Mercosul e EFTA concluem negociações de Acordo de Livre Comércio e amplia oportunidades de exportações

O anúncio encerra um processo de negociações iniciado em 2017, envolvendo rodadas técnicas, encontros ministeriais e ajustes em temas sensíveis como tarifas agrícolas, regras de origem, serviços e compras governamentais.

O acordo Mercosul–EFTA prevê redução ou eliminação de tarifas de importação, abertura de mercados de serviços, proteção de investimentos, regras de propriedade intelectual e compromissos de sustentabilidade. Para o Mercosul — composto por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — o pacto é considerado estratégico para diversificar parceiros comerciais além da União Europeia e dos Estados Unidos.

Segundo representantes dos dois blocos, o tratado ainda precisa passar por revisão jurídica, tradução e ratificação pelos parlamentos de cada país antes de entrar em vigor. A expectativa é de que o processo seja concluído em 2026, caso não haja obstáculos políticos.

Em nota, o Itamaraty destacou que o acordo deve beneficiar setores como agropecuária, automotivo, bens industriais e serviços de tecnologia, além de favorecer pequenas e médias empresas exportadoras. A EFTA, por sua vez, espera garantir acesso a commodities agrícolas e ampliar o fornecimento de bens de alto valor agregado, como produtos farmacêuticos e máquinas.

O que é a EFTA
A Associação Europeia de Livre Comércio foi criada em 1960 como uma alternativa à União Europeia para países que optaram por não fazer parte do bloco comunitário. Hoje, a EFTA reúne quatro países: Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein — economias pequenas, mas de alto PIB per capita.

Atualmente, a EFTA é o 8º principal parceiro comercial do Mercosul na Europa, com uma corrente de comércio de cerca de US$ 5 bilhões anuais, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores.

Impacto econômico do Acordo Mercosul–EFTA

Acesso a mercados de alto poder aquisitivo

A EFTA é formada por quatro países pequenos em população (cerca de 14 milhões de habitantes somados) mas com altíssimo PIB per capita, principalmente Suíça e Noruega. Isso significa que produtores do Mercosul — especialmente Brasil e Argentina — passam a ter acesso preferencial a consumidores que demandam produtos de alto valor agregado, como carnes premium, vinhos, frutas, grãos especiais, café gourmet e produtos orgânicos.

Diversificação de parceiros

Hoje, a pauta de exportação do Mercosul ainda é muito concentrada em China, União Europeia e EUA. A entrada em vigor do acordo amplia a diversificação de mercados, reduzindo riscos externos (como barreiras tarifárias e tensões comerciais) e ampliando a segurança para exportadores.

Benefício para o agro e indústria

O setor agropecuário é um dos grandes beneficiários:

Carnes bovina e suína, aves, laticínios e pescados ganham acesso com menos tarifas ou cotas ampliadas.

O setor automotivo e de máquinas agrícolas deve se beneficiar de menores custos de exportação de componentes e veículos.

Em contrapartida, a EFTA busca exportar produtos farmacêuticos, máquinas de precisão, produtos químicos finos, tecnologias médicas e bens de alto valor agregado, setores onde seus países são muito competitivos.

 Estímulo a pequenas e médias empresas

Empresas menores, que muitas vezes não conseguem arcar com tarifas e burocracias para exportar, poderão entrar nesses mercados com menos barreiras tarifárias, aproveitando nichos como alimentos orgânicos, cafés especiais e produtos de valor artesanal.

Investimentos e transferência de tecnologia

O capítulo de proteção de investimentos tende a favorecer a entrada de capital europeu nos países do Mercosul, especialmente em setores como:

  • Energia renovável;
  • Saúde e farmacêutico;
  • Startups de tecnologia;
  • Inovação em agricultura de precisão.

Isso pode gerar transferência de tecnologia, joint ventures e modernização de cadeias produtivas.

Compromissos ambientais

A EFTA costuma exigir cláusulas robustas de sustentabilidade. Isso deve estimular exportadores do Mercosul a melhorar padrões ambientais, como rastreabilidade de carne bovina, redução de desmatamento ilegal e certificações socioambientais.

É um ponto sensível, mas tende a valorizar produtos brasileiros no mercado global, abrindo portas para prêmios de preço em nichos sustentáveis.

 Potencial de ampliação do comércio

Atualmente, a corrente de comércio Mercosul–EFTA gira em torno de US$ 5 bilhões por ano.

Estimativas do Itamaraty e de entidades de comércio exterior apontam que o acordo pode elevar esse valor em 30% a 50% em 5 a 7 anos, dependendo da velocidade de ratificação e ajustes logísticos.

Principais desafios

Ratificação política: Cada país precisa aprovar o texto internamente — o que pode gerar atrasos

Serviço

Blocos envolvidos: Mercosul e EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein)

Data do anúncio: 2 de julho de 2025

Local: Buenos Aires, Argentina, durante a 66ª Cúpula do Mercosul

Início das negociações: 2017

Previsão de entrada em vigor: até 2026 (após ratificação)

Corrente de comércio atual: cerca de US$ 5 bilhões/ano

Setores beneficiados: Agropecuária, indústria automotiva, farmacêutica, tecnologia e bens de capital