Construção de Brasília custou 12% do PIB brasileiro

A construção de Brasília em 4 anos até a inauguração, em 21 de abril de 1960, custou 12,3% do PIB (Produto Interno Bruto) do país em 1959. Em relação ao PIB do país em 2024, de R$ 11,7 trilhões, o custo equivalente é R$ 1,44 trilhão. O valor é 33% maior do que a despesa com previdência que o governo federal terá em 2025.

O engenheiro e economista Eugênio Gudin (1886-1986) calculou o custo da construção de Brasília em 1960 em US$ 1,5 bilhão em valor da época. Gudin havia sido ministro da Fazenda em 1954 e 1955, durante o governo de Café Filho (1954-1955). Era defensor do liberalismo econômico, com participação reduzida do Estado no desenvolvimento. Foi crítico da construção da capital na região Centro-Oeste. Disse que a obra era excessivamente cara e que não resultaria em benefícios para o país.

O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) iniciou a construção de Brasília logo depois da posse. A obra durou 4 anos. Incluiu os principais prédios públicos, como as sedes dos Três Poderes. Muitas construções ficaram para depois, como os ministérios das Relações Exteriores e da Justiça.

A atualização do valor calculado por Gudin pela inflação dos Estados Unidos resulta em US$ 16 bilhões (R$ 94 bilhões). Caso se faça a conversão na moeda brasileira da época, o cruzeiro, e se atualize o valor pelo IGP (Índice Geral de Preços) da FGV (Fundação Getulio Vargas), são R$ 106 bilhões. O valor é um pouco mais do que o dobro dos R$ 50 bilhões de emendas de congressistas a serem pagas em 2025.

O economista Carlos Eduardo de Freitas avalia que a proporção do PIB é a medida mais apropriada para dimensionar o custo da obra. “Mostra o esforço fiscal com a implantação de Brasília. O país era mais pobre na época do que hoje”, afirmou. O gasto atualizado pela inflação representa um peso muito menor na economia brasileira do que a proporção do PIB.

RELEVÂNCIA DO CENTRO-OESTE

Diferentemente de Gudin, Freitas diz que a construção de Brasília favoreceu o desenvolvimento econômico do país: “Além da nova capital, foram feitas estradas que integraram o Centro-Oeste e o Norte do país às outras regiões”. Um dos exemplos é a Belém-Brasília, estrada de 2.000 km construída no governo de Juscelino Kubitschek.

Freitas, que nasceu no Rio e se tornou funcionário do BC (Banco Central), mudou-se para Brasília nos anos 1970. Foi diretor de Área Externa do BC de 1985 a 1988, e diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais de 1999 a 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ficou no cargo até o início do 1º mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para o economista, a ampliação da produção agrícola no Centro-Oeste e no Norte do país foi consequência da expansão da malha rodoviária nessas regiões durante o governo de Juscelino Kubitschek e da construção da nova capital. A transferência da sede do governo para o Centro-Oeste, na avaliação de Freitas, ampliou a atenção da administração federal para os desafios de desenvolvimento dessa região e do Norte.

Um exemplo de medida para o avanço tecnológico dessas regiões, de acordo com Freitas, foi a criação da estatal Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em 1973. A instituição foi responsável pelo desenvolvimento de cultivos para o Centro-Oeste e áreas em outras regiões brasileiras onde a produtividade agropecuária era baixa.

CUSTO TOTAL DE R$ 1,86 TRILHÃO

O economista e jornalista Ib Teixeira (1939-2017) calculou em 1996 o custo total da construção de Brasília desde a fundação, 36 anos antes, em US$ 155 bilhões. São US$ 316 bilhões em valor atualizado pela inflação nos EUA (R$ 1,86 trilhão). O cálculo está no artigo “O custo-Brasília”, publicado na edição de maio de 1996 da Revista Conjuntura Econômica, da FGV, em que Teixeira era redator. “O aluvião monetário para cobrir os gastos de Brasília não parou em 1961”, escreveu Teixeira.

O cálculo de Teixeira incluiu gastos com a construção, transferências de recursos do governo federal para o governo do Distrito Federal e estimativa do custo do aumento da dívida pública.