O que são mudanças climáticas: entenda o fenômeno que está redesenhando o planeta

As mudanças climáticas se tornaram um dos temas mais discutidos no cenário global nas últimas décadas. Associadas ao aumento da temperatura da Terra, essas mudanças envolvem uma série de transformações nos padrões climáticos do planeta. Mas o que exatamente caracteriza as mudanças climáticas e por que elas preocupam cientistas, governos e sociedade civil em todo o mundo?

O que define as mudanças climáticas

Mudanças climáticas são alterações duradouras nos padrões do clima global ou regional, incluindo temperatura, precipitação, vento e outros elementos meteorológicos. Embora o clima da Terra tenha variado naturalmente ao longo de milhões de anos, o termo é hoje amplamente usado para se referir às mudanças aceleradas causadas pela atividade humana desde o século XIX, principalmente com a Revolução Industrial.

Essa diferença está no ritmo e na escala das transformações. Mudanças naturais no clima acontecem em ciclos de milênios, mas as mudanças atuais estão ocorrendo em décadas. Além disso, estão diretamente relacionadas ao modelo de desenvolvimento econômico baseado na exploração intensiva de recursos naturais.

O estudo das mudanças climáticas também envolve a análise de indicadores ambientais, como o aumento da concentração de gases na atmosfera, alterações nos ciclos hidrológicos e nos padrões de migração de espécies. Esses sinais permitem que cientistas identifiquem tendências e confirmem que as transformações observadas vão além das flutuações naturais do clima.

Causas principais: atividades humanas e gases do efeito estufa

A principal causa das mudanças climáticas modernas é a emissão de gases de efeito estufa (GEE), como dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxidos de nitrogênio (NOₓ). Esses gases são liberados na atmosfera principalmente pela queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), desmatamento e atividades agropecuárias. Esses gases intensificam o efeito estufa natural, levando ao aquecimento global. Para compreender a contribuição de cada setor às emissões no Brasil, os dados do SEEG de 2023 mostram a divisão percentual por setor.

Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil por Setor (2023) – Fonte: SEEG

O setor energético é um dos maiores responsáveis pelas emissões, seguido pela agricultura e uso da terra, especialmente o desmatamento de florestas tropicais. As cidades também contribuem significativamente devido ao transporte, indústria e construções, tornando os centros urbanos alvos estratégicos de ação climática. Além disso, práticas como o descarte inadequado de resíduos sólidos e o uso excessivo de fertilizantes sintéticos também contribuem para o aumento das emissões. A conversão de florestas em áreas agrícolas, comum em várias regiões do mundo, reduz a capacidade de absorção de CO₂, agravando ainda mais o desequilíbrio atmosférico.A composição dos gases de efeito estufa na atmosfera revela a dominância do CO₂, seguido por outros gases com potencial de aquecimento global significativo.

Fonte: Organização Meteorológica Mundial (OMM)

Impactos observados e projeções futuras

Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com uma média 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Esse aquecimento tem causado o derretimento de calotas polares, elevação do nível do mar, alterações nos padrões de chuva e o aumento de eventos extremos, como secas e tempestades intensas.

O gráfico a seguir ilustra essa tendência de aquecimento global ao longo das últimas décadas, destacando o ritmo acelerado das mudanças climáticas.

Gráficos de Aquecimento Global – Fonte: Our World in Data

As emissões globais de CO₂ variam conforme a atividade industrial e populacional de cada continente. Veja como essas emissões evoluíram ao longo do tempo.

Emissões Globais de CO₂ por Continente – Fonte: Our World in Data

O gráfico apresenta a evolução da participação regional nas emissões globais de dióxido de carbono (CO₂). Até meados do século XX, o perfil global de emissões era amplamente concentrado nos países industrializados do Ocidente, com Europa e Estados Unidos somando mais de 90% das emissões em 1900 e ainda acima de 85% em 1950. Contudo, nas últimas décadas, observou-se uma transição marcante na geografia das emissões, com crescimento acelerado em regiões emergentes, especialmente na Ásia. A China, em particular, tornou-se um dos principais emissores. Atualmente, Europa e EUA juntos representam menos de um terço do total global de emissões anuais.

A história das emissões de CO₂ desde a era industrial revela um crescimento exponencial, diretamente ligado ao avanço das atividades humanas.

Evolução das Emissões de CO₂ nos Últimos Séculos – Fonte: Our World in Data

O aumento do nível dos oceanos já afeta regiões costeiras baixas, ameaçando cidades como Nova York, Jacarta e Recife. Ao mesmo tempo, o derretimento do permafrost libera ainda mais gases de efeito estufa, criando um ciclo de retroalimentação perigoso. As projeções indicam que, sem ações rápidas e coordenadas, a temperatura global pode ultrapassar 2°C até o fim do século, intensificando os riscos.Em 2024, o nível do mar superou previsões anteriores, com um aumento médio global de 0,59 cm, segundo dados da NASA.

Aumento do Nível do Mar em 2024 – Fonte: NASA

Este gráfico, elaborado com base em dados coletados por cinco satélites internacionais entre 1993 e 2024, retrata a evolução do nível médio dos oceanos em escala global. A linha contínua em vermelho representa o aumento observado nesse período, que mais que dobrou nas últimas três décadas. Já a linha vermelha tracejada aponta uma projeção das futuras elevações do nível do mar.

Segundo a NASA, que coordenou a análise, o ritmo de elevação do nível do mar em 2024 superou as expectativas. A principal causa foi a expansão térmica dos oceanos — um fenômeno em que a água se dilata à medida que sua temperatura aumenta. A taxa registrada foi de 0,59 centímetros por ano, enquanto a previsão anterior era de 0,43 centímetros anuais.

Projeções mais recentes alertam que eventos antes considerados raros, como ondas de calor extremas, podem se tornar anuais em diversas partes do mundo. O impacto nos ecossistemas será profundo, afetando a agricultura, a disponibilidade de água e o padrão de distribuição das doenças, com implicações diretas na segurança alimentar e na saúde pública.

A construção do conhecimento científico

O consenso sobre as mudanças climáticas é resultado de décadas de pesquisa científica. O IPCC, criado em 1988 pela ONU, é uma das principais fontes de informação sobre o tema, reunindo especialistas de todo o mundo para avaliar dados, identificar tendências e projetar cenários futuros com base em diferentes níveis de emissão de GEE.

Os relatórios do IPCC orientam decisões políticas e ajudam a formar o embasamento científico de acordos internacionais. Além do IPCC, instituições como a NASA, a NOAA, universidades e centros de pesquisa independentes contribuem com dados e modelos climáticos baseados em satélites, observatórios terrestres e simulações computacionais.

A ciência climática também avança com o apoio de redes de monitoramento ambiental e cooperações internacionais que compartilham dados em tempo real. Esses esforços permitem atualizar modelos preditivos com maior precisão, fornecendo subsídios técnicos para políticas públicas e ações de mitigação em diversos setores.

Consequências para o planeta e para a sociedade

As mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade, a segurança alimentar, os recursos hídricos e a saúde humana. Agricultores enfrentam perdas devido às alterações no regime de chuvas, enquanto comunidades costeiras lidam com inundações frequentes. Além disso, a instabilidade climática pode agravar desigualdades sociais e gerar conflitos por recursos naturais.

Espécies vegetais e animais que não conseguem se adaptar às novas condições enfrentam risco de extinção. A poluição do ar e a proliferação de doenças tropicais também estão entre os efeitos mais sentidos por populações vulneráveis. O desequilíbrio ambiental tem impactos diretos na economia, afetando desde a produtividade agrícola até os sistemas de saúde pública.

Em áreas urbanas, a combinação de calor intenso e poluição do ar pode agravar doenças respiratórias e cardiovasculares. Já em regiões rurais, a escassez de água e a degradação do solo colocam em risco a produção de alimentos e a subsistência de milhões de pessoas, exigindo respostas rápidas e estruturadas.

Compreender o que são as mudanças climáticas é essencial para acompanhar os debates globais sobre o futuro do planeta. Embora os impactos já sejam sentidos em várias regiões, o conhecimento científico acumulado permite uma análise sólida do problema, que será a base para as decisões de enfrentamento nos próximos anos. O engajamento com a ciência e o acompanhamento das tendências climáticas são passos fundamentais para entender os desafios e as oportunidades de resposta em escala global.

* Roberta Mendes é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), com MBA em Gestão Ambiental e Manejo Florestal. Consultora Ambiental e Florestal, possui experiência em certificação de créditos de carbono, regularização ambiental e fundiária, manejo florestal e recuperação de áreas degradadas. Atuou em projetos de reflorestamento, inventário florestal e georreferenciamento, além de gerenciamento de operações de colheita e logística florestal.

REFERÊNCIAS

Observatório do Clima. (2023). Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Recuperado de https://seeg.eco.br/

Organização Meteorológica Mundial. (2024). Boletim sobre os Gases de Efeito Estufa. Recuperado de https://public.wmo.int/

Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). (2023). Relatório de Síntese do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6). Recuperado de https://www.ipcc.ch/

Ritchie, H., Roser, M., & Rosado, P. (2024). CO₂ andGreenhouseGasEmissions. Our World in Data. Recuperado de https://ourworldindata.org/co2-and-other-greenhouse-gas-emissions

NASA. (2024). Global Mean Sea Level Data. Recuperado de https://climate.nasa.gov/vital-signs/sea-level/

NOAA. (2024). National Centers for Environmental Information (NCEI). Recuperado de https://www.ncei.noaa.gov/

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