Sindicato do IBGE repudia mapa invertido com Brasil no centro

Lançada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a versão do mapa-múndi invertido que traz o Brasil no centro virou alvo de repúdio por parte da Associação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE-SN).

Para a entidade, trata-se de uma representação artificial, “sem respaldo técnico reconhecido pelas convenções cartográficas internacionais”. O grupo avalia o caso como uma “encenação simbólica que compromete a credibilidade construída pelo IBGE ao longo de décadas de trabalho sério, imparcial e respeitado globalmente”.

– O Brasil ainda enfrenta graves mazelas sociais: desigualdade estrutural, carências educacionais, insegurança, informalidade, perda de competitividade. (…) Não se combate a realidade com ilusões gráficas. Colocar o Brasil no centro do mapa não resolve nada, e pode, inclusive, enfraquecer a seriedade de um projeto nacional que justamente busca enfrentar, e não ocultar, os desafios que temos pela frente – assinala o ASSIBGE-SN.

De acordo com o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, o objetivo do mapa-múndi invertido é “ressaltar a posição atual de liderança do Brasil em importantes fóruns internacionais”.

– O IBGE lançou um novo mapa-múndi com o Brasil no centro, contendo o sul na parte superior do mapa, também identificado por mapa invertido. A novidade busca ressaltar a posição atual de liderança do Brasil em importantes fóruns internacionais como no Brics e Mercosul e na realização da COP30 [Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas] no ano de 2025 – escreveu em seu perfil no X.

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Pochmann assumiu o IBGE em julho de 2023, tendo sido indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo informações do Poder360, ele tem sido alvo de críticas no ASSIBGE (Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE) por “posturas autoritárias e desrespeito ao corpo técnico” e por supostamente ter aparelhado o instituto, promovendo uma gestão ideológica.

Confira a nota completa:

Manifesto pela Integridade Técnica do IBGE

Em defesa da ciência, da razão institucional e do Brasil real

A Coordenação do Núcleo Sindical Chile – ASSIBGE/SN que representa os trabalhadores da base do Complexo Chile/Horto do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), manifesta, com base em compromisso constitucional, técnico e ético, repúdio à divulgação oficial do mapa-múndi invertido, em que o Brasil aparece artificialmente no topo e ao centro do mundo — um gesto sem respaldo técnico reconhecido pelas convenções cartográficas internacionais.

Trata-se de uma iniciativa que, em vez de informar, distorce; em vez de representar a realidade com rigor, cria uma encenação simbólica que compromete a credibilidade construída pelo IBGE ao longo de décadas de trabalho sério, imparcial e respeitado globalmente.

O que se vende como símbolo de autoestima nacional esconde um paradoxo desconfortável. O Brasil ainda enfrenta graves mazelas sociais: desigualdade estrutural, carências educacionais, insegurança, informalidade, perda de competitividade.

A presidência da República, com a reconhecida coragem e senso de responsabilidade que sua trajetória comprova, tem enfrentado essas realidades de peito aberto, sem disfarces, promovendo reconstrução institucional, investimento social e resgate da dignidade pública.

Mas não se combate a realidade com ilusões gráficas. Colocar o Brasil no centro do mapa não resolve nada — e pode, inclusive, enfraquecer a seriedade de um projeto nacional que justamente busca enfrentar, e não ocultar, os desafios que temos pela frente.

Esse não é um caso isolado. Em janeiro de 2025, a publicação Brasil em Números 2024 — uma das mais tradicionais do IBGE — foi lançada com um prefácio assinado pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, exaltando realizações regionais em um documento historicamente técnico e impessoal.

Servidores alertaram para o desvio institucional. A justificativa da gestão — de que haveria apoio financeiro envolvido — foi negada publicamente por entidades mencionadas, como a Sudene.

Esse episódio revelou o mesmo padrão de conduta presente na adoção do mapa invertido: uso político, simbólico e personalista de um órgão técnico de Estado.

A responsabilidade por esses desvios recai inteiramente sobre a atual gestão do IBGE, que, em vez de proteger a função pública do Instituto, tem insistido em empurrá-lo para o campo da imagem, da alegoria, da ação promocional.

Não há desculpa técnica, jurídica ou pedagógica para esse tipo de prática.

Nenhum país se torna mais respeitado por estar no centro de um papel. A grandeza internacional se conquista com políticas públicas consistentes, instituições confiáveis e dados transparentes — não com encenações visuais.

Machado de Assis descreveu, com precisão, o vício de parecer antes de ser. De exibir a forma no lugar do conteúdo. De buscar na estética a glória que só a realidade poderia justificar.

Transformar a cartografia oficial do Estado em gesto de vaidade simbólica é oferecer à população um consolo ilustrado, quando o que ela precisa é verdade, responsabilidade e seriedade.

Além do problema ético, os atos recentes violam três princípios constitucionais da administração pública:

– Finalidade administrativa – o IBGE existe para produzir informação técnica e objetiva, não material simbólico ou político;
– Impessoalidade – a instituição serve à sociedade, não a narrativas de governantes ou gestões;
– Moralidade administrativa – recursos públicos devem ser usados com integridade e respeito à função estatal.

Também se fere o princípio da eficiência, pois a adoção de padrões gráficos não reconhecidos confunde a educação, prejudica comparações internacionais e deslegitima produtos oficiais.

A gestão atual do IBGE vem falhando, repetidamente, em proteger o valor técnico e a integridade institucional do órgão.

O IBGE não pertence a pessoas. Pertence ao Estado, à sociedade e ao futuro.

O Brasil não precisa estar no centro do papel. Precisa estar no centro da honestidade técnica, da responsabilidade pública e do compromisso com a verdade.

Por isso dizemos, com serenidade firme: não ao mapa da vaidade. Sim à ciência, à integridade e à maturidade institucional.

Coordenação do Núcleo Chile

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