Neste prédio se formaram mentes brilhantes do Pará

A sigla EEP, correspondente ao nome da Escola de Engenharia do Pará, se manteve, por décadas, vigorosa e expressiva, no cenário político-educacional do Estado.

Não era para menos.

Afinal, foi no prédio da EEP, na Travessa Campos Sales, que se abrigaram brilhantes inteligências do Pará.

Professores e alunos que deixaram marcas nos campos da Engenharia, da Arquitetura, das Artes Plásticas, da Economia e da Política, do Pará.

Como, por exemplo, um de seus diretores, Francisco Bolonha, o construtor do Palacete Bolonha, da Vila Bolonha, do Palacete Brício, e, do andar superior do Mercado de Carne.

Como dois de seus professores, entre outros.

Teivelino Guapindaia, um dos construtores da estrada Belém-Brasília.

E Amyntas de Lemos, diretor da Estrada de Ferro de Bragança.

Como vários de seus alunos.

Entre os quais, alguns dos que merecem destaque são os seguintes.

Judah Levy, “o inventor dos prédios altos de Belém”.

Feliciano Seixas, autor do projeto do Edifício Manoel Pinto da Silva, na época de sua inauguração, um dos mais elevados do mundo.

Camilo Porto de Oliveira, o introdutor da Arquitetura Modernista entre nós.

Ruy Meira, um dos nossos mais importantes artistas plásticos.

Angenor Porto Penna de Carvalho, e, José Maria Bassalo, que, formados, se tornaram grandes mestres de engenheiros e físicos.

Augusto Meira Filho, escritor-pesquisador essencial da História das Construções da Amazônia.

Lutfalla Bittar, criador da Estacon Engenharia, uma das 20 maiores empresas de construções pesadas do País, tendo construído obras até no Exterior.

E Fernando Guilhon, governador do Pará de 1971 a 1975.

A EEP foi criada em 1931, como unidade do ensino público superior do Pará.

E, na sua quase secular história, muitas vezes gloriosa, houve também um momento de crise profunda.

No início de 1957, já com sua grande relevância firmada na História do Ensino Superior do Estado, a EEP teve literalmente sua porta fechada.

Obra de seus alunos, certamente,estreantes no ofício de construtores de parede, que, numa madrugada, conseguiram reunir cimento e tijolos.

E com estes materiais, se insurgiram não só contra a precariedade da estrutura física de uma unidade escolar, ainda dependente de recursos do governo estadual.

Também contra o acúmulo de problemas pedagógicos que passou a existir nela.

Com a vedação da entrada da EEP, eles exigiam seleção imparcial de candidatos nos vestibulares, contratação de professores por concurso, ampliação e melhoria de laboratórios, e, elaboração de um regimento interno.

E aproveitaram aquele movimento para reavivar um antigo sonho da Engenharia estadual, o da implantação em Belém de uma Universidade Politécnica.

Coincidência ou não, o certo é que ainda naquele ano de 1957, a situação da EEP começou a mudar.

No dia 2 de julho, o presidente Juscelino Kubitschek sancionou a lei que criou a Universidade do Pará, formada pela EEP e mais oito faculdades existentes em Belém.

As de Medicina, Direito, Farmácia, Odontologia, Filosofia, Ciências e Letras e Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais.

Nos anos de 1970, a EEP foi transferida para o campus do Guamá. De seu curso de Engenharia Civil, tinham saído mais duas faculdades, as de Engenharia Elétrica e de Engenharia Mecânica.

Foi neste novo endereço, e, na nova estrutura, a de uma instituição federal, que a escola veio a perder sua velha sigla. Porque passou a se chamar Faculdade de Engenharia Civil.

A FEC (ex-EEP) foram se juntando outras faculdades de Engenharia e duas de Arquitetura.

O conjunto delas compõem hoje o pujante Instituto de Tecnologia, o ITEC, da UFPA.

Onde está, além da FEC, as faculdades de Engenharia:Elétrica e Biomédica,Mecânica, Química, Alimentos, Sanitária e Ambiental, Computação e Telecomunicações, Naval, Ferroviária e Logística.

A de Arquitetura e Urbanismo, e, a de Conservação e Restauro.

Está, assim, realizado o sonho de uma Universidade Politécnica reavivado na EEP por aqueles jovens rebeldes de 1957.

Para a UFPa, o prédio onde funcionou a EEP se constitui num monumento que lembra parte rica de seu passado.

Portanto, não é possível aceitar nenhuma justificativa que possa ser oferecida pelos órgãos de preservação do acervo arquitetônico histórico do Pará para deixar o prédio da EEP no estado lastimável de abandono e degradação em que se encontra. 

*Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista

Translation (tradução)

In this building, brilliant minds from Pará were shaped

They seized that movement to revive an old dream of the state’s engineering community: the establishment of a Polytechnic University in Belém.

Coincidence or not, the fact is that in that same year of 1957, the situation at the EEP (School of Engineering of Pará) began to change.

On July 2, President Juscelino Kubitschek signed the law that created the University of Pará, formed by the EEP and eight other existing faculties in Belém: Medicine, Law, Pharmacy, Dentistry, Philosophy, Sciences and Letters, and Economic, Accounting, and Actuarial Sciences.

In the 1970s, the EEP was relocated to the Guamá campus. From its Civil Engineering program, two new faculties had emerged: Electrical Engineering and Mechanical Engineering.

At this new location, and within the new structure of a federal institution, the school lost its old acronym. It became known as the Faculty of Civil Engineering (FEC).

To the FEC (formerly EEP), other engineering faculties and two architecture programs were added.

Together, they now form the vibrant Institute of Technology (ITEC) at the Federal University of Pará (UFPA).

This includes, in addition to the FEC, the faculties of Electrical and Biomedical Engineering, Mechanical Engineering, Chemical Engineering, Food Engineering, Sanitary and Environmental Engineering, Computing and Telecommunications Engineering, Naval Engineering, Railway and Logistics Engineering, as well as Architecture and Urbanism, and Conservation and Restoration.

Thus, the dream of a Polytechnic University, rekindled at the EEP by those rebellious young people of 1957, has been realized.

For UFPA, the building where the EEP once operated stands as a monument to a rich part of its past.

Therefore, no justification offered by the agencies responsible for preserving Pará’s historical architectural heritage can be accepted for allowing the EEP building to remain in its deplorable state of abandonment and degradation.

*Oswaldo Coimbra is a writer and journalist

(Illustration: current condition of the School of Engineering of Pará building)

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