Inclusão na quota compulsória vai fazer Mauro Cid perder ‘porto seguro’ do PNR em Brasília

Delator terá de deixar a casa cedida pelo Exército em uma das áreas mais protegidas da capital federal
Marcela Mattos
No início de agosto, o tenente-coronel Mauro Cid apresentou ao Exército um pedido de aposentadoria porque, segundo o seu advogado, não tinha “condições psicológicas” de continuar servindo à força. A decisão antecipa o fim da carreira do militar, que até atuar como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro seguia em ascensão e almejava alcançar o posto de general.

A pretensão de seguir com a farda foi mantida inclusive quando ele firmou um acordo de delação premiada, em setembro de 2023, e relatou uma sequência de irregularidades envolvendo o ex-presidente. Em seu termo de delação, Cid pediu uma punição máxima de vinte e quatro meses, o que lhe livraria de passar pelo crivo do Superior Tribunal Militar e garantiria a manutenção da patente. Quase dois anos depois, porém, ele enterrou o sonho e oficializou a saída do Exército.

O mesmo caminho já havia sido adotado antecipadamente por outros militares envolvidos na trama golpista. Por orientação da cúpula do Exército, aqueles que estavam na ativa migraram para a reserva, já que haviam cumprido o tempo mínimo de 35 anos de serviço. Cid, porém, ficou apenas afastado por todo esse período até pedir, no mês passado, a chamada cota compulsória, autorizada para quem serviu por pelo menos 20 anos. Com a medida, ele irá para a reserva e terá direito ao pagamento proporcional dos vencimentos.

Preocupação com a segurança
Além da esperança de seguir na carreira, Cid segurou a patente durante todo o processo porque não queria abrir mão da residência funcional a que tinha direito no Setor Militar Urbano, considerado uma das regiões mais seguras do Distrito Federal.

O local fica sob a administração do Exército, é permanentemente monitorado por câmeras e mantinha sentinelas a postos nas proximidades da residência do tenente-coronel.

Ao firmar um acordo com a Polícia Federal, Cid ressaltou o temor de sofrer represálias e pediu uma proteção aos agentes – o que foi confirmado em decisão do STF da última quinta-feira, 11. Ele também ressaltava que, assim que possível, iria deixar o Brasil – um dos possíveis destinos seria os Estados Unidos, onde mora um irmão.

Na última sexta-feira, 12, o vereador Carlos Bolsonaro foi às redes sociais responsabilizar o militar pela condenação de 27 anos do pai. “Parabéns pelo que fez na história brasileira, Mauro Cid!”, escreveu, seguido por uma série de ataques ao ex-ajudante de ordens.

Caberá ao comandante do Exército, general Tomás Paiva, decidir se Mauro Cid terá direito à cota compulsória. Antes disso, uma comissão do Departamento de Pessoal dará um parecer sobre a solicitação. Não há prazo para que o martelo seja batido – e, enquanto isso, o tenente-coronel segue abrigado na região militar.

Gesto ao Supremo
Interlocutores da força também viram a transferência para a reserva como estratégica para Cid. O pedido foi feito num momento em que a Procuradoria-Geral da República pedia a revisão dos termos do acordo de delação e defendia uma premiação mínima de um terço da pena total, o que provavelmente lhe renderia mais de 15 anos de prisão.

Na avaliação de militares, o gesto foi no sentido de Cid se comprometer que não voltaria a servir o Exército, o que seria visto como um acinte caso ele, depois de tudo o que aconteceu, pudesse ser promovido e até ocupar postos de comando na força.
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