No coração do arquipélago do Marajó, no norte do Pará, a tranquilidade das comunidades ribeirinhas vem sendo abalada por uma onda de crimes audaciosos perpetrados por quadrilhas que dominam os rios da região. Apelidados de “piratas” pela população local, esses criminosos, verdadeiros demônios em carne e osso, utilizam a vasta rede hidrográfica do Marajó como rota para assaltos, espalhando o terror e prejuízo entre os moradores.
Um caso recente, ocorrido na comunidade de Porto Santo, em Ponta de Pedras, expõe a gravidade da situação e a urgência por uma resposta mais firme das autoridades. Quatro piratas armados invadiram uma residência em Porto Santo, transformando a noite de uma família em um pesadelo. Dois dos criminosos entraram na casa, enquanto os outros dois aguardavam estrategicamente no Rio Arari, utilizando uma rabeta – pequena embarcação típica da região – para garantir a fuga.
A família foi rendida e teve bens de valor roubados, incluindo uma rabeta, essencial para a mobilidade e sobrevivência no arquipélago. Após o assalto, os bandidos fugiram pelo rio, apropriando-se de outra embarcação no caminho.
Cansada da impunidade e da sensação de abandono, a população local decidiu tomar a iniciativa. Revoltados, moradores de Porto Santo organizaram uma caçada aos criminosos, que seguiram em direção ao Rio Itororomba. Após uma noite de perseguição pelas águas e matas da região, a pressão comunitária surtiu efeito: cercados, três dos quatro assaltantes se renderam.
Amarrados pelos moradores, foram entregues à Polícia Militar de Cachoeira do Arari, que os conduziu à delegacia. Um quarto criminoso, no entanto, permanece foragido, escondido no denso mato marajoara, o que mantém a comunidade em alerta e as buscas em andamento.
O episódio escancara a ousadia dos “piratas do Marajó”, que aproveitam a geografia única do arquipélago – com seus rios labirínticos e áreas remotas – para atuar em quadrilhas organizadas, roubando desde embarcações até pertences pessoais, e impondo um clima de terror.
Cadê a polícia?
A ação corajosa dos moradores, embora bem-sucedida, levanta um questionamento grave: onde estão as autoridades? A população, que depende dos rios para viver, não pode ser deixada à mercê de criminosos, nem obrigada a fazer justiça com as próprias mãos.
A Polícia Militar, apesar de ter efetuado a prisão dos três suspeitos, é criticada pela demora em agir preventivamente. A vasta extensão do Marajó e a falta de recursos para patrulhamento fluvial dificultam o combate a esses crimes, mas a escalada da violência exige medidas urgentes. Reforço no policiamento ostensivo nos rios, investimento em bases fluviais e maior integração entre as forças de segurança são demandas que ecoam entre os ribeirinhos.
Além disso, investigações mais aprofundadas são necessárias para desmantelar as quadrilhas que operam na região, que muitas vezes agem com informações privilegiadas e armamento pesado.
Os “piratas do Marajó” têm transformado os rios, outrora símbolo de vida e sustento, em corredores de medo. A população clama por segurança e por uma presença estatal que garanta proteção e justiça. Enquanto um criminoso segue foragido, a mensagem é clara: o Marajó não pode continuar refém da criminalidade.
Cabe às autoridades transformar a indignação popular em ações concretas, antes que a lei dos rios seja ditada apenas pela coragem dos moradores.
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