Em sessão pelo Dia Mundial Sem Tabaco, especialistas alertam para perigos do cigarro eletrônico

Após décadas em declínio, monitoramento governamental alertou para aumento do consumo de cigarros convencionais e vaporizadores de nicotina

Brasília – Sessão Solene na quarta-feria (28), no plenário da Câmara dos Deputados, marcou o Dia Mundial Sem Tabaco, que acontece todo 31 de maio. A data, criada pela Organização Mundial da Saúde, chama a atenção para as mortes provocadas pelo cigarro e as estratégias da indústria tabagista.

Embora o Brasil ainda seja referência no combate ao tabagismo no mundo, a partir da década de 80, quando mais de 37% da população adulta no País era fumante, campanhas educacionais e legislação que restringiu o consumo em vários ambientes, reduziu o consumo para 9,3% da população. Mas, no ano passado, houve, pela primeira vez, aumento do consumo dos cigarros industrializados, legalizados ou contrabandeados, acendendo uma luz de alerta.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Ricardo Amorim, o tabagismo é o principal causador de mortes evitáveis no País. São mais de 400 por dia e 160 mil por ano.

Ricardo Amorim: o tabagismo é o principal causador de mortes evitáveis no País. Foto: Kayo Magalhães/Ag. Câmara

Ele alerta para a gravidade do problema nos dias de hoje, especialmente para os jovens, e para os riscos dos cigarros eletrônicos, com mais nicotina e metais pesados. “O Dia Mundial Sem Tabaco hoje se refere muito a essa nova forma de apresentação de nicotina, que tem atraído a atenção de muitos jovens.”

A deputada Flávia Morais (PDT-GO), uma das deputadas que pediram o debate, chama a atenção para as estatísticas: um entre cinco adolescentes do ensino médio já experimentou cigarro eletrônico.

A sessão solene também contou com o depoimento de Laura Beatriz Nascimento, de 26 anos, que, em dezembro do ano passado, descobriu um câncer no pulmão. Ela fumava havia dez anos. “Fumava tabaco, fumava pod [vaporizador de nicotina], os cigarros eletrônicos. Precisei fazer uma cirurgia para tirar metade do pulmão direito e fiquei me perguntando: quem dos meus amigos não fuma? E não consegui pensar em ninguém.”

Laura Beatriz começou então a postar sua história no Instagram e no Tiktok para incentivar as pessoas a terem hábitos mais saudáveis. “Hoje, faz 5 meses e alguns dias que eu não fumo. Desde a cirurgia, eu parei. Fumei até dois dias antes da cirurgia. E desde então, estou livre.”

Estratégia da indústria para aumento do consumo

Coordenadora do Projeto Tabaco da ACT Promoção da Saúde, Mariana Pinho ressalta estratégias da indústria para atrair o público jovem. Desde a inclusão de aditivos, aromas diferentes e sabores, que não são necessariamente repulsivos a quem está perto do fumante.

Ela citou o depoimento de um representante da indústria tabagista em um processo judicial nos Estados Unidos. “Eles diziam o seguinte: ‘Várias crianças, quando começam, não gostam do sabor do cigarro, começam a tossir, mas um cigarro com sabor, digamos, de cereja, pode parecer melhor, e pode matar o gosto ruim do cigarro para eles e eles começam a fumar mais cedo.’”

A jornalista Silvia Poppovic começou a fumar com 15 anos de idade e afirma que foi vítima de campanhas que mostravam que fumar era algo glamuroso. Ela sabia que fazia mal e parou de fumar por vaidade.

“Não foi o fato de o cigarro matar, o fato de o cigarro trazer câncer, todos esses números que vocês trouxeram aqui, eu sabia disso, mas não era o suficiente para me fazer parar. Então, quando eu vejo essa moçada com esse vape [dispositivos eletrônicos que queimam vapores de nicotina], eu falo: essas pessoas não vão ter o mesmo argumento que eu tive para parar de fumar. Eu parei pela vaidade, porque cheirava mal e elas não cheiram mal.”

Legislação tenta barrar aumento do consumo

Desde 1996, a Lei 9.294/1996 restringe o uso do cigarro em ambientes fechados e a propaganda de cigarros e outras drogas. Já os cigarros eletrônicos são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Entram no país contrabandeados e estão disponíveis até em bancas de camelôs e locais de alto fluxo de pessoas.

A deputada Flávia Morais é autora do Projeto de Lei 949/2024, que cria o Plano Nacional de Atenção à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

A relatora da proposta na Comissão de Constituição e Justiça, deputada Gisela Simona (União-MT), também pediu a sessão solene. Ela é autora do Projeto de Lei 4888/2023, que proíbe o comércio, a importação e a propaganda de cigarros eletrônicos no País.

* Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.

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