos últimos anos, vendê-los repentinamente a um preço de banana também é ‘analfabetismo financeiro””, completou Francois ao jornal britânico.

Os navios teriam sido ofertados ao Brasil pelo valor de 20 milhões de libras, o equivalente a R$ 145 milhões. Em novembro de 2024, a atual ministra da Indústria de Defesa, Maria Eagle, afirmou que, desde 2010, o Albion e o Bulwark custaram £132,7 milhões (R$ 966 milhões) em reformas.

Em janeiro do ano passado, o então ministro britânico das Relações Exteriores, o conservador Andrew Mitchell, declarou que os dois navios não seriam descartados antes do planejado, no início da década de 2030. Na época, a aposentadoria do Albion e do Bulwark foi aventada como uma solução para liberar marinheiros para outros navios em meio a uma crise de recrutamento na Marinha.

Com a mudança de governo nos meses seguintes, os planos dos britânicos mudaram. Em 20 de novembro, o Secretário de Defesa John Healey, do Partido Trabalhista, anunciou que o Albion e o Bulwark seriam desativados. Os dois navios já se encontravam na prática fora de operação e custavam aos cofres públicos R$ 65 milhões ao ano:

“De acordo com o planejamento atual, nenhum dos dois deveria voltar ao mar antes das datas planejadas de desativação, em 2033 e 2034”, disse Healey, segundo o jornal britânico.
O GLOBO – Edição: Montedo.com

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