Defesa de CPI do INSS por ministro gera crise no governo

 

A articulação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta uma crise interna após o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, e o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), defenderem publicamente a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 

As declarações, feitas durante audiência na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado em 15 de maio de 2025, pegaram o Palácio do Planalto de surpresa, já que não houve acordo prévio com a cúpula do governo. Segundo fontes do Planalto, a iniciativa foi vista como descoordenada e prejudicial, especialmente porque o governo considera o argumento da CPI “fajuto” e teme que a oposição transforme a investigação em um palanque político. A crise se intensifica com a proximidade da sessão conjunta do Congresso, marcada para 27 de maio, que pode oficializar a instalação da CPMI. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), sinaliza resistência em dar andamento ao requerimento, mas a pressão de parlamentares da oposição e até de aliados, como o PSB, complica a estratégia do governo. A situação expõe fragilidades na articulação política e reacende debates sobre a gestão das fraudes bilionárias no INSS. Saiba mais sobre política nacional.

 

As fraudes no INSS, que envolvem descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas, ganharam destaque com a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) em março de 2025. Investigações apontam que o esquema, iniciado em gestões anteriores, atingiu R$ 2,6 bilhões em 2024, com descontos realizados sem consentimento dos beneficiários por meio de associações fraudulentas.

O governo Lula tem tentado desvincular as irregularidades da atual administração, destacando que as fraudes começaram no governo de Jair Bolsonaro (PL). Contudo, a defesa inesperada da CPMI por Queiroz e Carvalho colocou o Planalto em uma posição delicada. Durante a audiência no Senado, Queiroz afirmou ser “pessoalmente a favor” da comissão, enquanto Carvalho declarou que o PT deveria participar ativamente. Essas falas contrariaram a orientação do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que dias antes classificou a CPI como um “factoide” da oposição. A descoordenação revela tensões entre o Planalto e sua base aliada, além de dificuldades em alinhar o discurso sobre um tema sensível que afeta milhões de brasileiros. A oposição, liderada por figuras como a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), aproveita o momento para pressionar pela investigação, alegando omissões do governo atual.

 

Desdobramentos políticos e desafios para o governo

A defesa da CPMI por membros do governo gerou um efeito cascata no cenário político, ampliando a pressão para a instalação da comissão. O regimento do Congresso prevê que, com assinaturas de um terço dos deputados e senadores, a CPMI é automaticamente instituída. No entanto, Davi Alcolumbre pode atrasar o processo ao evitar a leitura do requerimento ou adiar a sessão de 27 de maio. Essa manobra, porém, enfrenta resistência de parlamentares da oposição e de partidos da base aliada, como o PSB, que veem na investigação uma oportunidade de esclarecer as fraudes.

O governo teme que a CPMI seja usada pela oposição, especialmente pelo PL, para desgastar a imagem do PT, transformando a crise do INSS em um embate político. Para conter o avanço da comissão, o Planalto articula a indicação de aliados para cargos estratégicos, como a relatoria, com o nome da deputada Tabata Amaral (PSB-SP) sendo cogitado para neutralizar narrativas oposicionistas. A crise também expõe a fragilidade da articulação política do governo, que já enfrenta desafios em outras pautas no Congresso. Para os aposentados, a demora em resolver as fraudes e ressarcir os prejuízos gera insatisfação, o que pode impactar a popularidade do governo entre uma base eleitoral importante. A situação exige do Planalto uma resposta rápida para evitar um desgaste prolongado.

A resolução da crise no INSS e a contenção da CPMI serão testes cruciais para a capacidade de articulação do governo Lula. A descoordenação evidenciada pelas falas de Queiroz e Carvalho reforça a necessidade de maior alinhamento entre o Planalto e sua base. O governo estuda medidas administrativas, como o fortalecimento de controles internos no INSS e a aceleração do ressarcimento aos beneficiários lesados, para mitigar o impacto da crise. Enquanto isso, a oposição intensifica a pressão, com iniciativas como os “gabinetes itinerantes” do PL para orientar vítimas das fraudes.

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A possibilidade de uma CPMI ampla, que investigue desde 2016, poderia expor falhas sistêmicas, mas também corre o risco de se tornar um palco de disputas políticas. O Planalto aposta em negociações nos bastidores para evitar a instalação da comissão ou, ao menos, garantir seu controle. Para os brasileiros, especialmente os aposentados, o desfecho da crise será decisivo para restaurar a confiança no sistema previdenciário. A habilidade do governo em gerenciar a crise e evitar que ela se transforme em uma arma da oposição determinará o impacto político e social nos próximos meses. Acompanhe as principais notícias do Brasil.

 

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