O governo dos Estados Unidos atualizou nesta 6ª feira (18.abr.2025) uma página no site da Casa Branca sobre a covid, criada durante o governo Biden para registrar atualizações sobre a pandemia e a vacinação. O governo Trump declarou que os dados mostram que todos os casos de covid decorrem de uma única introdução em humanos. “Isso contrasta com pandemias anteriores, nas quais houve múltiplos eventos de contágio”, afirmou a Presidência norte-americana.
Segundo a Casa Branca, pesquisadores do WIV (Instituto de Virologia de Wuhan, na sigla em inglês) adoeceram com sintomas semelhantes aos da covid no outono de 2019 (de setembro a novembro), meses antes de a doença ser descoberta no mercado de alimentos, em meados de dezembro do mesmo ano.
Para a Casa Branca, a origem da covid se deu depois de um incidente laboratorial envolvendo pesquisa de ganho de função, que altera geneticamente um organismo a fim de melhorar as funções biológicas dos produtos genéticos. O governo também diz que o vírus Sars-CoV-2 possui uma característica biológica que não é encontrada na natureza.
“As autoridades de saúde pública frequentemente enganam o povo norte-americano por meio de mensagens conflitantes, reações impulsivas e falta de transparência. Mais flagrantemente, o governo federal demonizou tratamentos alternativos e desfavoreceu narrativas, como a teoria do vazamento de laboratório, em um esforço vergonhoso para coagir e controlar as decisões de saúde do povo norte-americano”, declarou o governo dos EUA.
Donald Trump (Partido Republicano) ficou à frente da Presidência durante o 1º ano da pandemia (2020) e depois foi sucedido por Joe Biden (Partido Democrata). A hipótese de que o vírus surgiu de um erro laboratorial é considerada desde o início da pandemia. No entanto, não há dados científicos suficientes que confirmem a teoria.
A página do governo norte-americano afirma, ainda, que o artigo da revista científica Nature “The Proximal Origin of Sars-CoV-2”, publicado em março de 2020 (íntegra – PDF – 849 kB, em inglês), a respeito da doença foi “usado repetidamente por autoridades de saúde pública e pela mídia para desacreditar a teoria do vazamento de laboratório”. Segundo a Casa Branca, a publicação foi motivada pelo doutor imunologista norte-americano Anthony Fauci a “promover a narrativa preferida de que a covid se originou na natureza”.
Fauci foi diretor do Niaid (Instituto Nacional para Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, na sigla em inglês) de 1984 a 2022 e liderou pesquisas sobre tratamentos e vacinas contra a covid. Também foi o principal consultor médico da Presidência dos EUA durante a pandemia e integrou a Força Tarefa da Casa Branca para o Coronavírus e o Time de Respostas da Casa Branca para a covid-19.
Durante sua atuação no governo, o médico aconselhou sobre estratégias de mitigação, como distanciamento social, uso de máscaras e vacinação. Além disso, o imunologista foi peça central para comunicar sobre o cenário sanitário à população e à mídia dos EUA, participando frequentemente das coletivas de imprensa da Casa Branca e explicando dados científicos sobre a doença de maneira acessível.
No novo site da Casa Branca, o governo Trump também afirmou que o consultor sênior de Fauci, o doutor David Morens, “obstruiu deliberadamente a investigação do Subcomitê Seleto [da Câmara dos Representantes], provavelmente mentiu para o Congresso em diversas ocasiões, excluiu ilegalmente registros federais da covid e compartilhou informações não públicas sobre os processos de concessão de subsídios do NIH [Instituto Nacional de Saúde dos EUA, na sigla em inglês]”.
A Presidência dos EUA declarou, ainda, que as medidas de distanciamento social, uso obrigatório de máscaras e confinamento social foram arbitrárias, sem bases científicas e provocaram “danos imensuráveis” à economia e à saúde mental, respectivamente.
Além de criticar a gestão de Joe Biden, a Casa Branca também reprovou a atuação da OMS (Organização Mundial da Saúde, na sigla em inglês) durante a pandemia: “A resposta da OMS à pandemia de covid-19 foi um fracasso completo, pois cedeu à pressão do Partido Comunista Chinês e colocou os interesses políticos da China acima de seus deveres internacionais”, diz o site da Presidência norte-americana.
A retomada da discussão sobre a origem do vírus da covid se dá em um contexto em que os EUA e a China travam uma guerra comercial. Desde que voltou ao Executivo, em 20 de janeiro, Donald Trump impôs tarifas a diversos países, especialmente à China. O país governado por Xi Jinping foi taxado em até 245%, depois de várias trocas de tarifas retaliatórias entre os 2 governos. Pequim, por sua vez, impôs taxas de 125% a produtos vindos dos EUA. Enquanto Trump afirma que as taxas servem para “Tornar a América Grande Novamente” e proteger o comércio norte-americano, a China diz que não recuará.
Em 17 de abril, o presidente dos Estados Unidos disse que “não quer” continuar elevando as tarifas contra a China. Segundo ele, continuar com os aumentos poderia travar o comércio entre as 2 maiores economias do mundo.
Segundo a agência de notícias Bloomberg, Trump afirmou que a China já procurou iniciar negociações. Disse que altos representantes do governo chinês, sob a liderança de Xi Jinping, entraram em contato com a Casa Branca. “Tenho um relacionamento muito bom com o presidente Xi e acho que vai continuar. E eu diria que eles entraram em contato várias vezes”, declarou.
Quando questionado se o próprio Xi o procurou, respondeu: “Bem, a mesma coisa. Eu vejo de forma muito semelhante. Seriam os altos escalões da China. Ele sabia exatamente. Ele administra tudo de forma muito rigorosa, muito forte, muito inteligente”.