Um relatório recém-divulgado pelo Departamento de Investigações Antimáfia (DIA) da Itália, sob a direção de Michele Carbone, aponta o Brasil como um ponto estratégico no esquema global de tráfico de drogas, com 26 menções ao país em suas 424 páginas. Publicado na semana passada, o documento, conforme noticiado pela Revista Veja, detalha a atuação de organizações criminosas, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC), na logística de envio de entorpecentes para a Europa e a África.
Segundo o relatório, o Brasil desempenha um papel central na complexa rede de narcotráfico que abastece o mercado europeu. “O panorama criminal na América do Sul tem predomínio das organizações criminosas presentes na Colômbia e Brasil”, destaca o documento. Enquanto o PCC é identificado como um dos principais operadores logísticos no Brasil, na Colômbia, grupos como o Clã do Golfo, dissidentes das Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN) controlam o envio de cocaína, utilizando países como Equador, Venezuela e República Dominicana como rotas de trânsito.
O documento também revela a presença de máfias italianas nas Américas, com destaque para a ‘Ndrangheta, de origem calabresa, que mantém um núcleo operacional na Colômbia. “O continente americano pode ser considerado um território estratégico para o crime organizado internacional devido à complexa rede de tráfico e lavagem de dinheiro”, afirma o relatório, segundo a Revista Veja. A influência das máfias nas Américas remonta à grande imigração italiana, quando membros de grupos como a Cosa Nostra, originária da Sicília, expandiram suas atividades criminosas para os Estados Unidos, especialmente em cidades como Nova York, Chicago e Filadélfia.
No Brasil, o relatório cita operações específicas, como a “Laranja”, deflagrada em 2024 no Rio Grande do Norte. A ação investigou o clã Pagliarelli, ligado à Cosa Nostra, acusado de lavar cerca de 300 milhões de reais por meio de empresas de fachada. Esses recursos, segundo a Polícia Federal, foram usados para adquirir propriedades e infiltrar a máfia nos setores imobiliário e financeiro do país.
O relatório reforça a necessidade de cooperação internacional para combater a expansão das redes mafiosas, que exploram as Américas como base para suas operações globais, segundo informações da Revista Veja.
Estados estrangeiros
Trechos do relatório traduzido do italiano para o português:
“As organizações criminosas italianas conseguiram colher e explorar, ao longo de décadas, as oportunidades de troca e investimento em nível internacional, independentemente do progresso da globalização. Essa inclusão ocorre de maneira quase ilícita e exige uma resposta tempestiva e madura da parte das autoridades competentes, leal, devotada, atenta, adequada continuamente às próprias medidas de contraste e promovendo a fusão e a cooperação no intercâmbio de modelos de intervenção inovadores entre as diversas nações, com o objetivo de alcançar uma “harmonização” das normas antimáfia.
Considerando a complexidade da abordagem sinérgica global na luta contra a criminalidade organizada transnacional, a Europa tem, há tempos, demonstrado a vontade de potencializar, de maneira condizente, todas as atividades relativas à cooperação internacional, especialmente em um âmbito policial e judiciário. Tal exigência nasce da crescente dimensão transnacional dos grupos de criminalidade organizada (OCGs), que tendem a se aperfeiçoar em complexas redes criminosas de “fronteira cruzada”.
Apesar do emergente e novo foco de oportunidades ilícitas, o narcotráfico continua a representar um setor de grande interesse para a criminalidade organizada, devido à sua elevada rentabilidade. A máfia italiana, em particular, neste setor, tem explorado a presença de seus afiliados nos países e continentes que produzem e exportam as substâncias estupefacentes, onde seus membros se tornaram não só cruciais para o transporte e o narcotráfico, mas também, com o progresso da tecnologia e da internet, a rede telemática e a infraestrutura de comunicações têm contribuído para intensificar o alcance das organizações criminosas transnacionais italianas.
Hoje, enfrentam-se quadrilhas sul-americanas, especialmente na Colômbia e no México, centros prioritários de produção de cocaína, assim como na Argentina, Brasil, Costa Rica, Equador, Guiana e República Dominicana, importantes territórios de trânsito. Nos últimos anos, além disso, uma nova rota, crucial para o tráfico de drogas, está se consolidando principalmente na África Ocidental, em países como Guiné-Bissau e Gana, que emergem como relevantes bases logísticas.
Dados indicam uma atividade investigativa conduzida pela Guarda de Finanças de Palermo e pela Polícia Federal Brasileira que, em 7 de outubro de 2024, desmantelou uma organização criminosa transnacional em Itália, Brasil e outros países
Em 7 de outubro de 2024, a Guarda de Finanças de Palermo e a Polícia Federal Brasileira desmantelaram uma organização criminosa transnacional que operava na Itália, no Brasil e em outros países. A operação, chamada “Aranceto”, coordenou a detenção de um suspeito original de Rio Grande do Norte, conhecido como “Autorità” (Autoridade), e o arresto de um patrimônio de cerca de 50 milhões de euros, além de bens móveis e imóveis vinculados a 17 pessoas e 12 empresas do setor imobiliário e de restauração, sediadas na Itália e no exterior.
A operação, conduzida pela Guarda de Finanças de Palermo e pela Polícia Federal Brasileira, com a colaboração da Europol, resultou na prisão de um suspeito em Natal (Brasil), além de 12 pessoas e 17 empresas do setor imobiliário e de restauração, sediadas na Itália e no exterior.
As investigações, iniciadas em 2018, revelaram uma rede de atividades criminosas que envolviam lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e outros crimes financeiros, com ramificações em vários países, incluindo Brasil, Suíça, Hong Kong e Cingapura. A organização, liderada por um suspeito de origem brasileira, utilizava uma complexa rede de empresas para lavar dinheiro e ocultar a origem ilícita dos recursos”.
Manos brasileiros
“Entre os alvos da operação estavam dois irmãos brasileiros que, entre 2019 e 2021, teriam movimentado grandes somas de dinheiro, parte delas provenientes de atividades criminosas no Brasil e em outros países. Um dos irmãos, conhecido como “Autorità”, foi preso em Natal em 2019, enquanto o outro, também de origem brasileira, foi detido em 2016, em um esquema que permitiu a lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada.
A operação expôs a extensão das atividades criminosas transnacionais, destacando a importância da cooperação internacional no combate ao crime organizado. Além disso, revelou a existência de uma rede criminosa que operava em vários países, utilizando empresas de fachada para lavar dinheiro e ocultar a origem ilícita de seus recursos.
A investigação, que durou cerca de cinco anos, foi conduzida com o apoio de várias agências internacionais, incluindo a Europol, e resultou na prisão de vários suspeitos e na apreensão de bens significativos. A operação “Aranceto” é considerada um marco no combate ao crime organizado transnacional, demonstrando a eficácia da colaboração entre diferentes países e agências para desmantelar redes criminosas complexas.”
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