O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, entregou sua carta de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje,8, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por desvio de emendas parlamentares. A decisão, revelada pelo Estadão, marca o desfecho de uma trajetória marcada por suspeitas de corrupção que Lula, mesmo ciente, ignorou desde a nomeação do aliado em 2023.
Segundo o jornal, Juscelino acumula denúncias graves, mas o presidente optou por mantê-lo no cargo até que a pressão se tornasse insustentável.
A gota d’água veio com a denúncia formal da PGR, que acusa Juscelino de direcionar recursos do Orçamento da União, quando ainda era deputado federal, para asfaltar uma estrada em Vitorino Freire (MA) que beneficiava diretamente a fazenda de sua família. O município, à época, era comandado por sua irmã, Luanna Rezende, que acabou afastada da prefeitura durante as investigações.
Reportagens do Estadão em 2023 já haviam escancarado o esquema, mas Lula, segundo fontes próximas ao Planalto, preferiu segurar o ministro, alegando que ele era uma peça útil na defesa de sua gestão.
Antes de embarcar para Tegucigalpa, onde participa da 9ª Cúpula da Celac, Lula tentou uma última conversa com Juscelino por telefone. Disse que gostaria de um encontro presencial, mas o ministro, acuado, antecipou-se e pediu demissão, afirmando que não queria “constranger” o governo. Ele agora se defenderá fora do cargo, enquanto o STF decide se aceita ou não a denúncia. Em nota, seus advogados insistem na “total inocência” do ex-ministro, chamando a acusação de “perseguição política”.
Uma saída estratégica
A vaga de Juscelino no Ministério das Comunicações já tem destino certo: o União Brasil, partido do ex-ministro, deve indicar o deputado Pedro Lucas Fernandes Ribeiro (MA), líder da legenda na Câmara, para substituí-lo. A articulação foi selada em um almoço nesta terça-feira, com a presença de nomes como Gleisi Hoffmann, ministra de Relações Institucionais, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, e Antônio Rueda, chefe do União Brasil. Alcolumbre e o deputado Elmar Nascimento (BA), ambos padrinhos de Juscelino, também estiveram na mesa, sinalizando a força do Centrão na dança das cadeiras.
A crise chega em um momento delicado para Lula, que enfrenta queda de popularidade e pressões internas no PT por uma reforma ministerial mais ampla. Até agora, as trocas se limitaram a pastas petistas – como a entrada de Sidônio Palmeira na Secom e Gleisi Hoffmann nas Relações Institucionais –, mas a saída de Juscelino pode abrir espaço para mexidas que alcancem o PSD de Gilberto Kassab e outros aliados. Interlocutores do presidente, segundo o Estadão, já admitiam nos bastidores que a permanência de Juscelino era “insustentável”.
Corrupção sob os holofotes
Juscelino não é um novato em escândalos. Além do caso das emendas, ele foi indiciado pela Polícia Federal em 2023 por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Na época, Lula declarou que o ministro ficaria no cargo até uma denúncia formal, mas, mesmo após os alertas, manteve-o como peça-chave no xadrez político. “Se houver indiciamento, ele será afastado”, disse o presidente em junho passado, uma promessa que só se concretizou agora, sob o peso da PGR.
O Estadão aponta que a insistência de Lula em blindar Juscelino, apesar das evidências, reflete uma escolha pragmática: preservar alianças com o União Brasil e o Centrão, mesmo que isso custasse credibilidade. Para o ex-ministro, a narrativa é de vitimização – ele alega que apenas indicou emendas, sem controle sobre licitações ou obras –, mas os fatos expostos pelo jornal pintam um quadro de favorecimento familiar escancarado.
O preço da impunidade
A queda de Juscelino é um lembrete cruel do custo de ignorar denúncias de corrupção. Quando um governo opta por fechar os olhos – como Lula fez, segundo o Estadão, ao manter um ministro sob suspeita –, o preço recai sobre a confiança pública e a moralidade da gestão. A falência aqui não é de uma empresa, mas de um pacto ético: ao priorizar a política acima da probidade, o Planalto se vê agora forçado a apagar incêndios que poderiam ter sido evitados.
Para o PT, resta a esperança de que a saída de Juscelino seja um ponto de virada; para os brasileiros, fica a dúvida se outros “Juscelinos” ainda estão a salvo no governo.
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