Galípolo, nomeado por Lula para o BC, aperta o garrote para conter inflação; Gleisi Hoffmann cala-se
Brasília – Para não restar qualquer sinal de dúvidas, todos os membros do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), votaram unânimes nesta quarta-feira (18) para a elevação da taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano, maior patamar desde julho de 2006. O Palácio do Planalto não se manifestou, muito menos a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, principal crítica dos aumentos da Selic, quando o BC foi presidido pelo economista Roberto Campos Neto, antecessor do novo presidente, Gabriel Galípolo.
A decisão marca uma semana de velório para o governo federal.No campo político, o governo foi esgarçado desde a segunda-feira, quando a Câmara dos Deputados aprovou a urgência do requerimento que pretende, na próxima semana, derrubar o decreto presidencial que aumentou o IOF.
Na terça-feira (17), a sessão conjunta do Congresso Nacional leu o requerimento que aprovou a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI), do INSS, que fará o governo sangrar em público por pelo menos 180 dias, em seguida, deputados e senadores derrubaram quase todos os vetos do presidente Lula em projetos já aprovados, colocando o governo nas cordas —e, com o aumento da taxa Selic hoje, o governo fecha a semana em clima de velório, mas com um fato que chama a atenção até aqueles que não acompanham a política: o presidente Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sequer no país estão.

O primeiro, prefere exercer funções que caberiam a um Primeiro-Ministro, e está no Canadá, em reunião do G7, para jogar para a platéia internacional que ainda é um grande líder político do que chama de Sul Global, embora a realidade o desminta.
Enquanto que Haddad, no meio do furação da pauta do Congresso Nacional desta semana, priorizou seus planos pessoais, e saiu de férias, surpreendendo até mesmo membros de sua equipe econômica.
Diante de um quadro dessa natureza, qualquer decisão técnica do Banco Central, é mera “pavulagem”, como os paraenses costumam se expressar para descrever níveis elevados de lambança.
A decisão do Copom
No breve comunicado do início da noite do BC, cuja a ata será publicada em sua integralidade na próxima quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, alcançando 15% ao ano, o maior nível desde julho de 2006. Esta decisão, que surpreendeu parte do mercado financeiro que esperava a manutenção em 14,75%, foi tomada em um cenário macroeconômico desafiador.
As principais justificativas para esta elevação incluem:
– Persistência da pressão inflacionária: As expectativas de inflação para 2025 e 2026 permanecem acima da meta de 3%, com projeções indicando um IPCA de 5,53% para 2025. As medidas subjacentes de inflação e a inflação cheia continuam acima do objetivo estabelecido.
– Mercado de trabalho aquecido: O dinamismo do mercado de trabalho e o crescimento real dos salários têm mantido pressão sobre os preços, contribuindo para a persistência inflacionária.
– Ambiente externo adverso: A conjuntura internacional incerta, influenciada especialmente pelas políticas comercial e fiscal dos Estados Unidos, exige cautela por parte de países emergentes como o Brasil.
– Atividade econômica resiliente: Embora os indicadores de atividade econômica apresentem certa moderação no crescimento, ainda mantêm dinamismo suficiente para sustentar pressões inflacionárias.
A decisão unânime do Copom visa garantir a convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, utilizando a Selic como principal instrumento de política monetária para controlar o volume de recursos em circulação e, consequentemente, os preços.
Um dos maiores impactos da decisão do BC recai diretamente sobre o governo. O custo do serviço da dívida — um dos impactos mais diretos e onerosos da Selic alta é o aumento do custo de serviço da dívida pública. Estimativas indicam que cada aumento de 1 ponto percentual na Selic eleva o custo da dívida bruta federal em cerca de R$ 50 bilhões a R$ 55 bilhões.
A pressão fiscal cresce, uma vez que o aumento dos gastos com juros da dívida pública desvia recursos que poderiam ser aplicados em áreas essenciais como saúde e educação, e pode comprometer a sustentabilidade fiscal do país. Entretanto, dado o comportamento dos dois maiores interessados no tema, “estão bem longe desse tipo de probleminha menor”, disse um deputado nesta manhã, na sessão que aprovou quatro projetos de pouca importância, relacionados as relações exteriores.
Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.
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