O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 2ª feira (26.mai.2025) que o equilíbrio orçamentário é papel de todos. Afirmou que há muitas despesas que foram criadas sem a compensação prevista, o que amplia o desequilíbrio nas contas públicas. Defendeu que a equipe econômica está honrando os compromissos da “melhor maneira possível”.
Ele afirmou que a receita tributária federal caiu se comparada com o patamar de 10 anos atrás, mas omite que a carga tributária federal subiu na gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Haddad participou nesta 2ª feira (26.mai.2025) do evento “Nova Indústria Brasil”, em comemoração ao Dia da Indústria, que foi no domingo (25.mai). O evento é realizado na semana seguinte ao anúncio do aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que elevará a carga tributária sobre crédito, compras no exterior, câmbio e previdência privada.
O Poder360 mostrou que o governo arrecadou mais de R$ 70 bilhões com o imposto em valores reais. Esse é o maior valor da série histórica. Haddad propôs um aumento de tributo que possibilita uma receita superior a R$ 100 bilhões por ano.
Assista:
Dados divulgados em março de 2025 pelo Tesouro Nacional mostram que a carga tributária do Brasil foi de 32,3% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado. O governo federal responde por 21,4 pontos percentuais desta taxa, o maior patamar em, pelo menos, 15 anos.
Haddad declarou que a carga tributária aumentou de 16% em 1964 para 26% ao fim da Ditadura Militar (1964-1985). O ministro disse que o patamar subiu para 32% depois do Plano Real (1994) para a estabilização da moeda, nível no qual estacionou.
“Hoje a carga tributária federal, a receita primária federal, é menor do que 10 anos atrás. Então, nós temos que ter a compreensão de que nós temos desafios a enfrentar, sobretudo em relação ao equilíbrio orçamentário, que é o papel de todos”, disse.
O ministro abordou 2 indicadores diferentes: a carga tributária e a receita tributária. A carga tributária do Brasil subiu de 20,6% no fim do governo Jair Bolsonaro (PL) para 21,4% em 2024. Atingiu o maior patamar em, pelo menos, 15 anos.
Já a receita tributária federal líquida do governo central foi de 16,8% do PIB em 2024. É menor em relação a 10 anos, mas subiu no governo Lula. Era de 16,2% em 2022.
GASTOS E RESPONSABILIZAÇÃO
Haddad disse que muitas despesas foram contratadas sem fonte de financiamento. Um exemplo é a desoneração da folha salarial de 17 setores da economia. A equipe econômica disse que custará R$ 55 bilhões de 2024 a 2027, mas que as receitas definidas pelo Congresso estão rendendo “nada” ao governo, segundo o ministro.
“Quando a gente olha para as contas e vê que muita despesa foi contratada sem fonte de financiamento, nós temos que compreender que nós temos que honrar os compromissos assumidos pelo Congresso, muito deles compromissos constitucionais. Estamos fazendo isso da melhor maneira possível”, disse Haddad.
O ministro afirmou que o governo federal tenta virar a página de um deficit primário estrutural de 2% do PIB. Disse que esse foi o saldo negativo herdado do governo Bolsonaro.
APOIO DE MERCADANTE
O presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, disse, no evento, que Haddad é um “grande ministro da Fazenda”. E completou: “[Ele] Tem uma responsabilidade imensa, uma visão estratégica e o compromisso com os valores republicanos, com o bem público. Não tem poupado esforços pessoais. […] Nós temos dado todo o apoio e vai continuar assim. Força e estamos juntos, Haddad!”, disse.
Mercadante declarou que o Congresso, os empresários e a sociedade têm, assim como o ministro da Fazenda, que contribuir para as medidas voltadas à economia. “Nós temos um desafio fiscal muito importante para o Brasil”, disse o presidente do BNDES.
Mercadante foi aplaudido pela plateia ao dizer que Haddad não pode ficar sozinho “segurando todo esse desafio gigantesco que nós temos pela frente”. Ele relativizou o aumento das alíquotas do IOF.
“Nós já tivemos IOF muito mais alto do que esse que está aí”, disse. O presidente do BNDES afirmou que o imposto tem um papel de contração monetária. Disse que a taxa básica, a Selic, em 14,75% ao ano é um “ponto fora da curva” e que precisa começar a “ter uma transição”.
“A Selic gera dívida. O IOF gera receita. Diminui o problema da relação dívida-PIB na sustentabilidade”, disse.
Segundo ele, o Brasil precisa revisar gastos estruturais e repensar como aumentar a eficiência das despesas para os que mais precisam. O presidente do BNDES criticou as associações que publicaram nota contrária ao aumento do IOF. Afirmou que Haddad precisa entregar as metas fiscais.
“Precisamos de uma agenda que não pode ser só do ministro da Fazenda. […] Vamos criar uma mesa de diálogo. E as entidades empresariais, mais do que soltar manifesto… isso daí eu faço desde a época do centro acadêmico, faz 50 anos… Acho que não funciona muito. Tem que trazer propostas. Tem que dizer qual é a alternativa”, disse.
Mercadante sugeriu, aplaudido, que sejam ampliados os impostos sobre as bets, as casas de apostas. “É uma área que precisa de mais receita”, disse.
INDÚSTRIA
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, disse, no evento, que não há “apenas um caminho único a ser seguido” e que “não podemos mais pensar em carga tributária” aos empresários. Afirmou que há alternativas, e citou as bets e as big techs, que poderiam viabilizar aumento de receita.
Ele disse ter conversado com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar sobre a taxa Selic. Disse que existem caminhos “sem comprometer a política monetária” e que é preciso ser mais racional em relação aos juros.