O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer convencer a China a realizar o lançamento dos próximos satélites da parceria Cbers (sigla para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) na base de Alcântara, no Maranhão.
O tema foi discutido pelo petista com o líder chinês Xi Jinping (Pcch) durante sua visita a Pequim na 1ª metade de maio. A ideia do governo brasileiro é alinhar com a China uma cadeia de suprimentos para aprimorar a base de lançamento de foguetes do país.
A proposta esbarra em 2 pontos:
- a China tem um histórico de não realizar lançamentos de satélites com sua tecnologia em bases estrangeiras;
- o Brasil tem um acordo com os Estados Unidos que pode barrar as negociações com os chineses.
Apesar de contar com uma rede de parceiros no setor aeroespacial, a China não costuma abrir mão de fazer os lançamentos de equipamentos de tecnologia chinesa de bases em território chinês.
A China não tem uma restrição formal contra esse tipo de operação, mas a infraestrutura chinesa já existente para o lançamento de satélites –o país conta com cerca de 5 bases de lançamento– e o fato de que se trata de uma tecnologia sensível e de interesse nacional afastam a possibilidade.
O país asiático realizou apenas 1 lançamento em uma base estrangeira. Em 2012, o foguete chinês Longa Marcha 2D carregou o satélite venezuelano VRSS-1 para a órbita terrestre. O lançamento foi na base espacial de Kourou, na Guiana Francesa.
ACORDO COM OS EUA
O Acordo de Salvaguardas Tecnológicas assinado entre o Brasil e os Estados Unidos em 2019 é outro fator que pode impedir o lançamento dos satélites sino-brasileiros em Alcântara.
O acordo foi um dos documentos que permitiu a participação dos EUA em lançamentos a partir do Centro Espacial de Alcântara. Nele, fica estabelecido que países que não fazem parte do MTCR (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis), assinado pelo Brasil em 1995, realizem lançamentos na base brasileira.
A China não é um dos membros desse acordo. A razão que motivou a assinatura do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os EUA foi a proteção de tecnologias norte-americanas contra outros países. Atualmente, a China e os EUA vivem uma guerra comercial.
Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, esse acordo pode ser contornado se o lançamento for realizado por um foguete brasileiro, mas o país não possui esse tipo de tecnologia.
SATÉLITES SINO-BRASILEIROS
O Brasil e a China pretendem lançar 2 satélites. O Cbers-6, com lançamento projetado para 2028, servirá para observação meteorológica e ambiental.
O Cbers-5, que deve ir ao espaço em 2030, também terá a função principal de monitoramento climático.
A parceria entre Brasil e China já resultou no lançamento de 6 satélites. Todos foram lançados por foguetes chineses, no Centro de Lançamento de Taiyuan, a cerca de 760 km a sudoeste de Pequim.
A conversa para o lançamento dos satélites pela base de Alcântara deve ser retomada em julho, durante a visita de Xi Jinping ao Brasil para participar da Cúpula do Brics.