Do esquema de aposta ao indiciamento: como cartão amarelo colocou Bruno Henrique na mira da PF

A Polícia Federal indiciou o atacante Bruno Henrique, ídolo do Flamengo, por fraude em evento esportivo e estelionato. O camisa 27 do Rubro-Negro é acusado de manipular cartões amarelos para lucrar em apostas on-line, durante a partida contra o Santos, em novembro de 2023.

O SBT News teve acesso à investigação, que tem quase 800 páginas, e preparou uma reportagem especial que mostra a cronologia do crime até o indiciamento. A defesa do atleta ainda não se pronunciou.

As conversas do esquema

29 de agosto de 2023

Conversa entre Bruno Henrique e o irmão Wander | Reprodução

Conversa entre Bruno Henrique e o irmão Wander | Reprodução

Conversas entre Bruno Henrique e o irmão Wander | Reprodução/PF

Já em 7 de outubro, Bruno Henrique pergunta ao irmão se ele consegue fazer um Pix de R$ 10 mil. Wander Júnior diz que sim, mas o jogador comenta que não pode ser no nome dele, por ser da família.

O irmão pergunta se vai dar ruim se o Pix for dele. O atacante diz que “vai” e afirma que é “negócio de aposta”.

Wander Junior questiona se o jogador poderia “tomar um cartão hoje”. Naquele dia, havia um Corinthians X Flamengo. Bruno Henrique responde que não, pois já tinha um cartão amarelo acumulado.

Em 20 minutos, o atleta do Flamengo conta ao irmão que conseguiu uma pessoa para a transferência bancária. No final da partida contra o Corinthians, Bruno Henrique acabou advertido pelo juiz e tomou o cartão amarelo em circunstância normais do jogo.

16 de outubro 2023

Conversas entre Bruno Henrique e o irmão Wander | Reprodução/PF

Conversas entre Bruno Henrique e o irmão Wander | Reprodução/PF

Cerca de duas semanas antes da partida suspeita de manipulação, o irmão do atacante pede para ele avisar quando for tomar o amarelo.

“Tá com 2 de novo, hein? Quando for o 3º avisa eu kkkkk”. Bruno Henrique tira sarro e diz “caraca, me chamou pra falar isso. Tá de brincadeira, né?”.

31 de outubro de 2023

Conversas entre Bruno Henrique e o irmão Wander | Reprodução/PF

Na véspera da partida em que supostamente houve manipulação, contra o Santos, Bruno Henrique avisou o irmão e ligou para ele. “Aí, lembra a parada que você me perguntou uns tempo atrás?”. De acordo com a Polícia Federal, o conteúdo da ligação era para alinhar a aposta de cartão amarelo.

Quanto e quem lucraria x salário do jogador
O esquema envolvia dois núcleos que lucrariam com o cartão amarelo. O primeiro é o grupo familiar composto por Wander Nunes Júnior Henrique, Ludymila Araújo e Poliana Cardoso, respectivamente irmão, cunhada e prima do jogador.

Núcleo de apostadores | Reprodução/PF

O segundo é formado por amigos e conhecidos do atacante. Ao todo, a aposta seria quase R$ 7 mil com lucro de cerca de R$ 14 mil. No processo judicial, a defesa do atleta argumenta que os valores envolvidos não eram expressivos.

Bruno Henrique é atacante do Flamengo desde 2019. De acordo com o inquérito, ele teria renovado o contrato com o clube no início de 2024, por mais três anos. Só de salários, ele receberia R$ 70 milhões no período, sem contar remunerações que variam a cada temporada.

Características das apostas
Segundo a Polícia Federal, as apostas foram registradas por contas recém-criadas, indicando novos apostadores com o objetivo único de apostar em Bruno Henrique.

Além disso, havia um número de apostas “anormal” em Belo Horizonte, Minas Gerais, cidade natal do atacante. Os jogos eram feitos com valor máximo permitido nas bets.

Suspeita
De acordo com a investigação, ao menos cinco casas de aposta perceberam uma movimentação estranha para que Bruno Henrique recebesse um cartão amarelo contra o Santos, no dia 1º de novembro de 2023.

  • Uma das plataformas teve 98% das apostas para Bruno Henrique receber o cartão. Em outra bet, o registro foi de 95% para o jogador ser advertido;
  • De acordo com o histórico do comportamento do atleta, as chances de ele receber o cartão era de apenas 15%. A análise foi anexada na investigação policial.

Alertas e investigação

  • Em 29 de julho de 2024, a International Betting Integrity Association, uma associação de operadoras esportivas, envia o relatório das movimentações suspeitas para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF);
  • Em 31 de julho, a CBF instaura uma investigação interna, encaminhando o ofício a Polícia Federal, Ministério Público e outras autoridades;
  • Em setembro de 2024, a Polícia Federal abre o inquérito policial. Dois meses depois, agentes cumprem mandados de busca e apreensão em endereços dos investigados, incluindo o de Bruno Henrique;
  • Entre janeiro e fevereiro de 2025, são analisados os celulares e outras provas apreendidas, bem como laudos periciais;
  • A PF elaborou o relatório do inquérito e indiciou na segunda-feira (14) os seguintes envolvidos:

Andry Sales Nascimento dos Reis, Bruno Henrique, Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Douglas Ribeiro Pina Barcelos, Vitor Mosquete Bassan, Henrique Mosquete do Nascimento, Ludymilla Araujo Lima, Max Evangelista Amorim, Poliana Ester Nunes Cardoso, Rafaela Cristina Elias Bassan e Wander Nunes Pinto Júnior.

O SBT News tenta localizar a defesa do jogador e dos demais citados e atualizará a reportagem assim que receber o posicionamento.

O Flamengo, clube de Bruno Henrique, disse não ter sido comunicado oficialmente acerca dos fatos. “O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito”, diz a nota.

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