O brega, ritmo que transformou o sofrimento amoroso em expressão cultural, virou tema de disputa entre Recife e Belém no Congresso Nacional. O Senado aprovou um projeto de lei que concede a Recife o título de Capital Nacional do Brega, mas a decisão provocou reação imediata de parlamentares paraenses, que reivindicam reconhecimento igual para Belém.
O senador Beto Faro (PT-PA) encaminhou um recurso solicitando que o projeto seja discutido no plenário do Senado antes de seguir para sanção presidencial. Ele quer que o texto contemple as duas capitais, argumentando que Belém tem uma contribuição histórica ao gênero. “Vem da guitarrada, da batida indígena, do bolero, do carimbó e da lambada”, defendeu Faro.
O relator do projeto, senador Humberto Costa (PT-PE), destacou a importância do brega para Recife, não apenas como manifestação cultural, mas também como pilar econômico e símbolo de resistência durante a ditadura militar. “Odair José foi o cantor mais censurado da época”, lembrou o parlamentar.
Recife se consolidou como referência com nomes como Reginaldo Rossi, Priscila Senna e, mais recentemente, MC Loma e MC Elvis. A cidade celebra anualmente o festival Recife Capital do Brega, e o gênero ganhou espaço até no carnaval local. O prefeito João Campos (PSB) já dançou brega funk em campanha e o deputado Pedro Campos (PSB), seu irmão, criou o Dia Nacional do Brega (14 de fevereiro, nascimento de Reginaldo Rossi).
Por outro lado, Belém também tem raízes profundas no brega, com destaque para as festas de aparelhagem que movimentam as periferias desde os anos 1970. A cidade deu origem ao tecnobrega e revelou artistas como Gaby Amarantos, vencedora do Grammy Latino de 2023 com o álbum Tecnhoshow. A vertente paraense do brega se conecta com a América Latina, com forte influência da cúmbia e da guitarrada.
Pesquisadores apontam que tanto Recife quanto Belém possuem trajetórias únicas no gênero, dificultando a escolha de uma única capital para representar o brega no Brasil. Enquanto Pernambuco se destaca pela vertente romântica e pelo brega funk, o Pará é símbolo da inovação tecnológica e da estética visual das aparelhagens. Unidos por letras que falam de amor, dor e traição, os dois polos seguem firmes na defesa de um estilo que já ultrapassou as fronteiras do país.
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