*Por Hanaa Tameez
A Gannett, maior rede de jornais dos Estados Unidos, não publicará mais dados demográficos e de diversidade sobre sua força de trabalho e reformulou seu site corporativo para remover menções à diversidade.
O anúncio foi feito em uma reunião da empresa em 9 de abril. Um porta-voz me disse que a empresa está “se adaptando ao ambiente regulatório em evolução” e, em um e-mail de acompanhamento, quando solicitei esclarecimentos, me enviou o decreto de Trump, de 22 de janeiro, que elimina iniciativas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) em agências federais e pede o fim da “discriminação de DEI no setor privado.”
A Gannett não especificou se o governo Trump entrou em contato com alguém da empresa ou se pediu que fossem feitas mudanças. Grandes empresas dos EUA, como Amazon, Google e Meta, também reduziram suas iniciativas de DEI neste ano.
“Embora não publiquemos mais métricas demográficas da força de trabalho ou relatórios de sustentabilidade e inclusão, a Gannett continua profundamente comprometida com nosso modelo de negócios ético”, disse Lark-Marie Antón, diretora de Comunicações da Gannett, em um comunicado. Quando pedi à empresa que definisse “modelo de negócios ético”, eles responderam que se baseia em “tratar todos os nossos funcionários com respeito e garantir uma cultura de pertencimento”.
Como parte do acerto de contas racial em torno da morte de George Floyd em 2020, a Gannett —que é proprietária do USA Today e de mais de 200 jornais locais— assumiu “o compromisso com a diversidade, inclusão e equidade em todas as suas redações” em agosto de 2020. Naquele mês, a empresa divulgou dados de diversidade de todas as suas redações e prometeu “tornar sua força de trabalho tão diversa quanto o país até 2025 e expandir o número de jornalistas focados em cobrir questões relacionadas à raça e identidade, justiça social e igualdade”.
A empresa publicou relatórios de inclusão sobre a diversidade de sua equipe de 2020 a 2023. O relatório mais recente, de 2023, indica que 63% dos funcionários se identificaram como brancos, uma queda em relação aos 73% em 2020. Em 2023, 33,9% das contratações foram de pessoas não brancas.
“Divulgamos nosso 4º Relatório Anual de Inclusão em meio a um cenário de conflitos globais, discriminação e injustiça social e racial, mudanças climáticas, economias voláteis e o impacto contínuo da pandemia em retração”, escreveu LaToya Johnson, diretora sênior de Estratégia de Inclusão, no relatório. “Em muitas áreas, estamos vendo um aumento preocupante do ódio: antissemitismo, xenofobia, islamofobia, ataques aos direitos LGBTQ+ e mais”.
Segundo o LinkedIn, Johnson foi promovida ao cargo de vice-presidente de Estratégia Global de Inclusão e Marca Empregadora em julho de 2024. Em março de 2025, seu cargo foi alterado para vice-presidente de Cultura e Marca Empregadora.
Eliminando a “diversidade”
Até fevereiro, a Gannett tinha uma página sobre “Inclusão” em seu site, que acessei usando o Wayback Machine do Internet Archive. Agora há uma página sobre “Cultura” e todas as referências à “diversidade” foram removidas. A página sobre Inclusão agora redireciona para os relatórios de inclusão.
A página antiga, por exemplo, apresentava uma citação do presidente e CEO da Gannett, Mike Reed: “Se não tivermos uma cultura inclusiva e diversa, fracassaremos em todo o resto”, junto com um vídeo
Na nova página, a citação de Reed é: “Nós adotamos uma cultura onde a perspectiva única de cada indivíduo libera nosso potencial coletivo, fortalecendo um ambiente onde todos podem prosperar e fazer a diferença”. O vídeo foi removido.
Hanaa Tameez é redatora da equipe do Nieman Lab, cobrindo inovação na indústria jornalística. Anteriormente, foi editora de newsletters da startup de mídia local WhereBy.Us e repórter de diversidade do Fort Worth Star-Telegram
Texto traduzido por André Luca. Leia o original em inglês.
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