Servidores da área de comunicação social do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) criticaram a gestão de Marcio Pochmann em um manifesto divulgado nesta 6ª feira (31.jan.2025).
O documento, com mais de 300 assinaturas, condena o suposto uso da estrutura de comunicação do instituto para promoção pessoal do presidente e de sua equipe, em detrimento da divulgação dos indicadores econômicos do país.
“O trabalho dos profissionais de comunicação do IBGE é voltado para traduzir os resultados de nossas pesquisas para uma linguagem acessível ao cidadão comum. Nossos conteúdos são veiculados para a imprensa e pelos canais oficiais do instituto. O uso dessa estrutura para autopromoção representa um desrespeito à essência dos institutos oficiais de estatística”, afirmam os servidores.
O manifesto também critica a relação da atual gestão com a imprensa. Segundo os profissionais, Pochmann evita conceder entrevistas para jornalistas que cobrem o IBGE regularmente e se limita a responder questionamentos por meio de notas tardias publicadas no portal do instituto.
“Ao contrário de quase todos os seus antecessores, ele nunca realizou uma coletiva com a imprensa que acompanha o IBGE, preferindo falar com correspondentes estrangeiros, blogueiros aliados ou veículos escolhidos sem transparência”, apontam.
Os trabalhadores relatam ainda que os pedidos de informação enviados por jornalistas são frequentemente ignorados, contrariando a política de equidade no atendimento à imprensa.
“A cronologia das solicitações formais encaminhadas à comunicação social do IBGE não é respeitada. Isso fere a ética do instituto, que exige um tratamento equânime e respeitoso a todos os jornalistas, independentemente do veículo ou da localidade”, acrescentam.
Além disso, os profissionais criticam uma sobrecarga de trabalho gerada pela priorização de conteúdos sobre a gestão Pochmann em detrimento da divulgação de indicadores fundamentais, como PIB, inflação, desemprego, safra e produção industrial.
“Além de comprometer a principal função do IBGE, que é informar a sociedade brasileira sobre sua realidade, essa estratégia sobrecarrega jornalistas, designers e outros profissionais de comunicação do instituto”, afirmam.
O manifesto também critica viagens frequentes da equipe de Pochmann pelo país, supostamente realizadas para agendas paralelas vinculadas a divulgações do IBGE, como as do Censo 2022. Segundo os servidores, esses deslocamentos resultam em altos gastos com passagens e diárias, quando poderiam ser substituídos por videoconferências.
Esta já é a 2ª carta com críticas a atual gestão do instituto. Em 20 de janeiro, 125 gerentes e coordenadores assinaram uma carta em protesto à condução de Pochmann no IBGE.
ENTENDA
A presidência do economista Marcio Pochmann, 62 anos, no IBGE tem sido alvo de diversas críticas de funcionários e do Assibge (Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE), que o chamam de “autoritário”.
O sindicato diz que a atual administração não dialoga com os trabalhadores sobre as mudanças estudadas. Afirma, por exemplo, que Pochmann quer mudar o estatuto do IBGE sem diálogo e que as alterações afetariam diretamente as condições de trabalho.
O Poder360 preparou um infográfico com um resumo do imbróglio entre Pochmann e os funcionários do IBGE. Leia abaixo:
Pochmann assumiu o comando do IBGE em agosto de 2023. A chegada também foi marcada por atritos. A ministra Simone Tebet (Planejamento) disse que não havia conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito da escolha. O órgão é vinculado ao Ministério do Planejamento e do Orçamento, do qual Tebet é titular.
“IBGE Paralelo”
As desavenças entre o chefe do IBGE e os trabalhadores do instituto se intensificaram a partir de julho de 2024, quando Pochmann registrou em cartório a Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE, também conhecida como Fundação IBGE+.
O novo braço do IBGE também é chamado de “IBGE Paralelo”. É estrutura de direito privado.
As críticas de funcionários do instituto se dão por argumentarem que o IBGE+ pode receber dinheiro de empresas privadas para, por exemplo, realizar pesquisas contratadas.
Oficialmente, o objetivo da fundação é suprir a falta de dinheiro público para manter a estrutura do IBGE. Alguns funcionários e ex-presidentes da entidade, porém, dizem que abrir espaço para que o órgão receba financiamento do setor privado pode fazer com que a instituição perca autonomia e credibilidade no longo prazo.
Defendem que o IBGE deve divulgar pesquisas para todos e ao mesmo tempo. Além disso, dizem que, quando uma empresa financia uma pesquisa, vai querer que o resultado seja enviado 1º para ela.
Diante do impasse, o governo decidiu na 4ª feira (29.jan) suspender a fundação IBGE+.