Denúncias, incêndio no Aurá e CPI: empresa Ciclus no olho do furacão

A empresa Ciclus Amazônia S.A., contratada por R$ 1 bilhão para gerir a coleta de lixo em Belém por 30 anos, frequenta o olho do furacão de um escândalo que expõe falhas graves na prestação do serviço e possíveis crimes ambientais. Com pagamentos mensais de R$ 32 milhões, a companhia enfrenta acusações de descumprimento contratual, acumula mais de 200 notificações da prefeitura de Belém e é alvo de um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) protocolado na Câmara Municipal, ontem (11).

A situação se agravou após um incêndio de grandes proporções no antigo lixão do Aurá, na terça-feira (10), que sufocou a cidade com fumaça e revelou o uso irregular do espaço, supostamente fechado, para despejo de resíduos.

O vereador Michell Durans (PSB) liderou a iniciativa da CPI, subscrita por 23 vereadores, para apurar irregularidades na contratação e execução do contrato firmado em 2024, sob a gestão do prefeito Edmilson Rodrigues. Em discurso na tribuna, Durans classificou a situação como “caos” e uma “grave ameaça à saúde pública e ao erário”. “A Ciclus não cumpre suas obrigações, não resolve o problema do lixo e descumpre condicionantes contratuais. Um contrato de R$ 32 milhões por mês não pode ser tratado com silêncio por esta Casa”, afirmou.

A CPI planeja convocar executivos da empresa e ex-dirigentes envolvidos na assinatura do contrato para esclarecimentos.

Relatórios da Secretaria de Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel) e da Agência Reguladora Municipal de Belém (Arbel) apontam falhas reiteradas, como acúmulo de lixo domiciliar e entulho nas ruas, déficit de 600 funcionários (com promessa de contratar apenas 320) e descarte irregular de resíduos orgânicos no Aurá, que deveria ser usado apenas para entulho. A Sezel também identificou caminhões de lixo com resíduos acumulados, em vez de descarregá-los no Aterro de Marituba, como determina o contrato.

Incêndio no Aurá expõe crise ambiental

Na terça-feira (10), um incêndio no lixão do Aurá, que deveria estar desativado, gerou uma nuvem de fumaça que afetou a qualidade do ar em Belém. A Ciclus nega responsabilidade, alegando que o fogo ocorreu no “Pátio 1”, uma área não operada pela empresa e marcada por ocupações irregulares e atividades criminosas, segundo autoridades. A companhia afirma ter acionado o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura para conter as chamas, que não deixaram feridos, e diz colaborar com as investigações.

No entanto, a versão da empresa é questionada. Na quarta-feira (11), uma força-tarefa da Sezel, liderada pelo secretário Cleiton Chaves e pelo presidente da Arbel, Ricardo Coelho, vistoriou o Centro de Tratamento de Resíduos (CRT) da Ciclus no Aurá e confirmou irregularidades. A Polícia Civil, que realizou operação no local na terça-feira, conduziu o gerente do espaço, Thiago Lima, e três funcionários à Delegacia de Meio Ambiente (Demapa) após flagrar descarte irregular de lixo orgânico. Caçambas de entulho também foram encontradas saindo do Aurá sem vedação adequada, violando normas ambientais.

Além do Aurá, a Sezel fiscalizou as sedes da Ciclus na Vileta e na Rua da Providência, próximas à BR-316, às 4h da quarta-feira. As vistorias constataram problemas operacionais e reforçaram a necessidade de ajustes urgentes. “Mapeamos a cidade e vimos acúmulo de lixo. Antes de resolver, precisamos entender a operação da Ciclus”, disse Chaves. A Arbel notificará a empresa por descumprimento contratual e intensificará a fiscalização para garantir o cumprimento das cláusulas.

A defesa da Ciclus

Em nota enviada ao Ver-o-Fato, a Ciclus Amazônia reiterou seu “compromisso com a legalidade e a responsabilidade socioambiental”. A empresa afirma cumprir normas ambientais e estar em processo de licenciamento para remediar o Aurá e construir um novo Centro de Tratamento de Resíduos na região metropolitana, com tecnologias modernas para tratamento de chorume e captação de biogás.

A companhia nega envolvimento direto no incêndio e repudia “associações indevidas”, destacando que atuou para controlar o fogo em proteção à área e aos moradores.

Desafios na gestão de resíduos

O caso da Ciclus escancara a crise na gestão de resíduos sólidos em Belém, com impactos diretos na saúde pública e no meio ambiente. A CPI, se instaurada, pode revelar detalhes sobre a negociação do contrato bilionário e responsabilizar os envolvidos nas falhas.

Enquanto isso, a população de Belém enfrenta o acúmulo de lixo nas ruas e os prejuízos causados por um serviço que, apesar do alto custo, não entrega resultados. A Prefeitura promete intensificar a fiscalização, mas a pressão por soluções efetivas cresce a cada dia.

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