
O ex-presidente, ex-guerrilheiro e ícone da esquerda latino-americana José Alberto “Pepe” Mujica Cordano morreu nesta terça-feira aos 89 anos no Uruguai. A notícia teve confirmação do atual presidente uruguaio e aliado de Pepe, Yamandú Orsi.
“Com profunda dor comunicamos que faleceu nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, referência, liderança. Vamos sentir muito sua falta, velho querido! Obrigado por tudo que nos deste e por teu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi.
“Don” Pepe, que completaria 90 anos no próximo dia 20, anunciou em abril de 2024 diagnóstico de câncer no esôfago. Desde então, passou a ter uma vida mais reclusa, com raras aparições. Ele vivia em uma chácara nos arredores de Montevidéu.
O tumor acabou se espalhando para outras partes do corpo, e Mujica vinha fazendo tratamento paliativo nos últimos tempos, segundo declarou sua esposa, Lucia Topolanksy.
De acordo com ela, o ex-presidente estava em estágio terminal e recebendo conforto por parte da equipe médica. Por causa das condições de saúde, Pepe não votou nas eleições regionais do país,no último domingo (11).
Mujica presidiu o Uruguai de 2010 a 2015 com a fama de “presidente mais pobre do mundo”, por seu estilo de vida simples. Defendia a condição não como um incentivo à pobreza, mas à sobriedade.

Dirigia um fusca dos anos 1970 e doava parte do salário para projetos sociais. Também ficou marcado pelas reflexões políticas com forte teor filosófico.
Defensor da integração dos países latino-americanos e caribenhos, Mujica se tornou referência da integração latino-americana.
Em especial durante uma época em que representantes da esquerda e centro-esquerda assumiram diversos governos da região, como Venezuela, Argentina, Equador, Bolívia e Brasil.
“Me dediquei a mudar o mundo e não mudei nada, mas me diverti. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei sentido à minha vida”, revelou em entrevista ao jornal espanhol El País, em novembro de 2024.
Camponês e guerrilheiro

Nasceu em 1935 em uma família de origem humilde e camponesa, nos arredores de Montevidéu. Entrou para política ao fundar o Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, grupo guerrilheiro urbano que operou nos anos 1960 e 1970 e enfrentou a ditadura civil-militar no Uruguai (1973-1985).
Sua atividade no movimento custou cerca de 14 anos de prisão, em quatro momentos. Sofreu ferimentos por seis tiros e escapou da prisão em duas ocasiões. A história da detenção, tortura e manutenção em solitária virou filme com Uma Noite de 12 Anos, do uruguaio Álvaro Brechner.
Presidente
Com o fim da ditadura, Mujica colaborou da criação do Movimento de Participação Popular com a Frente Ampla, grupo de organizações de esquerda e centro-esquerda. Com ela chegou à Presidência da República.
Não foi seu primeiro cargo. Antes foi deputado federal, ministro da Agricultura e senador.
Na Presidência, Pepe Mujica chamou atenção por promover uma legislação considerada progressista com a descriminalização do aborto. Também com a lei do casamento igualitário, que permitiu casais homossexuais adotarem filhos; além da legalização da maconha.
Em 2019, Mujica venceu novamente a eleição para senador, mas renunciou ao cargo em 2020 para evitar o contágio durante a pandemia de covid-19. “Há uma hora de chegar e uma hora de partir na vida”, disse.
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