Mesmo 11 anos após deixar as Testemunhas de Jeová, Carina, 37, ainda convive com depressão e ansiedade, males que, segundo ela, remontam ao período em que frequentava a congregação em Suzano, na Grande São Paulo. A ex‑fiel — que prefere ser identificada apenas pelo primeiro nome — denuncia ter sido submetida a uma “comissão judicativa” composta por três homens encarregados de investigar sua primeira relação sexual fora do casamento. O caso também foi noticiado pelo Metrópoles.
“Nunca fui uma jovem considerada espiritualmente forte, na visão deles. Isso porque eu tinha amizade com pessoas críticas, tinha um pensamento crítico, não era completamente dominada pelos preceitos da seita”, afirmou.
O início do trauma
Em 2010, tomada pelo sentimento de culpa após fazer sexo antes de casar, Carina e o então namorado confessaram o “pecado” aos anciãos, líderes locais da congregação. Segundo ela, o casal foi submetido a três rodadas de interrogatório — primeiro separadamente e depois juntos.
“Eles fizeram uma reunião comigo, depois com o meu namorado e, por fim, com os dois juntos. Me colocaram em uma sala com três homens, que começaram a perguntar como foi a relação sexual. Primeiro, perguntaram individualmente, para verificar se haveria contradições”, relembrou.
“Questionaram se tínhamos premeditado, se era algo recorrente, quantas vezes aconteceu, se foi em motel ou em casa, e até se planejávamos chamar mais pessoas para participar do ato sexual.”
Ao final, os anciãos decidiram expulsar ambos da igreja. “Para consertar a situação, a gente acabou se casando, mas o relacionamento durou apenas quatro anos. Quando meu casamento terminou, em 2014, passei pela segunda comissão judicativa após me envolver com outra pessoa”, contou.
Segunda expulsão
A nova reunião foi desencadeada por uma denúncia de um colega da igreja.
“Eu havia me relacionado com alguém de fora da religião. Fui chamada para conversar e, então, assumi o que tinha feito.”
“Quiseram saber quando foi, quantas pessoas sabiam e até em que posição a relação aconteceu. Senti muita vergonha, porque essas comissões são compostas apenas por homens, que decidem sua vida. Você tem que falar tudo e esperar o julgamento.”
Depois de ser novamente expulsa, Carina teve o nome anunciado do púlpito:
“Falaram meu nome do púlpito, na tribuna, e deixaram as pessoas à vontade para interpretar como quisessem. Normalmente, todos já sabem que é algo relacionado à questão sexual. Então, o expulso vira alvo de críticas e apontamentos.”
Consequências familiares e apoio a vítimas
Sem poder permanecer na casa dos pais, a ex‑fiel se mudou para a residência do então companheiro, com quem ficou casada por nove anos e teve um filho. Hoje, ela é casada com outro dissidente e dedica‑se ao apoio de pessoas que se consideram vítimas da organização.
“A história de vida dele é basicamente a mesma. Também passou por comissão judicativa e pelas mesmas perguntas ridículas que eu. Hoje, sofre com depressão profunda e ansiedade.”
O casal mantém acompanhamento psicológico e psiquiátrico regular.
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