As ilhas de calor urbanas surgem devido a fatores típicos das cidades: concreto e asfalto absorvem e liberam calor lentamente, enquanto tráfego intenso e sistemas de ar-condicionado aumentam a temperatura. A poluição e a arquitetura compacta (com prédios altos e ruas estreitas) impedem a circulação do ar, criando um “efeito estufa local” que retém o calor. Mapa: InfoAmazônia
Belém, uma das capitais menos arborizadas do Brasil, enfrenta graves problemas com ilhas de calor urbano, registrando temperaturas até 10°C mais altas que áreas florestais próximas. A reportagem de Nicholas Miller, da InfoAmazonia, revela que apenas 39,6% da cidade tem cobertura vegetal, e em 17,1% do território, a temperatura média é pelo menos 5°C superior à da Área de Proteção Ambiental do Combu. Essa situação se agrava nas periferias, como Sacramenta, onde a falta de árvores e o excesso de concreto criam bolsões de calor extremo, prejudicando a qualidade de vida da população.
A desigualdade na distribuição de áreas verdes é evidente: enquanto o centro de Belém ainda preserva algumas árvores, as regiões periféricas sofrem com a escassez de vegetação. Moradores relatam que o calor tem piorado nos últimos anos, afetando até mesmo a conservação de alimentos, como frutas vendidas em feiras livres. A falta de planejamento urbano e a priorização de infraestrutura de concreto agravam o problema, deixando comunidades mais pobres ainda mais vulneráveis às altas temperaturas.
Apesar de sediar a COP30, Belém ainda não trata a arborização como prioridade. Projetos polêmicos, como a instalação de “árvores artificiais” pelo governo do Pará em um parque destinado ao evento, foram alvo de críticas, evidenciando a contradição de uma cidade amazônica que não aproveita sua biodiversidade para amenizar o calor. Embora a prefeitura tenha anunciado o plantio de mudas nativas, especialistas alertam para a falta de monitoramento pós-plantio, o que pode inviabilizar os resultados.
A solução para reduzir as ilhas de calor em Belém passa por um planejamento urbano que priorize espécies nativas adaptadas ao ambiente citadino, além de políticas públicas que garantam o cuidado contínuo com as árvores plantadas. Enquanto isso não acontecer, a capital paraense seguirá como um exemplo paradoxal: uma cidade cercada pela maior floresta tropical do mundo, mas que sofre com a falta de sombra e o calor extremo em suas ruas.
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