Em um esforço pioneiro para enfrentar os desafios impostos por inundações e erosões, a capital paraense ganha, nesta quarta-feira (18), a apresentação do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), um documento que mapeia as áreas mais vulneráveis de Belém e aponta caminhos para prevenir desastres. Coordenado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o plano identifica 301 setores com risco de inundação e 88 áreas suscetíveis à erosão costeira, com destaque para bairros densamente povoados como Terra Firme, Tapanã, Curió-Utinga, Paracuri e São João do Outeiro.
A iniciativa, que coloca Belém ao lado de Manaus como as únicas cidades do Norte com um plano desse tipo, é um marco para o planejamento urbano e a segurança da população. O PMRR é um verdadeiro diagnóstico da vulnerabilidade de Belém. Situada em uma área de baixa altitude, entre 0 e 4 metros, a cidade é cortada por 14 bacias hidrográficas, muitas delas impactadas por ocupações desordenadas e aterramentos históricos.
A combinação de chuvas intensas do chamado “inverno amazônico” com marés altas cria um cenário crítico, agravado pela infraestrutura precária e pela presença de habitações informais. Bairros como Terra Firme, um dos mais populosos da Grande Belém, estão entre os mais ameaçados por inundações, enquanto áreas insulares como Combu, Cotijuba, Mosqueiro e Outeiro enfrentam riscos significativos de erosão costeira.
A professora Milena Andrade, coordenadora do projeto, enfatiza a gravidade da situação: “Mesmo antes das mudanças climáticas, Belém já enfrentava riscos críticos. O PMRR é uma ferramenta essencial para planejar ações preventivas e criar uma cultura de resiliência.” O plano classifica os perigos em níveis médio, alto e muito alto, priorizando cinco bairros para intervenções estruturais urgentes.
Soluções práticas
O PMRR não se limita a mapear problemas; ele propõe soluções concretas. Entre as medidas sugeridas estão obras de micro e macrodrenagem, limpeza e canalização de canais, dragagem, recomposição vegetal e manutenção de sistemas de drenagem existentes. A coordenadora destaca a importância da manutenção contínua: “Construir é essencial, mas a limpeza periódica das estruturas precisa ser prioridade na agenda municipal.” Além disso, o plano inclui ações educativas, como cartilhas e glossários voltados para escolas e comunidades, visando fortalecer a conscientização sobre prevenção de riscos.
Os custos das intervenções foram calculados com base no Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI), da Caixa Econômica Federal, garantindo maior precisão para a captação de recursos. Após a audiência pública, o plano será entregue à Defesa Civil de Belém, servindo como base para planejamento urbano, ações emergenciais e busca por financiamento.
Esse plano é parte de uma iniciativa nacional que abrange 20 cidades brasileiras, com apoio do Ministério das Cidades, Fiocruz, Defesa Civil, universidades e lideranças comunitárias. A elaboração do plano reflete a urgência de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pelo crescimento desordenado, problemas que afetam milhões de brasileiros.
Em um contexto em que desastres naturais se tornam mais frequentes, o projeto posiciona Belém como referência na busca por soluções preventivas na região Norte.
O chamado à ação
A audiência pública de hoje, no auditório da Biblioteca Central da Ufra, será um momento importante para engajar a comunidade e as autoridades. O evento, que começou às 8h, incluirá a apresentação dos resultados do PMRR, o lançamento de materiais educativos e um espaço para diálogo com a população. “A participação da comunidade é fundamental. Esse plano não é só técnico, é também um convite para que todos se envolvam na construção de uma Belém mais segura”, reforça a professora Milena.
O PMRR não é apenas um documento técnico; é um alerta e um plano de ação para salvar vidas e proteger o futuro de Belém. A cidade, com sua rica história e importância cultural, enfrenta riscos que não podem ser ignorados. A iniciativa demonstra que a ciência, aliada à participação popular, pode transformar desafios em oportunidades para um urbanismo mais sustentável.
Em um cenário global de mudanças climáticas, o plano é um exemplo de como cidades podem se preparar para o futuro, priorizando a segurança e a qualidade de vida de seus cidadãos. Materiais educativos sobre prevenção de riscos serão distribuídos durante o evento. A participação é aberta ao público, e a presença de moradores dos bairros mapeados é especialmente incentivada.
Belém está dando um passo decisivo para enfrentar seus desafios. Resta agora transformar o plano em ações concretas.
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