Ana Reis Josaphat – poeta e escritora
Vivemos em um mundo onde buscamos mágicas para o existir, em meio aos desafios que a vida nos apresenta. Há uma recusa diante das oportunidades de mudanças, preferindo permanecer na mesmice ou, como diria Maslow, na patologia da normose.
Vejamos:
Quando somos desafiados – e isso acontece em todos aspectos das nossas relações, sejam elas: familiares, estudantis, profissionais, econômicas, sociais, políticas, culturais e, acreditem, até nas relações com o sagrado, nos deparamos com expectativas e roteiros invisíveis que moldam a maneira como interagimos, grande parte, sem nos dar conta disso.
No grande palco da vida, desejamos que os roteiros sejam escritos e dirigidos por nós, e que os outros atores e atrizes sigam nossas direções, mesmo sem conhecerem o papel que lhes foi atribuído. E muitas vezes, nem mesmo o diretor – sabe exatamente o que espera do outro, deixando-o caminhar às cegas, sem uma sinalização clara.
A questão é que todos nós carregamos roteiros invisíveis, e, de alguma forma, esperamos que os demais sigam nossas narrativas. Queremos ser os protagonistas no drama da existência, em torno de quem tudo acontece.
A posição que ocupamos – influenciada pelo poder econômico e pelo papel que desempenhamos como pai, mãe, irmão, patrão, governante ou qualquer outro –determina, de forma inconsciente, nossa forma de agir e reagir ao nos relacionarmos com e no mundo. Quem detém o poder estabelece as regras do jogo, e aos demais cabe a submissão.
Se um homem sofre opressão no trabalho, é possível que, sem se dar conta, descarregue essa frustração no ambiente familiar, afetando sua mulher, filhos ou quem estiver sob o seu domínio. Da mesma forma, a mulher pode reproduzir essa dinâmica com os filhos, e os irmãos podem estabelecer relações de poder entre si.
Esse exemplo, simplificado, revela a cadeia invisível de como o poder permeia nossas relações mais intimas e cotidianas.
Ao ampliarmos o olhar, percebemos que o caos, a confusão e a desigualdade permeiam a construção das relações sociais, afetando até mesmo, o campo do sagrado. Um processo complexo, intrincado, que nos envolve em todas as esferas: coletiva, familiar, subjetiva e espiritual.
Como romper esse ciclo?
Essa é a chave que buscamos enquanto humanidade, e como indivíduos em nossa jornada evolutiva. Grandes mestres, como Buda, Cristo, Maomé e outros, nos mostram o caminho que trilharam, e nós ainda, estamos tateando, em meio à escuridão. O despertar ocorre quando nos damos conta, das vendas que trazemos nos olhos, e vamos descortinando uma realidade multifacetada e essencial da vida – que é maior que os nossos scripts particulares.
Não há fórmula mágica. As respostas surgem no caminho, na experiência, na reflexão e na prática de autoconhecer-se. É caminhando que encontramos profundidade, discernimento e clareza – e, à medida que vamos compreendendo e vivendo o mistério, tornamos o viver mais suave, mais doce.
É o resgate da liberdade.
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