A jogada política que se constituiu como um verdadeiro tiro no próprio pé. Câmara cobra retratação
Em um país que se orgulha de sua diversidade cultural e religiosa, as recentes declarações do prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano (Avante), durante uma sessão solene na Câmara Municipal, no dia 11 de junho, são um verdadeiro retrocesso. Em um evento que deveria celebrar o Dia Municipal do Evangélico, Goiano optou por transformar o púlpito em um palco de intolerância, proferindo ataques diretos às religiões de matriz africana. Suas palavras, carregadas de desrespeito e preconceito, não apenas ferem a laicidade do Estado, mas também acendem a faísca de uma perigosa guerra religiosa, em uma manobra política que, no fim, pode custar caro ao próprio prefeito.
“Esse prefeito é terrivelmente temente a Deus. Se as religiões de matriz africanas precisarem do apoio da prefeitura, a Coordenação de Assuntos Religiosos está de portas abertas e um pastor irá recebê-los e ainda vai dizer: Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno!”, declarou Goiano, em um tom que mistura arrogância e desdém.
Como se não bastasse, ele ainda afirmou que “o resto, pra mim é resto”, referindo-se às crenças que não compartilha, e exaltou o pastor Geraldo Teixeira, coordenador de Assuntos Religiosos, como um “matador de demônios”. Tais palavras não são apenas ofensivas; elas são um convite explícito à discriminação, ao reforçar estereótipos que historicamente marginalizam as religiões afro-brasileiras.
A reação foi imediata e necessária. A Câmara Municipal, em nota assinada pelo presidente Anderson Moratorio (PRD) e pela Comissão de Direitos Humanos, classificou as declarações como “inaceitáveis” e uma clara violação do princípio constitucional da laicidade. A Casa legislativa, que deveria ser um espaço de diálogo e pluralidade, foi palco de um discurso que, segundo os vereadores, gerou “profunda indignação” em lideranças religiosas e na sociedade civil. A nota cobra uma retratação pública do prefeito, um pedido que, até agora, Goiano parece ignorar, mantendo um silêncio que só agrava sua situação.
A Federação Espírita Umbandista dos Cultos Afros Brasileiros do Estado do Pará (Feucabep) foi ainda mais contundente, classificando as falas como racismo religioso, um crime previsto em lei. Não é exagero. As religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, já enfrentam séculos de estigmatização no Brasil, frequentemente associadas a preconceitos raciais e culturais.
Ao atacar essas crenças, Goiano não apenas desrespeita a Constituição, que garante a liberdade religiosa, mas também joga lenha na fogueira da intolerância, alimentando divisões que podem escalar para conflitos reais.
Cálculo político errado
Mas o que motiva um prefeito a adotar uma postura tão beligerante? A resposta parece estar no cálculo político. Em um contexto de polarização, Goiano parece apostar em discursos que mobilizem setores conservadores, usando a religião como arma para angariar apoio eleitoral. É uma tática tão velha quanto perigosa, que busca capitalizar a fé de uma parcela da população enquanto demoniza outras.
No entanto, essa estratégia é míope. Ao alienar comunidades inteiras e desrespeitar a diversidade que caracteriza Parauapebas, o prefeito arrisca sua própria credibilidade e legado. A intolerância pode render aplausos de alguns, mas a longo prazo, é uma receita para o isolamento político e social.
A Câmara Municipal, ao menos, deu um passo à frente ao condenar o discurso e reafirmar seu compromisso com os direitos humanos e a pluralidade. A Feucabep, por sua vez, acerta ao exigir responsabilização, lembrando que racismo religioso não é apenas uma ofensa moral, mas um crime que deve ser enfrentado com rigor.
Resta saber se Aurélio Goiano terá a humildade de reconhecer o erro e se retratar, ou se insistirá em uma postura que, no fim, só prejudica a si mesmo. Goiano pode até sonhar com dividendos políticos, mas o que ele está semeando é discórdia.
E, como a história já mostrou tantas vezes, quem brinca com o fogo do ódio raramente sai ileso.
IMAGENS FALAM POR SI:
The post VÍDEO – Discurso de ódio: o prefeito de Parauapebas e seu “matador de demônios” contra religiões africanas appeared first on Ver-o-Fato.