Empresário Alexandre Zucatelli alertou: setor produtivo pede urgência por medidas estruturantes
Manaus, Belém, Brasília, Florianópolis – A recente edição do programa “Linha de Tiro” do Portal Ver-o-Fato (confira a íntegra aqui), promoveu um debate contundente sobre a delicada situação econômica e política do Brasil, com foco especial nos impactos sobre o setor produtivo. Tendo como convidado o empresário Alexandre Zucatelli, CEO da Zucatelli Brasil, com a mediação do editor do Portal, Carlos Mendes, ao lado dos jornalistas Val Mutran e Jorge Reis, a mesa redonda desvendou um cenário de crescente preocupação e obstáculos para o desenvolvimento do país, especialmente na região amazônica.
O pano de fundo da discussão foi a instabilidade gerada por medidas governamentais e a política monetária. Val Mutran destacou que a semana anterior à entrevista foi “praticamente de terror para o governo”, citando a derrubada de vetos presidenciais pelo Congresso Nacional e a aprovação da urgência do projeto que reverteu parte do decreto presidencial que aumentou a alíquota do IOF (Imposto de Operações Financeiras). No entanto, a “solução” encontrada pelo governo federal para compensar foi a edição de uma Medidas Provisória(MP) 1.303/2025, taxando outros setores, como as bets, que viram sua taxação subir de 12% para 18%.
No início do debate, Carlos Mendes leu a nota da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que tinha acabado de ser divulgada para a imprensa, que trouxe o tom da gravidade da situação econômica, revelando que a decisão do Copom de elevar a taxa Selic para 15% ao ano — um aumento de 0,25 pontos percentuais — “agrava ainda mais o cenário para o setor produtivo brasileiro”. O presidente da CNI, Ricardo Alban, em citação presente no documento, enfatiza a urgência de um “pacto nacional para avançar com medidas estruturantes”, alertando que “o setor produtivo já exauriu a sua resiliência”. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da CNI corrobora o pessimismo, registrando o sexto mês consecutivo de queda, um cenário mais prolongado que o visto durante a pandemia e comparável apenas à recessão de uma década atrás.
Alexandre Zucatelli, com a visão de quem investe pesado na Amazônia e em outros estados, não hesitou em expressar sua preocupação: “Há décadas nunca tivemos uma Selic tão alta como está, e isso obviamente preocupa os empresários em fazer investimento, porque o custo financeiro fica muito alto para ele investir.Ele ressaltou “a alta dos juros e o consequente aumento da inflação resultam em uma clara redução do poder de compra do brasileiro, levando a uma retração no mercado consumidor em qualquer segmento de produto.”
Os jornalistas e o empresário também criticaram o excesso de gastos públicos e a “desorganização das contas públicas”, que culminam na criação de novas taxações para cobrir esses déficits. Além do IOF, foram mencionados os impostos sobre o LCI (habitação) e o LCA (agronegócio), que elevam os custos para o consumidor final e impactam diretamente o custo dos alimentos nos supermercados. Jorge Reis, por sua vez, foi mais incisivo, sugerindo que a “irresponsabilidade desse governo é tão grande que ela chega a ser inacreditável”, aventando até mesmo a possibilidade de um “propósito já planejado de acabar com o Brasil”, em uma referência forte à ausência de retorno para a sociedade diante de tantos impostos.
Zucatelli Brasil e a resiliência amazônica na luta contra a burocracia
Em meio a esse panorama desfavorável, a trajetória da Zucatelli Brasil surge como um exemplo de resiliência e a luta diária contra as adversidades no ambiente de negócios brasileiro. Alexandre Zucatelli, terceira geração de uma família que migrou para a Amazônia em 1974, destacou o legado de “respeito” deixado por seus avós e pais, que o motiva a seguir empreendendo.
O Grupo empresarial, com mais de 500 funcionários, tem suas operações em diversos estados da Amazônia – Pará, Maranhão, Piauí e Amazonas – atuando principalmente no segmento de concessionárias (automóveis, caminhões, tratores, máquinas de construção e empilhadeiras) e no agronegócio. No setor agropecuário, o grupo investe pesado em fazendas para cria-recria-engorda e, notavelmente, em melhoramento genético. Zucatelli detalhou a importância dessa prática: “Você produzir mais em menos áreas… você está fazendo a preservação ambiental, você não precisa fazer abertura de mais áreas.” Ele citou exemplos como a redução do tempo de engorda de bois Nelore de 4-5 para 3 anos e a produção de vacas Girolando que rendem de 15 a 18 litros de leite por dia, contra a média de 3 litros.
Apesar da visão e do potencial, os desafios na Amazônia são imensos. O plano do da Zucatelli Brasil para 2025, de dobrar sua área territorial com expansão para Rondônia, Tocantins, Roraima e Amapá, está sendo “revisado sobre o tamanho do investimento”, embora os projetos continuem. Alexandre justificou a cautela: “Os investimentos, eles vão ser realizados, só que agora num tamanho da capacidade que o mercado atualmente vai comportar.”
Os problemas de infraestrutura são um gargalo crônico. O caso do derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins, a altura do município de Itupiranga, sudeste do Pará, que deveria ter navegação plena, está travado há mais de 15 anos por questões ambientais. Carlos Mendes e Alexandre Zucatelli lamentam que essa inação impede o desenvolvimento econômico da região. Da mesma forma, a conclusão do asfaltamento da BR-319, vital para a conexão com estados como Rondônia, continua paralisada.
“Esses atrasos prejudicam muito o desenvolvimento da nossa região amazônica,” afirmou Alexandre, que também listou como dificuldades prioritárias a “logística… e pessoas profissionalizadas”, que exigem um custo muito maior para prepará-las.

PanAmazônia
A Organização PanAmazônia, que Alexandre presidiu, tem como principal objetivo a aproximação com os governos estaduais e federal para desburocratizar e liberar o uso das riquezas naturais da região. Ele defende a exploração responsável de minérios como o potássio em Autazes (AM) – um fertilizante crucial que o Brasil importa massivamente, apesar de ter reservas – e do petróleo no Arco Norte (Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte), na chamada Margem Equatorial.
“O que é necessário é que de fato isso seja liberado para ser explorado, obviamente com responsabilidade dentro da lei, para que a gente faça com que a vida das pessoas melhore.” A visão é clara: o desenvolvimento econômico gerará empregos e melhorará a qualidade de vida”, prevê Zucatelli.
COP30, inovação e o futuro da Amazônia: visões em confronto
A proximidade da COP30 em Belém, em novembro, dominou parte do debate, levantando questões sobre o papel do Brasil na discussão climática e as oportunidades para a Amazônia. Para Alexandre Zucatelli, o evento é uma chance para mostrar as “muitas potencialidades de recursos naturais” da região e como o empresário brasileiro “faz proteção ambiental muito mais que os empresários estrangeiros”.
Contrariando a centralização do evento em Belém, Alexandre propôs uma visão mais abrangente: “Eu acredito muito… que a COP30 ela não deveria somente ser no estado do Pará. Se a Amazônia é composta de nove estados… deveria ser realizada em outros estados também da Amazônia… para que todos esses países [presentes ao evento]… possam conhecer, na realidade, o que é a Amazônia.” Ele sugere que estados como Amapá, Amazonas e Mato Grosso deveriam sediar partes da COP30 para uma experiência mais completa da realidade amazônica.
A discussão sobre a exploração de recursos naturais, como o potássio e o petróleo no Arco Norte, foi central. A demora na liberação de licenças para projetos como o do potássio – que levou 15 anos para ser aprovado – exemplifica a burocracia que impede o Brasil de se tornar autossuficiente em insumos vitais. Jorge Reis e Carlos Mendes lamentaram a incapacidade do Brasil de avançar na exploração de terras raras, minerais essenciais para a tecnologia moderna, devido a “impedimentos ambientais” e a influência de “ONGs internacionais”.
Jorge Reis questionou: “Para que serve o atual Ministério do Meio Ambiente? Ele serve para atrasar a região amazônica.”
Veículos flex, híbridos ou elétricos?
A mesa abordou ainda a transição para veículos elétricos e híbridos na Amazônia. Alexandre Zucatelli aponta que, embora seja uma tendência global, a realidade regional exige adaptações. Para ele, o plug-in híbrido é o mais apropriado para a Amazônia, devido à flexibilidade de motor a combustão e bateria recarregável na tomada, essencial em uma região com infraestrutura limitada de recarga e estradas muitas vezes não pavimentadas. Ele enfatiza que o mercado de veículos 100% elétricos ainda tem um longo caminho, dada a escassez de postos de abastecimento e as condições das rodovias. O grupo empresarial Zucatelli já trabalha com marcas que oferecem opções híbridas e elétricas (como empilhadeiras e caminhões Foton), mas reconhece as limitações de custo e aplicabilidade em certos cenários.
Ao final do programa, a notícia de uma carta de mais de 250 cientistas de 27 países cobrando do presidente Lula ações na COP30 para o fim dos combustíveis fósseis trouxe à tona a pressão internacional. Alexandre Zucatelli avaliou a situação: “Isso aí, de fato, já é um aviso que vai haver uma rejeição sobre a exploração do petróleo no Arco Norte… A Amazônia é da Amazônia… Como que nós vamos melhorar a vida das pessoas em um estado como Amapá se não houver um desenvolvimento econômico com uma riqueza tão importante, natural, que é o petróleo?” Ele argumenta que tecnologias modernas podem garantir a proteção ambiental durante a exploração, e que o protecionismo ambiental desnecessário impede a geração de riqueza e a superação da pobreza.
Os debates do “Linha de Tiro” reforçaram a necessidade de liderança política para destravar o potencial brasileiro, a despeito das pressões ideológicas. Carlos Mendes elogiou a “coragem de ousar” de empresários como Alexandre Zucatelli, que “crescem na adversidade, defendendo a liberdade de expressão e a independência dos debates sobre o futuro do Brasil e da Amazônia.
Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.
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