A farra das apostas online no Brasil não só continua como ganhou status de fenômeno econômico. Segundo o Banco Central (BC), os brasileiros destinaram entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês a sites de apostas no primeiro trimestre de 2025. O número foi revelado nesta terça-feira (8), durante depoimento do secretário-executivo Rogério Lucca à CPI das Bets no Senado.
Os dados assustam, mas o mais grave talvez seja o seguinte: o próprio Banco Central admite que não tem autoridade legal para fiscalizar o setor. A conclusão é clara — temos um mercado que movimenta quase um PIB da Bolívia todo mês, mas ninguém está realmente olhando para onde esse dinheiro vai.
Desde que a regulamentação passou a valer em 1º de janeiro, só operadoras autorizadas pelo Ministério da Fazenda podem atuar. Mas na prática, o sistema continua operando com brechas generosas. Segundo Galípolo, presidente do BC, a autoridade monetária não pode fiscalizar, sancionar ou interferir nas bets, porque elas não são tecnicamente instituições financeiras.
“As bets não prestam serviços de pagamento. Estão fora do alcance do Banco Central”, declarou Galípolo.
Resumindo: o dinheiro circula em volume inédito, impacta o sistema financeiro, distorce o crédito, mas ninguém pode encostar a mão.
Uma nota técnica do próprio BC revelou que só em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões em Pix para sites de aposta. Mesmo com o setor tentando relativizar os números (alegando que parte foi devolvida em prêmios), a cifra é perturbadora.
O BC reconheceu que subestimou o retorno em prêmios: o estudo inicial falava em 85% devolvido aos apostadores, mas dados mais recentes apontam para algo entre 93% e 94%. Isso não muda o fato de que bilhões estão indo e vindo sem qualquer rastreabilidade pública.
- Juscelino Filho decide pedir demissão do Ministério das Comunicações
- Gilmar Mendes sobre 8 de janeiro: “Não faz sentido discutir anistia”
- PL vai retirar obstrução no Congresso; líder diz ter 199 assinaturas por anistia
O presidente do BC também revelou um dado incômodo: quem aposta online tem risco de crédito mais alto, e os bancos já estão cobrando juros maiores de apostadores frequentes. A lógica é simples — quem joga, perde. Quem perde, deve. E quem deve, paga mais caro pra dever de novo.
“A atividade de apostas está sendo considerada na análise de risco de crédito”, disse Galípolo.
Traduzindo: a aposta está oficialmente entrando na fatura de quem tenta pegar um empréstimo ou financiar um carro. O que era entretenimento virou métrica de risco bancário.
Instalada em novembro de 2024, a CPI das Bets foi criada para apurar o impacto do setor nas famílias brasileiras e possíveis conexões com organizações criminosas. Mas até agora, o que se viu foi uma sucessão de depoimentos que confirmam o óbvio: o mercado virou um buraco negro financeiro onde todos ganham — menos o cidadão comum.
O mais alarmante é que mesmo depois da regulamentação, o Estado brasileiro segue de mãos atadas, seja por falta de estrutura, vontade política ou — quem sabe — conveniência de manter esse cassino digital girando sem muitos olhos por perto.
Enquanto isso, R$ 30 bilhões seguem apostados todos os meses, boa parte vindo de gente endividada, de famílias em situação de vulnerabilidade e, em muitos casos, de quem recebe auxílio do próprio governo que diz querer protegê-los.
O post Brasileiros apostam até R$ 30 bilhões por mês em bets, revela secretário-executivo do Banco Central apareceu primeiro em Agora Notícias Brasil.