Quem ousa contrariar o prefeito Anderson Dias (MDB), em Marapanim, na região do nordeste paraense, pode estar cavando a própria cova política. Foi o que aconteceu com o vereador Leandro Brasil (PDT), cassado recentemente num processo marcado por vícios, suspeitas de ilegalidade e forte interferência do Executivo municipal. A cassação não apenas calou uma das principais vozes de oposição na Câmara, mas também escancarou o uso do poder público como ferramenta de perseguição política.
Leandro, eleito nas últimas eleições municipais, ganhou notoriedade por sua postura fiscalizadora e pelas denúncias contra a gestão do prefeito Anderson Dias. Ao longo do mandato, ele apontou irregularidades em diversas áreas da administração, como abandono de obras, precariedade na saúde, suspeitas de desvios de recursos, ausência de merenda nas escolas e coleta de lixo irregular. O vereador passou a ser visto como uma pedra no sapato do governo.
O caminho até a cassação de Leandro Brasil foi pavimentado com o apoio de vereadores que têm vínculos diretos, pessoais ou familiares com o prefeito. A maioria da Câmara Municipal hoje é composta por nomes que orbitam em torno do grupo político de Anderson Dias — muitos com cargos ou benefícios atrelados à máquina pública.
Entre os protagonistas da ofensiva contra o vereador estão:
Nathan Borges, ex-cunhado do prefeito, que chegou a gravar um vídeo acusando Leandro de tentar “sujar a imagem da gestão”;
André Chaves, apontado como principal marqueteiro do prefeito e com cerca de 15 parentes empregados na prefeitura;
Ananda Costa, ex-secretária da primeira-dama e companheira do atual tesoureiro do município;
Cledson “Bichinho”, que mantém contratos de aluguel de ônibus com o Executivo e tem familiares em cargos públicos;
Augusto PC, líder do governo na Câmara, com parentes e aliados indicados para funções estratégicas.
Tribunal de exceção?
A composição da comissão que julgou o processo contra Leandro reforça a impressão de um tribunal de exceção, sem garantias mínimas de imparcialidade. A credibilidade das testemunhas também foi colocada em xeque, já que muitas delas são funcionárias contratadas ou parentes de servidores da própria prefeitura.
Um dos casos mais emblemáticos foi o do sargento Marcelo Elleres, cuja esposa e mãe são servidoras do município. Ele depôs contra Leandro e frequentemente publica manifestações públicas de apoio ao prefeito, com tom religioso e quase messiânico.
A cassação favoreceu diretamente o grupo político do prefeito. A suplente de Leandro Brasil, Nana Oeiras, é a atual secretária municipal de Turismo, integrante do próprio governo. Com a entrada dela na Câmara, Anderson Dias passa a contar com uma base ainda mais sólida e fiel, além de eliminar um adversário incômodo.
Juristas e moradores locais levantam sérias dúvidas quanto à legalidade do processo. Um dos julgadores da cassação, segundo denúncia de Leandro, tem filho e neto nomeados em outras esferas do poder. Além disso, a decisão foi mantida no Tribunal de Justiça do Pará por Mayrton Carneiro, desembargador conhecido por decisões polêmicas.
Com a palavra, o cassado
Ao Ver-o-Fato, Leandro Brasil afirmou que sua cassação é uma “retaliação clara” às denúncias que vinha fazendo e narrou episódios que mostram como a perseguição contra ele foi construída passo a passo.
“Como de praxe, sempre gravo meu trabalho, justamente pra ter provas contra qualquer tipo de falsa acusação”, afirmou. Segundo ele, o Portal da Transparência da prefeitura não exibe informações básicas, como a folha de pagamento, que estaria “cheia de fantasmas” e com superlotação. No dia 10 de abril, ao protocolar um pedido de informações na Secretaria de Administração, foi surpreendido com a chegada da Polícia Militar — chamada pelo próprio secretário, que se recusou a ser filmado mesmo em função pública.
O vídeo gravado por Leandro desmontou a acusação de que ele teria invadido o gabinete. Mesmo assim, a Câmara seguiu com o processo, ignorando as provas apresentadas. Sua testemunha de defesa, relatou o vereador, acabou mudando o depoimento após conseguir um cargo na prefeitura.
“Minha cassação foi sustentada não por provas, mas por testemunhas que têm vínculos diretos com a prefeitura. A justificativa final foi minha forma verbal de me expressar, o que já não era sequer o objeto da denúncia inicial”, disse.
Clima tenso e judicialização à vista
O caso deve desdobrar-se na Justiça, com a defesa do vereador preparando recursos para tentar anular a cassação. Enquanto isso, o clima político em Marapanim é de tensão. A população assiste a um cenário preocupante: aparelhamento da Câmara, supressão de vozes independentes e uso do poder público como arma para calar opositores.
No município, a pergunta que ecoa é: quem será o próximo?
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