Um caso inusitado, que envolve maternidade afetiva e o universo dos chamados bebês reborn, tem gerado intensos debates nas redes sociais e nos meios jurídicos. Uma recepcionista de Salvador entrou com uma ação na Justiça do Trabalho contra a empresa onde atua desde 2020, após ter seu pedido de licença-maternidade negado e, segundo ela, ter sido alvo de zombarias e assédio moral por cuidar de um boneco hiper-realista que considera sua filha.
O processo foi protocolado no Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-BA) no dia 27 de maio. A funcionária solicitava 120 dias de afastamento remunerado, além do recebimento do salário-família. No entanto, o pedido foi rejeitado pela empresa sob o argumento de que ela “não é mãe de verdade”.
A defesa da funcionária afirma que o foco da ação não era apenas o pedido de licença, mas os constrangimentos que ela teria sofrido no ambiente de trabalho. Um superior hierárquico, segundo consta nos autos, chegou a afirmar que a mulher “precisava de psiquiatra, não de benefício”, comentário que a expôs ao ridículo diante dos colegas.
O caso gerou repercussão nacional, especialmente após a divulgação de trechos da ação pela imprensa. Após críticas recebidas por parte do público, os advogados da trabalhadora decidiram retirar a ação judicial no dia 29 de maio. Ainda assim, a discussão sobre os limites da maternidade emocional e o preconceito contra pessoas que criam vínculos com bebês reborn permanece em alta.
O que são os bebês reborn?
Os bebês reborn são bonecos realistas que simulam recém-nascidos com impressionante nível de detalhe. Feitos em vinil siliconado ou silicone, eles possuem peso, textura de pele, marcas como a “marquinha de vacina” e, em muitos casos, até cheiro de bebê. O processo de produção pode levar semanas e os preços ultrapassam os R$ 2 mil.
Originalmente criados como itens de colecionador, esses bonecos passaram a ser usados também para fins terapêuticos, como no tratamento de luto, depressão ou ansiedade. Nas redes sociais, vídeos mostram pessoas dando banho, trocando roupas e alimentando seus reborns, o que vem dividindo opiniões.
Grupos nas redes, como o chamado movimento “mães reborn”, defendem que o vínculo criado com esses bonecos pode representar uma forma legítima de afeto. Parlamentares, inclusive, já apresentaram propostas para que pessoas com esse tipo de apego tenham acompanhamento psicológico gratuito via Sistema Único de Saúde (SUS).
Os pedidos da recepcionista
Na ação trabalhista, agora retirada, a funcionária pedia:
- Indenização por danos morais no valor de R$ 10 mil;
- Pagamento das verbas rescisórias via rescisão indireta (como aviso prévio, saldo de salário, férias, 13º, FGTS e seguro-desemprego);
- Pagamento retroativo do salário-família;
- Concessão de justiça gratuita.
A defesa sustentou que negar a maternidade emocional da funcionária é uma forma de reduzir a mulher à sua função biológica e ignorar avanços das ciências humanas na compreensão da parentalidade. “O investimento psíquico é equivalente ao da maternidade tradicional”, argumentaram os advogados.
Próximos desdobramentos
Apesar da retirada da ação, o caso reacende discussões sobre o papel das empresas na proteção da saúde mental de seus trabalhadores e sobre os limites entre o lúdico, o terapêutico e o jurídico.
O TRT-BA informou que a retirada do processo encerra o caso no âmbito da Justiça do Trabalho, mas a funcionária ainda pode buscar outras instâncias, como a Justiça Comum, caso decida retomar a disputa sob outra perspectiva legal.
Com informações do portal Metrópoles e G1
The post Mulher vai à Justiça por ter licença-maternidade de bebê reborn negada appeared first on Ver-o-Fato.