O Ministério Público de São Paulo (MP‑SP) acusa o médico Luiz Antonio Garnica e a mãe dele, Elizabete Arrabaça, de envenenar a professora de pilates Larissa Rodrigues, em Ribeirão Preto, para evitar a partilha de bens depois que a vítima pediu o divórcio. De acordo com a Promotoria, quatro dias após o crime Garnica acessou as contas bancárias da esposa e iniciou o processo de quitação de parte do financiamento do apartamento do casal. A matéria foi publicada também pelo G1, que acompanha o caso desde a morte da professora.
Cronologia do caso
- 22 de março – Larissa morre em casa, após cerca de quinze dias recebendo, sem saber, doses do veneno conhecido como chumbinho misturadas a remédios e alimentos.
- 24 de março – Garnica acessa a conta bancária da esposa para pagar o IPVA do carro dela e consultar extratos.
- 26 de março – O médico comunica o falecimento à Caixa Econômica Federal para acionar o seguro e quitar parte do financiamento do imóvel.
- 30 de março – Ele gera um documento com nova senha para um portal de seguros no qual Larissa era cliente.
A Polícia Civil afirma que, logo depois da morte, o investigado passou a pesquisar na internet expressões como “seguros e operações imobiliárias”, “fundo de garantia e rescisão contratual pós‑falecimento” e “tabela Fipe do veículo Creta/2019”, evidenciando, segundo os investigadores, “fria preocupação” com o patrimônio da vítima. O gerente de um banco relatou ainda que Garnica gastou R$ 2,5 mil em uma farmácia usando o cartão de débito da professora.
Envenenamento premeditado
A Promotoria sustenta que, embora “apaixonado pela amante”, o médico “não aceitava o fim do relacionamento de 18 anos” com Larissa. Ele teria ameaçado “matá‑la com uma injeção letal” e “quebrar a casa” do casal.
Na véspera do crime, Larissa avisou por mensagem que buscaria um advogado “no início da semana” para formalizar a separação. Na mesma noite, Elizabete passou cerca de quatro horas no apartamento e, segundo o MP, aplicou a dose fatal:
“A Larissa foi sendo envenenada ao longo de 10, 15 dias, em doses menores. Mas naquela sexta‑feira a Larissa manifestou desejo de já na segunda‑feira procurar um advogado. Ali seria o final do relacionamento e a consequente partilha de bens comuns ao casal. A Elizabete vai até o apartamento e, lá, dá uma nova dose, presumimos, mais forte porque a Larissa vem a morrer na madrugada”, disse o promotor Marcus Túlio Nicolino.
Papel da sogra
Segundo a investigação, Elizabete considerava “injusta” a divisão dos bens e passou a administrar o veneno na comida da nora, a quem descreviam como “superprotetora e agindo a mando do filho”. Testemunhas contaram que Larissa se sentia mal “toda vez que a sogra a visitava” e que Garnica proibiu a esposa de procurar atendimento hospitalar.
A sogra também chegou a pedir dinheiro emprestado ao pai da vítima para cobrir a parcela do apartamento, pois o filho estava endividado. Outro agravante, revela a polícia, era a mesada de R$ 1,8 mil que Garnica pagava à amante, o que pressionaria ainda mais suas finanças em caso de divórcio.
Denúncia e prisão preventiva
Garnica e Elizabete tornaram‑se réus por feminicídio qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima). Eles estão presos desde 6 de maio; em 3 de julho, a Justiça converteu a prisão temporária em preventiva e quebrou o sigilo bancário de ambos e da vítima.
O médico também responde por fraude processual, acusado de ter alterado a cena do crime no dia em que Larissa foi encontrada morta.
O que dizem as defesas
Em nota conjunta, os advogados Bruno Corrêa e João Pedro Soares Damasceno, que representam Elizabete, afirmaram:
“Procuraremos retomar a liberdade de nossa cliente através das ferramentas legais disponíveis, para que ela possa responder a essa acusação e, eventuais outras, como a lei determina, solta.”
Já o advogado Júlio Mossin, defensor de Garnica, declarou que “a inocência do médico está comprovada nos autos” e sustentou que “a mãe do médico é a única responsável pelo crime e que ela agiu motivada pelo patrimônio do casal”. A defesa informou que vai impetrar habeas corpus no Tribunal de Justiça.
Próximos passos
Com a denúncia formalizada, o processo segue para a fase de instrução, quando serão ouvidas testemunhas e analisadas provas técnicas. Se o juiz acolher a denúncia e, após audiência, entender que há indícios suficientes de autoria e materialidade, os réus poderão ser levados a júri popular. Enquanto isso, eles permanecem detidos preventivamente.
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