IBGE mostra há 9 milhões de nem-nem; uma escola que se conecte mais com os adolescentes poderia ajudar a mudar a situação
Mesmo com uma pequena melhora, os dados da semana passada do IBGE retratam a desesperança do jovem brasileiro. São 9 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos que não fazem nada. Não estudam nem trabalham, são os tais nem-nem. E há mais gente da faixa etária nessa situação do que estudando e trabalhando.
Além disso, a parcela que escolhe o ensino superior se reduz a cada ano, com exceção dos que fazem cursos de educação a distância.
Entre os que têm até 29 anos, entram 1,6 milhão de calouros na faculdade para cursar EAD por ano, um aumento de mais de 500% do que ocorria na década passada. Já os cursos presenciais tiveram queda que beira os 50%.
Ingressam numa EAD muitas vezes sem regras, que vende facilidades a R$ 99, aulas gravadas em vídeos e pretensa formação – um novo decreto do governo federal do mês passado agora impõe limites de presencialidade e mais fiscalização. E ainda desistem com a mesma facilidade, 60% deixam os cursos depois de alguns anos, seja por dificuldade em se manter ou desinteresse.
Como disse o presidente da Associação dos Engenheiros Politécnicos, Dario Gramorelli, ao Estadão, poucos são os que querem – ou se sentem capazes – de fazer um curso de Engenharia, com cinco anos de dedicação, muita Matemática e Física. Os números mostram a queda acelerada da quantidade de calouros na área.
Nesse caldo há ainda as redes sociais, os celulares colados nas mãos e nos cérebros da juventude. O fascínio pelo sucesso fácil vendido pelos influencers que trocam conteúdo por dinheiro das bets. Pra que estudar ou trabalhar das 9h às 18h se um vídeo pode render milhares de reais?
A situação é complexa, mas não há como não enxergar a responsabilidade da escola nisso tudo. Aos 10 anos, quando o estudante deixa o ensino fundamental 1 (antigo primário), a escola começa a se afastar dele. A professora adorada pelos pequenos se torna a chata que só cobra do adolescente que olhe para a lousa e copie a lição.
É na educação básica que começamos a perder esse jovem porque não sabemos fazer uma escola para a adolescência. Professores muitas vezes não conhecem o desenvolvimento nessa faixa etária e não encontram atividades para que vejam sentido na aprendizagem.
Se queremos diminuir os nem-nem é preciso mudar a escola, começando no 6º ano e indo até o ensino médio. Não há bala de prata, mas as pesquisas já mostram que atividades em que possam ter protagonismo, escuta verdadeira dos adultos, esportes, monitoria de jovens mais velhos ajudam muito.
E o uso da tecnologia, que tanto gostam, mas de forma construtiva e pedagógica. Para que deixem de ser apenas indivíduos passivos, consumindo brain rots e jogando pra cima o próximo vídeo. Assim, difícil não acabar como um nem-nem. (Renata Cafardo, colunista do Estadão)
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