Você sabe qual a melhor gordura para a microbiota intestinal?

Novo estudo aponta as gorduras insaturadas, encontradas no azeite de oliva, na linhaça, na sardinha e nas castanhas, como aliadas da saúde do intestino

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Sempre associada à saúde cardiovascular, a gordura é destaque em uma pesquisa, publicada recentemente no periódico Nutrients, que mostra a relação do nutriente com a microbiota intestinal. Cientistas da Universidade Laval, no Canadá, se debruçaram em dezenas de estudos e concluíram que os efeitos no intestino podem variar de acordo com o tipo de ácido graxo, nome técnico para as partículas de gorduras.

Segundo os pesquisadores, os ácidos graxos insaturados, presentes nos óleos vegetais, apresentam impactos positivos. Já os saturados, das carnes vermelhas, estão por trás do desequilíbrio na população de micro-organismos que habitam o cólon.

Atualmente, a microbiota vem sendo esmiuçada e são muitas as evidências que reforçam a importância de zelar pela harmonia desse ecossistema. Os cuidados colaboram para a integridade da parede intestinal, o que impede substâncias nocivas de viajarem pela circulação, desencadeando inflamações e outros danos.

Pesquisas mostram que manter uma maior concentração de bactérias benéficas em comparação com as patogênicas favorece o sistema imunológico e contribui para o humor. Os efeitos na saúde mental estão relacionados com a produção de neurotransmissores — os mensageiros químicos responsáveis pela comunicação entre os neurônios — do bem-estar, caso da serotonina.

Ainda que caprichar no consumo de fibras, vindas de frutas, hortaliças e grãos integrais, seja considerada a principal estratégia para combater a chamada disbiose, ou seja, o desequilíbrio da população bacteriana, vale a atenção para os tipos de gordura, conforme destacado no estudo canadense.

As moléculas engorduradas

No mundo dos lipídios (outro nome técnico para as gorduras), uma pequena alteração na estrutura química modifica completamente a sua atuação. Embora o nutriente seja essencial para diversas funções do organismo – síntese de hormônios, absorção de vitaminas e composição das membranas celulares, por exemplo –, o excesso do tipo saturado está associado a muitos problemas.

Os ácidos graxos saturados aparecem em fontes animais, caso das já mencionadas carnes vermelhas, do leite e seus derivados e ainda em alguns vegetais, como os óleos de coco e de palma. Na cozinha, as gorduras saturadas não amolecem facilmente, precisam de temperaturas altas para liquefazer. No organismo, tendem a se comportar de maneira similar, o que ajuda a explicar o elo com o entupimento das artérias. Também estão em produtos industrializados como biscoitos recheados, salgadinhos, entre outros.

Além de prejudicar a microbiota, muitas pesquisas atestam que o exagero no consumo pode favorecer males cardiovasculares, diabetes e tumores no intestino. Inclusive, um estudo recente, publicado no periódico científico JAMA Internal Medicine, corrobora com essas associações.

Pesquisadores de universidades dos Estados Unidos e da Dinamarca avaliaram dados de mais de 221 mil pessoas, acompanhadas por 33 anos. Eles compararam a ingestão de manteiga – fonte de saturadas – com a de óleos vegetais, caso do de soja, o de canola e o de oliva. Os resultados apontam para uma relação entre a manteiga e o risco maior para doenças cardiovasculares e câncer.

“Esses trabalhos reforçam o que já vem sendo estudado há anos”, comenta o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein. O médico enfatiza a recomendação de abrir espaço no cardápio para alimentos ricos em insaturadas. “Consumir fontes de monoinsaturadas e poli-insaturadas, dentro de uma dieta equilibrada, ajuda a manter um intestino saudável e afasta diversos males”, indica.

O time das insaturadas

Esse grupo apresenta gorduras mais moles e até líquidas. Entre as representantes está a monoinsaturada, que também é chamada de ômega-9 pelos especialistas. Além do azeite de oliva, o abacate e o amendoim são excelentes fornecedores.

Há indícios de que colabora para o equilíbrio dos níveis de colesterol em circulação, resguardando, portanto, as artérias. Já as poli-insaturadas compreendem os ômegas 3 e 6. O ômega-3, da sardinha, do salmão, da linhaça e da chia, coleciona evidências pela ação anti-inflamatória e protetora do cérebro e aparece em trabalhos pelas alcunhas DHA e EPA.

O ômega-6, por sua vez, está nas castanhas e nos óleos vegetais, como os de soja e girassol. Trata-se de uma substância que atua em prol da imunidade.

Tanto as monoinsaturadas quanto as poli-insaturadas são aliadas do intestino. “No estudo canadense é mencionada a melhora na microbiota e um dos mecanismos envolvidos é a produção, pelas próprias bactérias, de metabólitos conhecidos como ácidos graxos de cadeia curta”, explica Cukier. Entre esses compostos benéficos estão o acetato, o butirato e o propionato, que blindam a mucosa intestinal, brecando inflamações.

Ainda que todas as benesses estejam relacionadas com as insaturadas, elas devem ser consumidas dentro do equilíbrio, sem excessos. A manteiga e outras fontes de saturada não precisam ser totalmente banidas do cardápio, a orientação é degustar com muita parcimônia.

Fonte: Agência Einstein

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