Na madrugada da última quinta-feira, 17 de abril, uma estrada deserta entre os municípios de Moju e Tailândia, no nordeste do Pará, foi palco de um crime hediondo que chocou a região e todo o Pará. Em um depoimento emocionado e carregado de dor ao programa Balanço Geral, uma mãe e sua filha narraram, ainda abaladas, os momentos de horror que viveram ao testemunhar o assassinato do marido e padrasto, vítima de um homem armado que também estuprou a mãe e tentou abusar da jovem.
O pesadelo começou quando o carro em que a família viajava pela rodovia PA-475, à altura do KM 50 teve os pneus estourados ao bater um buraco, um dos muitos que infestam estrada sem manutenção. O empresário André Ferraz, de 45 anos, que estava com a esposa e a enteada, ao parar o veículo e saltar para verificar o que tinha acontecido, foi surpreendido pelo criminoso, já empunhando uma arma, que surgiu por trás do carro.
“Ele nos colocou dentro do veículo, amarrou meu marido e nos levou para o matagal”, relatou a mãe, com a voz embargada. O que se seguiu foi uma sequência de violência brutal. O marido, ao tentar reagir para proteger a esposa e a enteada, foi baleado pelo agressor. “Ele não aguentou e partiu pra cima dele. O homem atirou”, descreveu a filha, ainda visivelmente traumatizada.
Desesperadas, mãe e filha correram em direções opostas, gritando por socorro. A esperança de ajuda surgiu ao avistarem uma ambulância, mas o pedido de auxílio foi negado. “Eu batia na ambulância, implorava. Eles disseram que não podiam socorrer porque já tinham duas vítimas dentro. Eu pedia, ‘Por favor, levem ele pra algum lugar!’”, contou a mãe, descrevendo a angústia de ver o marido agonizando sem assistência. A ambulância partiu, deixando a família à própria sorte.
Após conseguirem carona em um ônibus até uma vila próxima, outra ambulância foi acionada, mas já era tarde. “Quando chegamos, disseram que não tinha mais o que fazer. Deram o óbito”, lamentou a filha. O homem, segundo elas, ainda vasculhou os celulares da família, temendo ter sido gravado, e deixou os aparelhos após revirá-los.
O ataque a mãe e filha
A violência, no entanto, não parou na morte de André Ferraz. Com a mãe amarrada no banco do carona, o criminoso a estuprou, enquanto o corpo do marido jazia no banco traseiro. “Ele amarrou minhas mãos no engate do banco, me puxou pra fora e fez o ato. Foi uma hora de terror”, relatou a mãe, com lágrimas nos olhos. Após o abuso, o agressor voltou a mexer nos celulares, prolongando o martírio por mais meia hora.
A filha, por sua vez, enfrentou uma tentativa de estupro. “Ele tentou algo comigo, mas eu pedi pra tirar a arma da mão, porque eu tinha medo que atirasse por engano. Comecei a lutar, me batendo no carro”, disse. Em um momento de distração do criminoso, ela conseguiu escapar, mas não sem presenciar a brutalidade final: o padrasto, que tentou se soltar para protegê-las, foi baleado novamente. “Ele deu três tiros, dois acertaram meu padrasto”, contou a jovem.
O caso, que expõe a vulnerabilidade de estradas isoladas e a fragilidade do socorro em situações de emergência, está sob investigação. As autoridades locais ainda buscam o responsável, enquanto a comunidade cobra justiça para a família devastada por tamanha crueldade.
Buracos e descaso
O que chama a atenção nesse crime brutal é que tudo aconteceu devido ao péssimo estado da rodovia PA-475, que foi privatizada e entregue à empresa Rota do Pará, responsável pela operação e manutenção de 526,2 km de rodovias no estado, incluindo os trechos da PA‑150, PA‑475, PA‑252, PA‑151 e PA‑483, entre Marabá e Belém. O contrato de concessão foi instituído em setembro de 2023 e tem duração de 30 anos, abrangendo serviços de conservação, manutenção e atendimento emergencial 24 h.
O buraco enorme, onde o carro de André bateu e teve os pneus estourados, não sabe o que é manutenção faz tempo. Os moradores da região apontam o descaso da empresa. Em nota, ela se manifestou, dizendo que “vai instalar câmeras de monitoramento ao longo do trecho. implantar bases avançadas para o policiamento rodoviário, além de ações ações integradas com órgãos de segurança pública para reforçar patrulhamento e apoio imediato aos usuários”.
A pergunta é: por que só fará isso agora, após o brutal assassinato de André e o terror vivido por sua esposa e enteada? Deveria ter feito isso antes, pois já teve tempo suficiente para dizer a que veio, embolsando contratos milionários sem prestar o devido serviço exigido pela população que, afinal, é quem paga essa conta salgada e sem a devida contrapartida. ..
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