VÍDEO – Orações de frei Gilson sob ataques da esquerda e defesa da direita

O sexto dia de orações do rosário realizado no canal do Frei Gilson da Silva Pupo Azevedo em sua campanha de Quaresma reuniu um pico de mais de 2,4 milhões de dispositivos eletrônicos na madrugada desta terça-feira (11). Atingida por volta de 5h30, a mobilização ocorre em meio aos ataques que o religioso tem sofrido de militantes de esquerda nas redes sociais nos últimos dias, enquanto direitistas o defendem. No YouTube, ele tem 6,4 milhões de seguidores. No Instagram, mais 7,3 milhões.

O frei de 38 anos iniciou na última quarta-feira (5) uma campanha de Quaresma que seguirá até o dia 20 de abril, domingo de Páscoa. Todos os dias, às 4h da manhã, ele começa a oração do rosário, seguida de pregação e depois uma missa. A meta do religioso é atingir 40 dias de reuniões durante as madrugadas.

Durante o rosário, o frei não fez qualquer citação aos ataques que sofreu, mas realizou uma oração pelas mentes, momento durante o qual intercedeu a Deus contra pensamentos “confusos”, de “medo”, de “revolta”, de “vingança”, de “inveja” e de “orgulho”.

– Dai-nos, Senhor, discernimento, dai-nos, Senhor, sabedoria, que nós possamos separar o que é bom do que é mal, dai-nos, Senhor, discernimento para discernir o que é certo do que é errado – orou.

O ataque esquerdista

Mesmo ocorrendo durante as madrugadas, as lives do Frei Gilson têm reunido uma média de 1,5 milhão de dispositivos conectados diariamente. Com a repercussão, ele passou a sofrer ataques frequentes de internautas de esquerda, que passaram a ofendê-lo com termos como “fascista”, “negacionista”, “oportunista” e “vagabundo”, entre outros.

” Um frei fascista da Brasil Paralelo, um negacionista, anticiência, misógino. Pra piorar fica dizendo que não existe mudanças climáticas, um canalha oportunista. Um vagabundo da pior espécie que usa a religião para atrasar a evolução planetária. Se existir o capeta, esse é um discípulo dele – escreveu uma internauta.

” Pra quem não sabe, é um extremista bolsonarista, ligado ao Brasil Paralelo. Primeiro tomaram as igrejas evangélicas, pararam de cultuar a Cristo e passaram a cultuar o bezerro de ouro. Agora o plano é tomarem a igreja católica pra usarem a favor do bolsonarismo – disse um influenciador de esquerda.

A militância digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de fato, entrou em campanha contra o ultraconservador católico. O grupo “Militância Raiz”, do Telegram, que reúne influenciadores governistas e petistas que atuam para defender o governo e atacar adversários com informações falsas ou distorcidas, publicou, no sábado, 8, que os objetivos de frei Gilson são meramente bolsonaristas.

A campanha foi disseminada como um “alerta total”. O religioso, na versão da militância governista, seria uma figura usada pelo canal Brasil Paralelo, conhecido por defender Bolsonaro, para “tomar a Igreja Católica”. Fenômeno de audiência, Gilson deu uma entrevista ao canal em outubro que atraiu meio milhão de pessoas.

“Vocês já ouviram falar nesse tal frei Gilson? Ele é a aposta da Brasil Paralelo, produtora bolsonarista, pra tomar a igreja católica, deixar de cultuar a Cristo e passar a cultuar o Bolsonaro”, diz a publicação no grupo “Militância Raiz”.

O grupo da militância no Telegram tem 7,4 mil seguidores. Mas a partir dali as publicações são disseminadas para outros aplicativos e redes sociais. A mensagem, acompanhada de um vídeo curto do frei Gilson, está espalhada, por exemplo, em grupos de WhatsApp de petistas e de apoio ao governo Lula.

Essa estratégia, entretanto, desagrada outra ala lulista. Há quem defenda que comprar briga com o religioso é um erro crasso, sobretudo pela dificuldade do governo em falar com segmentos evangélicos e mais conservadores.

O deputado André Janones (Avante-MG) verbalizou a crítica neste domingo. “Não basta ser rejeitado pelos evangélicos, vamos fazer uma cruzada contra os católicos também, aí a gente se elege só com o votos dos ateus em um país em que quase 80% da população é católica ou evangélica. Que tal?”, escreveu, em tom irônico.

O parlamentar já foi considerado dono de uma estratégia de redes sociais eficiente para a esquerda enfrentar o bolsonarismo na internet. Ele disse que os governistas merecem a impopularidade e que “toda a desgraça é pouca para gente burra e arrogante”. ”Incrível como a arrogância do nosso campo se sobrepõem, mesmo com impopularidade e uma derrota cada vez mais real em 2026. Continuamos mirando no jogador e esquecendo a bola”, publicou.

Um dos influenciadores lulistas resgatou no X uma transmissão de 2021 de frei Gilson, em Brasília, e disse que aquela havia sido uma “live patriota”. O registro tem preces para que “governantes não abusem do poder que vem de Deus”, contra o “flagelo da ditadura” e do “comunismo” e para que os “erros da Rússia” não venham “assolar o Brasil”. “Está bom para vocês ou já está claro que eles estão usando a religião com fins políticos?”, escreveu Vinicios Betiol, um dos membros do “Militância Raiz”.

Entre governistas, nem todos têm aversão ao frade famoso. Na abertura da Quaresma, o ministro Juscelino Filho, das Comunicações, publicou uma foto recebendo as bençãos do religioso em um encontro com ele na Câmara em novembro. “Que Cristo possa nos renovar com sua misericórdia e nos conduzir à humildade”, postou.

Direitistas defendem

Após os ataques contra o frei nas redes sociais, políticos e personalidades de direita se pronunciaram em apoio ao sacerdote. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por exemplo, demonstraram solidariedade com o religioso. Em publicação feita neste domingo (9), Bolsonaro destacou a mobilização de milhões de pessoas em torno das orações.

– Frei Gilson cada vez mais se apresenta como um assunto em oração, juntando milhões pela palavra do Criador. Por isso, cada vez mais, vem sendo atacado pela esquerda – escreveu.

O ex-presidente também reforçou que a fé cristã jamais se curvou diante de perseguições e expressou solidariedade aos religiosos.

– A fé cristã nunca se curvou à perseguição e não será diferente agora. Minha solidariedade a ele e a todos que defendem os valores de Deus e da família – Mateus 5:10-12 – conclui.

Michelle usou os stories do Instagram para enviar uma mensagem ao frei:

– Que Deus te proteja e o livre do homem mau.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e a vereadora por São Paulo Zoe Martinez (PL) também saíram em defesa do religioso. Nikolas leu dois comentários críticos feitos ao frei e ficou revoltado.

– É inacreditável que tem pessoas que fazem esse tipo de comentário (…). Quão deteriorada e pobre tem que ser uma alma para ficar reclamando de pessoas que estão rezando às 4h da manhã?

Zoe também gravou um vídeo querendo entender porque a fé católica está incomodando tanta gente. A vereadora chamou de “infeliz” o comentário de um jornalista que criticou quem acorda cedo para participar da missa.

– Acordar cedo para lavar uma calçada, estudar ou ir correr no parque ninguém quer. Aí morre burro, sedentário e com a casa sebosa e a culpa é do capeta ou do Lula. Detalhe: esse careca é padreco vinculado ao Brasil Paralelo. Compreenderam o sucesso? – escreveu Helder Maldonado.

A parlamentar então respondeu:

– Então quer dizer que, segundo o sabidão, ter fé e ser cristão é sinônimo de burrice? É isso mesmo que eu entendi? (…) Queria ver se o mesmo comentário fosse feito para alguma religião de matriz africana por um cristão… queria ver só. Seria considerado um criminoso – disse.

VÍDEO DAS ORAÇÕES

Sintomas da polarização

O caso do frei Gilson aponta para um cenário político já marcado por uma polarização que beira o insuportável. E ocorrem em um momento em que a popularidade de Lula despenca e o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta processos no Supremo Tribunal Federal (STF) sob o comando do ministro Alexandre de Moraes. O frei chegou a ser chamado de “padreco careca pelo jornalista Helder Maldonado, expõe as entranhas de uma batalha de narrativas que só faz aprofundar o racha no país.

Tudo começou com uma provocação de Maldonado, que em tom sarcástico questionou: “Compreenderam o sucesso?”. O comentário, publicado em redes sociais, pareceu mirar tanto a trajetória de Frei Gilson quanto sua associação com o Brasil Paralelo, um grupo que, para muitos à esquerda, é visto como um símbolo da “direita reaça”.

A resposta não tardou. Uma parlamentar, cuja identidade não foi especificada mas cujo discurso ecoa tons de indignação típicos do campo conservador, rebateu com veemência: “Então quer dizer que, segundo o sabidão, ter fé e ser cristão é sinônimo de burrice? É isso mesmo que eu entendi? (…) Queria ver se o mesmo comentário fosse feito para alguma religião de matriz africana por um cristão… queria ver só. Seria considerado um criminoso.”

A troca de farpas é um microcosmo do que o Brasil vive hoje: uma guerra cultural e política onde cada lado acusa o outro de intolerância, enquanto ambos se entrincheiram em suas bolhas. De um lado, os apoiadores de Lula, em especial os mais radicais, enxergam em figuras como Frei Gilson e no Brasil Paralelo uma ameaça à hegemonia de suas ideias, rotulando-os como propagadores de “desinformação” ou “retrocesso”.

Do outro, a direita, órfã de Bolsonaro no poder mas ainda vocal, grita “perseguição religiosa” e aponta o que considera dois pesos e duas medidas na forma como o debate público trata diferentes crenças.

Um timing conveniente?

Não é coincidência que o ataque ao padre venha à tona agora. Lula, que reassumiu a Presidência em 2023 prometendo unir o país, vê sua aprovação derreter em meio a crises econômicas, escândalos de corrupção no entorno de seu governo e uma percepção crescente de que perdeu o controle da narrativa. Pesquisas recentes mostram sua popularidade em queda livre, enquanto Bolsonaro, mesmo réu em um processo no STF acusado de tramar um golpe de Estado, mantém uma base fiel que o vê como mártir.

O processo, liderado por Alexandre de Moraes — figura odiada pela direita e celebrada por setores da esquerda como “defensor da democracia” —, só joga mais lenha na fogueira.

Nesse contexto, atacar um padre ligado ao Brasil Paralelo parece uma jogada estratégica dos radicais lulistas. É uma tentativa de deslegitimar vozes que, direta ou indiretamente, podem fortalecer o discurso bolsonarista, ainda que Frei Gilson não seja exatamente um militante político. Mas a tática tem seu preço: ao mirar um religioso, a esquerda radical dá munição ao argumento da direita de que há uma cruzada contra a fé cristã no Brasil, algo que ressoa profundamente entre evangélicos e católicos conservadores — grupos que foram decisivos para Bolsonaro em 2018 e seguem influentes.

Hipocrisia ou seletividade?

O contra-ataque da parlamentar de direita levanta uma questão incômoda: e se o alvo fosse outro? Ela tem razão ao sugerir que um comentário debochado sobre religiões de matriz africana feito por um cristão provavelmente geraria um tsunami de acusações de racismo e intolerância, com direito a processos e linchamento virtual. Não é difícil imaginar o Ministério Público sendo acionado e a mídia progressista cobrando punição exemplar.

Mas quando o alvo é um padre católico, o silêncio de algumas instituições — como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que até agora não se pronunciou com força — é ensurdecedor. Seria isso prova de uma seletividade ideológica ou apenas reflexo de uma Igreja Católica dividida e hesitante em entrar na briga?

Críticos dirão que o Brasil Paralelo, com sua visão revisionista da história e tom conservador, não é exatamente um bastião de imparcialidade. Associar-se a ele, mesmo que de forma periférica, coloca Frei Gilson em uma posição vulnerável a ataques. Mas usar essa ligação como pretexto para ridicularizá-lo ou demonizá-lo é um salto que revela mais sobre a intolerância de quem ataca do que sobre o padre em si. A esquerda, que historicamente se vendeu como defensora da diversidade, parece ter dificuldade em tolerar quem pensa diferente — um paradoxo que mina sua própria credibilidade.

Um país à beira do colapso moral

Enquanto Lula afunda e Bolsonaro padece nas mãos de Moraes, o caso de Frei Gilson é apenas mais um sintoma de um Brasil que perdeu o rumo. Direita e esquerda trocam acusações como se estivessem em um ringue, mas quem perde é a possibilidade de um diálogo minimamente civilizado.

A polarização, que já custou amizades, famílias e até vidas na eleição de 2022, ganha novo fôlego com episódios como esse. E no meio do fogo cruzado, figuras como o padre careca viram peões em um jogo maior, onde a fé, a política e o poder se misturam em uma dança perigosa.

Se há algo a aprender aqui, é que o Brasil precisa urgentemente de freios. Atacar um religioso por suas supostas conexões não resolve a crise de Lula nem apaga os processos de Bolsonaro. Só prova que, enquanto os dois lados se digladiam, o país segue refém de suas próprias contradições. E assim, seguimos todos carecas — de ideias e de esperança. (Do Ver-o-Fato, com informações do Estadão e agências)


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