Ministro do TCU confessa ‘vergonha’ de penduricalhos, mas embolsou R$ 1,1 milhão em benefícios

Maioria da população paga impostos e sustenta privilégios de uma casta de privilegiados aboletados em cargos públicos

Em mais um capítulo da saga de privilégios que sustentam uma elite indiferente aos dramas sociais da maioria da população brasileira, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, declarou, durante fórum do Esfera Brasil, sentir “vergonha” dos penduricalhos que engordam seu salário. No entanto, segundo dados obtidos pelo portal UOL, Dantas recebeu, entre maio de 2024 e maio de 2025, impressionantes R$ 1.131.717,76 em benefícios extras, que complementam seu salário bruto de R$ 44 mil mensais – já no teto constitucional.

Enquanto isso, milhões de brasileiros, que arcam com esses custos por meio de impostos, vivem abaixo da linha da pobreza, sustentando uma casta de autoridades que parecem alheias à realidade do país.

Dantas defendeu, em sua fala, um “pacto colaborativo” para eliminar os penduricalhos, mas fez questão de ressaltar que o TCU não pode ser o único a cortar esses benefícios, sob o risco de “rebaixar” o tribunal em relação a outras instituições. “Eu tenho vergonha de receber penduricalho. Agora, é preciso que haja um pacto coletivo, porque não é possível que o TCU corte penduricalho e todos os outros tribunais do Brasil paguem penduricalho”, afirmou, conforme noticiado pelo UOL.

A declaração soa quase irônica diante dos valores que ele próprio acumulou, reforçando a percepção de que, no Brasil, ministros – sejam do Executivo ou do Judiciário – não abrem mão das mordomias que os colocam em uma esfera de privilégios distante da realidade da população.

Benefícios milionários

De acordo com a folha de pagamento do TCU, revelada pelo UOL, os penduricalhos de Dantas incluem uma série de “vantagens indenizatórias e compensatórias”. Entre maio de 2024 e maio de 2025, o ministro recebeu:

  • R$ 307,3 mil em reembolso de diárias, pagos entre maio e dezembro de 2024;
  • R$ 157.774 em férias indenizadas, com parcelas como R$ 41.808 em junho, R$ 27.872 em agosto, e R$ 44.047 em fevereiro e abril;
  • R$ 1.784 mensais em auxílio-alimentação;
  • R$ 1.083 por mês em benefício pré-escola;
  • R$ 5.200 a R$ 5.500 mensais em ressarcimento de assistência médica;
  • R$ 283,6 mil em “outras vantagens indenizatórias”, com o último pagamento, em maio de 2025, atingindo R$ 72.963,82.

Esses benefícios, que não estão sujeitos ao teto constitucional, permitiram que a remuneração de Dantas ultrapassasse em muito os R$ 44 mil mensais previstos como limite para servidores públicos. A prática, comum entre altas autoridades, evidencia o abismo entre a elite estatal e os cidadãos que enfrentam dificuldades para acessar direitos básicos, como saúde, educação e alimentação.

Penduricalhos regulamentados

Segundo o UOL, Dantas foi responsável por regulamentar as “outras vantagens indenizatórias” em novembro de 2023, com base em decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que equiparou benefícios de membros do Ministério Público e juízes. A medida foi posteriormente validada pelo Conselho da Justiça Federal (CJF), pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O TCU, embora não integre o Judiciário, incorporou os mesmos direitos, equiparando-se ao STJ, conforme previsto na Constituição.

A decisão, porém, não passou incólume. O Ministério Público apontou possíveis irregularidades, e a área técnica do TCU sugeriu a suspensão dos pagamentos. Apesar disso, em 13 de dezembro de 2023, o ministro do TCU Antonio Anastasia contrariou a recomendação técnica e, com apoio do plenário da corte, liberou a continuidade dos penduricalhos, consolidando a prática.

Uma elite alheia à realidade

O caso de Bruno Dantas é apenas mais um exemplo de como os privilégios de uma casta de autoridades brasileiras seguem intocados, mesmo diante de discursos que reconhecem sua inadequação. Enquanto o ministro expressa “vergonha”, os números mostram que a renúncia a esses benefícios não é tão simples quanto parece.

A população, que sustenta essas regalias com impostos, continua enfrentando desigualdades gritantes, com milhões vivendo abaixo da linha da pobreza. A indiferença de grande parte da elite estatal aos dramas sociais reforça a urgência de uma reforma que elimine essas distorções e traga mais equidade ao uso dos recursos públicos.

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