Padre Júlio Lancellotti em escuta à população de rua, em Belém. Foto: VídeoReprodução
Padre Júlio Lancellotti tem sido um exemplo de solidariedade e humanidade por sua defesa intransigente das pessoas em situação de rua. “Comer com os famintos é um ato revolucionário. Partilhar o pão no mundo da exclusão é um ato revolucionário. Você comer com os indesejáveis, comer com os evitados, comer com os que não servem para nada, segundo essa sociedade, é um ato transformador. Por isso eu sempre digo, e essa frase entrou em mim na minha reflexão: com uma mão eu partilho o pão, e com a outra eu luto”, disse ele, em evento realizado pela Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE), na última segunda-feira (24).
Em uma assembleia improvisada debaixo de uma tenda, no dia seguinte, as pessoas em situação de rua compartilharam com a Defensora e o Padre diversas violações dos direitos humanos, entre as quais, a violência sistematizada nas abordagens policiais, perfilamento racial, casos concretos de transfobia, racismo, sexismo, pobrefobia, e o abandono da Casa Rua pela Prefeitura de Belém. “Vamos levar à imprensa internacional pra ver a Casa que está sucateada, os funcionários que foram demitidos”, disse o Padre.
Inaugurada em 2022, pelo então prefeito Edmilson Rodrigues, a Casa Rua oferecia acolhimento, condições básicas de alimentação, banho, assistência médica com consultas, curativos, cuidados com a saúde mental, atividades recreativas tuberculose, hanseníase, HIV/ Aids e vacinação. As políticas públicas para a população em situação de rua chegaram a servir de referência para o Ministério da Justiça.
Quem dera o prefeito de Belém e o próprio governador do Pará tivessem recebido o Padre Júlio e fossem tocados por suas palavras. Além do desmonte da Casa, o fechamento do Restaurante Popular completa três meses, sem nenhuma perspectiva de reabertura, deixando centenas de pessoas em situação de rua passando fome e buscando comida no lixo. Enquanto o estado do Pará lidera o ranking da fome, sem nenhuma iniciativa política para reversão deste quadro.
Ao final, Padre Júlio lançou a proposta de uma “COP da população de rua”. “Eles não se importam com a população de rua, mas eles vão ter medo quando a imprensa internacional ouvir que eles inventaram a cidade, e esconderam os pobres. Eles vão ter medo da imprensa internacional“.
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