Garnier confirma reunião com Bolsonaro, mas nega ter aderido a golpe

O ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos negou, em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta 3ª feira (10.jun.2025), ter colocado as tropas da Força à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para um golpe de Estado em 2022. Disse que se “ateve ao seu papel institucional” e que não era “assessor” do ex-presidente.

“Tratamos de militares, a Marinha é extremamente hierarquizada e seguimos bem a risca o estatuto dos militares […] Eu ouvi coisas aqui como conversa de bar, eu era comandante da Marinha, não assessor politico do presidente e me ative ao meu papel institucional”, afirmou o almirante.

Garnier confirmou ter se reunido com Bolsonaro para uma reunião no Alvorada depois das eleições, em 7 dezembro de 2022. Disse que durante o encontro foi discutido o “cenário político e social” do Brasil e citada a possibilidade de se implementar um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

Segundo as investigações da PF (Polícia Federal), teria sido nesse encontro que o ex-presidente apresentou aos comandantes das Forças Armadas uma “minuta golpista” –um texto de um possível decreto para implantar estado de sítio ou de defesa, que teria de ser aprovado pelo Congresso.

Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, Garnier disse não ter recebido qualquer documento. “Eu não vi minuta, ministro. Eu vi uma apresentação na tela do computador. Havia um telão onde algumas informações eram apresentadas. Quando o senhor fala minuta, eu penso em papel, em um documento que lhe é entregue. Não recebi”, afirmou.

Disse que na reunião foram apresentadas considerações, mas nada de teor golpista. “Não houve deliberações, e o presidente não abriu a palavra para nós, ele fez as considerações dele, o que pareciam para mim mais preocupações e análise de possibilidades, do que propriamente uma ideia ou intenção de conduzir alguma coisa numa certa direção. A única que eu percebi que era tangível e importante era a preocupação com a segurança pública, com a qual a GLO é adequada dentro de certos parâmetros”, declarou.

Segundo as investigações da PF (Polícia Federal), Garnier foi o único comandante das Forças Armadas a concordar com a tentativa de golpe, colocando suas tropas à disposição do então presidente. Já os comandantes do Exército e da Aeronáutica se opuseram –resistência que foi decisiva para barrar o plano.

INTERROGATÓRIOS

A 1ª Turma do STF começou nesta 2ª feira (9.jun) a interrogar os réus do núcleo crucial na ação penal por tentativa de golpe de Estado. Segundo a PGR, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que tinham como objetivo impedir a posse de Lula.

Fazem parte do grupo:

  • Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República;
  • Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e deputado federal;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022.

Os interrogatórios devem ser finalizados até a 6ª feira (13.jun). O 1º a ser ouvido é Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração com o STF. Os demais réus serão interrogados na sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida assim para que todos tenham conhecimento do que o delator falou e, assim, possam exercer o amplo direito de defesa.

Todos os réus do núcleo são obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.

Depois de terem sido interrogados, os réus não precisam mais comparecer. O único do grupo que não irá até o plenário da 1ª Turma é o general Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participa por videoconferência.