Espírito Santo vai financiar energia limpa com royalties do petróleo

O governo do Espírito Santo vai destinar R$ 500 milhões do seu fundo soberano –abastecido com royalties do petróleo– para a criação de um fundo voltado ao financiamento da transição energética. 

O novo instrumento, segundo o governador Renato Casagrande (PSB), será operado por uma gestora, que será selecionada via edital publicado em 29 de abril. A ideia é financiar empresas que troquem combustíveis fósseis por fontes limpas ou aumentem a eficiência de seus processos e gerem descarbonização. 

Teremos R$ 500 milhões do fundo soberano aplicados num fundo de descarbonização para adiantar a transição energética. É um passo importante porque nenhum Estado tem esse instrumento e capacidade de fazer esse investimento“, afirmou o governador em entrevista ao Poder360.

O fundo será estruturado para atrair outros cotistas, como empresas, bancos ou organizações multilaterais. Casagrande citou a maior empresa do Estado, a Vale, como possível interessada. 

“Se a Vale quiser colocar recurso para seus fornecedores reduzirem carbono, também pode. Se o Banco Mundial quiser colocar recurso, também pode”, disse Casagrande.

Desde 2015, o Estado capitaliza o fundo soberano com parte dos royalties do petróleo. A lei de 2019 determina que uma fração da receita com royalties e participações especiais seja poupada mensalmente.

Atualmente, o fundo tem R$ 2 bilhões. No passado, ações como a criação do fundo de descarbonização já foram testadas. Eis os valores e a destinação dada pelo Estado: 

  • R$ 250 milhões – investimento em empresas de inovação que operem no Espírito Santo; 
  • R$ 250 milhões – investimento em debêntures de empresas que seguem as práticas ESG. 

Em todos os casos, a meta é capitalizar a empresa, ter ganho de escala e depois vender a parte do Estado com lucro. 

Meta de descarbonização 

O Espírito Santo é o 1º Estado brasileiro a estruturar um fundo de descarbonização com recursos de royalties do petróleo ou de qualquer outra origem. 

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Sérgio Lima/Poder360 – 21.ago.2024

Segundo Casagrande, empresas e organismos internacionais poderão ser cotistas do fundo de descarbonização do Espírito Santo

A medida está alinhada ao plano estadual de neutralidade de carbono até 2050. A meta intermediária é reduzir as emissões em 27% até 2030. Para isso, o governo estima a necessidade de R$ 5 bilhões em investimentos.

Esta [iniciativa do fundo] não é a única fonte de financiamento, mas é um instrumento importante. Hoje, o Brasil discute como financiar a transição energética, e o Espírito Santo está colocando um instrumento de pé“, afirmou o governador.

Casagrande também pretende apresentar o fundo a potenciais investidores nos Estados Unidos, durante a chamada “Brazilian Week”, em meados de maio, quando empresários e políticos brasileiros fazem um roadshow em Nova York para atrair investidores. 

Ele também espera que o fundo esteja operando até agosto, a tempo da COP30, marcada para novembro em Belém (PA).

Disciplina fiscal e recado a Lula

Segundo Casagrande, o fundo só é viável graças à situação fiscal equilibrada do Espírito Santo. Ele defende que o governo federal siga o mesmo caminho. 

O Brasil tem que achar o seu equilíbrio fiscal, não tem outro caminho. Não teremos um caminho de segurança se não encontrarmos o equilíbrio.”

Questionado se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estão no rumo certo, Casagrande disse que sim, mas com ressalvas: O governo está tentando. Está no caminho certo. Mas tem que dar mais velocidade a isso e mostrar mais unidade para gerar confiança a sociedade brasileira.

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Sérgio Lima/Poder360 – 21.ago.2024

Segundo o governador do Espírito Santo, não há caminho de sucesso para um país sem disciplina fiscal. Ele disse que falta o governo Lula ser mais rápido nesse quesito

Sugestão para a margem equatorial

Casagrande sugeriu que o governo federal adote modelo semelhante ao capixaba ao tratar da exploração de petróleo na margem equatorial. 

Se o Brasil tomar a decisão de que o dinheiro que vai para os municípios, os Estados e a União será usado para financiar a transição energética e proteger a floresta, estará usando a alavanca do adversário, que é o combustível fóssil, para energizar uma prática sustentável.”

O edital de seleção da gestora do fundo será publicado no dia 29 de abril. A expectativa é que a operação comece no 2º semestre. O Bandes (Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo) coordena a implantação do instrumento.